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Olhei pela janela do meu apartamento. Já era madrugada e a lua cheia brilhava no céu. Naquela tarde eu dei aula no curso de redação intensivo e à noite não tive ânimo para ir malhar. Fiquei em casa corrigindo redações para me distrair. O bom foi que consegui adiantar muito trabalho.

No meio da minha insônia, criei coragem de abrir o meu presente: o conjunto de lingerie. "Uau" foi a minha reação. O lingerie era lindo e todo trabalhado. De seda e renda na cor branca perolada, com pérolas enfeitando as alças e o bojo do sutiã meia taça e a frente transparente da minúscula calcinha. Era um lingerie para seduzir um homem, não para usar no dia a dia.

Há algumas horas, Rafaela tinha me mandado a localização da casa da tia, onde aconteceria seu jantar de aniversário. Eu nunca duvidei da sua consideração em relação a mim e realmente gostava muito da minha aluna, mas não estava preparada para compartilhar um "momento família" ao lado de Rodrigo. Era sufocante pensar nessa ideia. Principalmente considerando o que tínhamos feito e sabendo que Rafaela tinha conhecimento disso. Será que, talvez, outras pessoas também soubessem? Não consegui dormir direito naquela noite, revirando na cama de um lado ao outro.

Na quarta-feira eu daria novamente aula para a turma de Rafaela. Entrei na sala com cara de poucos amigos, olheiras apavorantes e um mau humor terrível. Eu não pensava que a situação poderia piorar até que, de repente, no meio da segunda aula, um rapaz adentrou minha sala com um buquê enorme de rosas e outro trouxe uma cesta exagerada de café da manhã. Olhei para a turma, chocada, e perguntei quem era a sortuda. Ajudei o rapaz das flores segurando o buquê enquanto ele pegava uma pasta pequena de uma bolsa de lado.

— As flores e a cesta são para a professora Cristina Alves.

Se eu já estava chocada, fiquei ainda mais ao ouvir meu nome sair da boca do entregador.

— Que romântico! – gritou Marina, uma aluna.

— Parece que alguém está muito apaixonado! – disse Fernanda, outra garota.

— Depois fica perguntando quem é a sortuda! – debochou Rafaela e eu a fuzilei com os olhos.

A turma abandonou a calmaria de quem prestava atenção na aula para um alvoroço incontrolável enquanto eu assinava o recebimento daquela surpresa repentina e a colocava sobre a minha mesa. Havia um envelope pequeno junto às flores e meu estômago embrulhou pensando no que havia escrito. Quando os entregadores foram embora, eu pensei que não conseguiria mais retomar a aula.

— Quietos! – gritei, batendo o apagador no quadro branco – Eu disse para ficarem quietos! Se não se calarem, vou fazer uma prova surpresa a qualquer dia da semana valendo metade da prova oficial!

Alguns sussurros teimaram em dar o ar da graça, mas a maioria da turma silenciou. Eu era o tipo de professora que você ou estudava ou estudava para passar nas minhas provas e não queira receber a punição da prova surpresa, cuja ideia outros professores aderiram nas escolas com total apoio das diretorias e coordenações. Era muito difícil tirar a pontuação parcial na prova surpresa, que era cheia de perguntas ambíguas e interpretativas e questões pegadinha, que dirá tirar nota máxima.

— Isso é injusto, professora! – disse Karina, uma amiga de Rafaela – A senhora ganha um presente romântico e em vez de nos dar pontos de graça para comemorar, quer passar prova surpresa.

— Eu não dou ponto para ninguém, nunca, jamais. Se quiserem pontos, mereçam. Além disso, a cada trimestre eu faço uma olimpíada de Português e Redação, em que os três melhores lugares em cada categoria ganham dois pontos extras acumulativos na minha disciplina.

O IRMÃO DA MINHA ALUNA (VOL. 3 - SÉRIE OS IRMÃOS)Onde histórias criam vida. Descubra agora