Ariella Lavínia
Meu aniversário de 15 anos não poderia ter sido mais deprimente. Na verdade ninguém se lembrou e agora estou no jardim do orfanato onde fui deixada quando era recém nascida. No fundo, no fundo, eu não queria culpar minha mãe. Eu penso nos vários motivos por ela não me querer em sua vida.
A minha primeira teoria é que ela era pobre e não poderia me sustentar. ( Na verdade eu me apego tanto a isso que as vezes me dá até esperança).
Segunda teoria é que ela era alguma louca drogada que acabou engravidando "acidentalmente".
Terceira é aquela que eu não gosto muito de pensar mais afundo. Ela poderia ter morrido e algum familiar não me quis e me deixou aqui.
Quarta e última é a mais simples. Ela não gostava de mim.
Eu tento não ter raiva de uma pessoa que eu nem conheço, mas é quase impossível. Ela me fez sofrer a vida toda, tenho certeza que foi egoísta.Uma lágrima escorre, e com ela vem outras mais. Já são 5 horas da tarde e ninguém se deu conta do meu desaparecimento. Não culpa as freiras. Elas têm muitas crianças para cuidar, não tem tempo para uma adolescente chorona. As meninas da minha idade simplesmente não gostavam de mim, dizem que eu tenho aparência metida e fresca, depois que aprontei um monte então, aí que elas não queriam se aproximar de mim mesmo. Eu costumava a ficar triste, mas pensei no lado bom. Quando eu aprontava só eu me divertia.
- A esquisita deu de chorar agora. - levanto a cabeça vendo as três meninas mais insuportáveis que já conheci na vida. E olha que nem deu tempo de eu viver muito. Deve ter gente chata de todas as idades e cores, não é possível.
Amanda é a líder das três, é morena de cabelos castanhos escuros. Alice é a mais avoada, tenho até pena dela ser tão influenciada, é baixinha com quilos a mais para a sua altura, tem rosto bonito e redondo e possui cabelos encaracolados. Letícia é a mais magra, possui gostos estranhos para se vestir, é alta e também morena.
Elas se aproximam mais ainda caçoando de mim, por estar chorando. Limpo as lágrimas rapidamente respirando fundo, tentando ser o mais indiferente possível. Eu sei me proteger como ninguém, mas quando minha guarda está baixa, as pessoas parecem ter gosto de me chatear.
- Eu choro quando eu quiser. - falo de forma rápida e segura. Levanto do banco para ficar cara a cara com as medidas.
- Ah, ficou bravinha. - disse, Amanda.
- Aposto que a madre castigou ela de novo. - continuou Letícia.
- Não posso nem me lembrar da vara de goiaba da madre. Aquilo dói até na alma. - Alice faz careta de desgosto e as amigas olham pra ela em repreensão. - O quê? Dói mesmo.
Tenho vontade de rir, mas me seguro.
- A madre não me castigou, para a tristeza de vocês. Agora podem me deixar em paz? - olho para as três com pura indiferença e saio de perto antes que uma delas se pronunciar.
No caminho de volta para meu quarto, onde divido com mais cinco meninas, lembro-me de quando éramos pequenas. Amanda arrancou a cabeça da boneca de pano que era muito importante para mim, depois disso passei a odiar até sua voz. Nesse dia ainda fiquei de castigo no quartinho do silêncio por ter batido nela. Nem pra se defender presta. É uma fresca mesmo.
O bom é que a pouco tempo aprendi a dar pontos com agulha e acabei a costurando. Não está como era, mas com certeza é melhor do que sem cabeça.
Paro no pátio vendo a movimentação intensa das crianças menores me chamando a atenção. Estão mais pestinhas do que de costume.
Ao longe vejo uma mulher andando, ou melhor, tentando movimentar as pernas para passar entre elas. Fico curiosa no mesmo momento. Já tinha uns dois meses que ninguém adotava mais.
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Flama - Paixão que Enlouquece
Storie d'amoreAriella L. Ribeiro é uma típica moça brasileira do norte do país, mas que partiu para Toronto em busca de recomeçar sua vida longe do Brasil. Tendo em mente em seguir com sua vida na simplicidade, a moça conseguiu um emprego de recepcionista em umas...