Não me esqueça

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Essa história é originalmente escrita por linhocas 

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Faziam três dias que eu vivia um dilema interno, para resumir minha vida. Os girassóis haviam morrido, porque eu não soube como cuidar, e olha que realmente tentei, mas certamente não fui feita para cuidar de outro ser, só que esse não é o real problema, acontece que enquanto as flores estivessem amarelinhas e radiantes eu tinha uma desculpa para mim mesma de que não haviam motivos para querer ir ao parque novamente, e é claro que se eu quisesse uma flor poderia simplesmente ir à uma floricultura qualquer e comprar a planta, mas era ai que o problema começava. Eu não queria uma flor qualquer, queria uma flor de Gabriela, pois assim teria uma desculpa para vê-la. E o problema só aumentava, pois já fazia três dias que ela havia dito para eu voltar e eu não voltei, então presumo que no momento sou a última pessoa para quem ela quer dar uma flor, e o clima que aparentava chuva vindo não ajudava nem um pouco - faça chuva ou faça Sol, ela sempre estará lá entregando flores - lembrei das palavras de Rafa sobre Gabie, que fez meu peito palpitar.

Ela estaria lá, e eu também.

***

Peguei meu guarda-chuva, as chaves, o celular e saí porta a fora para o parque. A única explicação é que a loucura da garota é contagiosa, e eu peguei.

Não haviam muitas pessoas lá aquele dia, só algumas que faziam caminho por ele de vez em quando. Eu era a única maluca sentada lá, em dia com previsão de chuva, porém mesmo assim sentei-me no mesmo banco com o guarda-chuva em mãos, caso começasse a chover repentinamente e esperei. 

Esperei por uns vinte minutos até que a vi de longe. Vestia uma calça preta, uma blusa branca mais curtinha e uma capa de chuva transparente, o que ninguém além de uma criança usa nos dias de hoje, e que provavelmente não iria protege-lá muito bem da chuva. Ela entregava flores sem pressa para as poucas pessoas que encontrava, como se não pudesse chover a qualquer instante. Pensei em esperar ela vir falar comigo como nas outras vezes, mas ela me viu e passou reto.

- Hey. - Levantei do banco andando atrás dela. - Não vai falar comigo?

- Você não voltou. - Ela diz sem parar de andar e sem olhar para mim.

- Claro que voltei, estou aqui.

- Levou três dias.

- Eu não disse quando voltaria, nem sequer disse se voltaria. - Ela parou de andar, mas não olhou para mim, fiz a volta parando em sua frente. - Então você queria que eu tivesse voltado antes? - Eu disse sorrindo, mas ela não me olhou.

- Eu tinha trazido as mesmas no outro dia, mas você não apareceu então eu troquei. - Ela pegou um ramo de flor do cesto. Não eram girassóis. Entregou-me as flores e saiu andando.

- Espera, sem frase? Nenhuma história ou lenda? Só me entregar e simplesmente ir embora? - Digo apressando o passo para acompanha-la. - E por que depois que eu não vim você trocou a flor?

- Muitas perguntas Thalita. - Ela fala ainda andando na minha frente.

- E você pretende responder nenhuma, não é mesmo?

- Qual delas você quer que eu responda? - Me surpreendi com ela se virando repentinamente, o que fez com que eu parasse de supetão, ficando bem perto dela.

- Todas elas. - Finalmente pude ver seus olhos de perto novamente, eles não estavam tão claros como nos outros dias, não estavam cheios de vida. Tinham uma coloração mais clara, mais calma e mais pesada.

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