Capítulo 4

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Bay View não era um lugar isento de crenças, muito pelo contrário

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Bay View não era um lugar isento de crenças, muito pelo contrário. Assim como na maioria das pequenas cidades, o tempo economizado com grandes festas, engarrafamentos quilométricos e com filas complicadas, era utilizado para cultivar todo tipo de crença e história difamatória. Na pacata cidade as pessoas costumavam colocar montinhos sal nos cantos das casas, deixar mel e biscoitos embaixo de árvores velhas e cobrir espelhos que ficam nos quartos. Amy nunca acreditara na crença de que a alma de alguém podia se perder em um espelho caso ela dormisse perto de um, mas agora ela se perguntava se ela mesma não havia perdido a própria alma sem que notasse. A menina que lhe encarava no espelho em nada lembrava ela mesma. Estava mais magra, mas não de um jeito saudável, seus cabelos que sempre foram bem cuidados estavam longos e sujos, havia sujeira sob suas unhas e os olhos estavam vermelhos e inchados com bolsões escuros a lhes fazer companhia. 

Na manhã passada, quando a policia foi chamada, ela se sentiu assustada. O coração martelava no peito e mesmo com o rosto ainda molhado pelas lágrimas ela se vestiu e desceu. Respirou fundo e tentou parecer desolada pelos motivos certos, afinal ela devia estar desolada pelo sumiço da mãe, era uma coisa importante. O policial Harper estava lá, com a mesma expressão indiferente que usara no dia do incidente, no entanto, ele parecia diferente de certa forma, talvez menos cretino e essa mudança Amy atribuiu à influência de sua nova parceira, a policial Ishikawa. Se Amy não soubesse que a mulher era bem mais velha, com certeza tomaria Ishikawa por uma adolescente. Ela era pequena e tinha um rosto quase atemporal, sem qualquer maquiagem, com a franja reta enfatizando os olhos quase negros. Amy fungou uma última vez e olhou de relance pra vizinha amiga de sua mãe, o roupão meio frouxo mostrando boa parte de seus seios e da clavícula protuberante,  não fazia muito tempo desde que aquela vizinha parara de frequentar a sua casa. A policial sorriu apologeticamente antes de chamá-la pro escritório do pai, que estava sendo utilizado para falar com cada um em particular, com um gesto.

Apesar de aquele ser o escritório do pai, não havia ali nada relacionado ao seu trabalho ou qualquer documento mais importante do que uma cartela de vacinação. Na verdade, era chamado de escritório apenas por falta de um termo melhor para descrever o cômodo iluminado, com o conjunto branco de sofás, as estantes grandes e aquela escrivaninha que era polida toda semana com um óleo especial para madeiras caras. A policial sentou no sofá maior tirando o bloco de anotações de cima da mesa e gesticulando para que a garota sentasse na poltrona ao seu lado. Amy enrijeceu e sentou ao lado da mulher, no sofá e não naquela poltrona.

- Qual foi a última vez que você viu a sua mãe? - perguntou a policial, entendiada por ter que fazer aquele tipo de pergunta.

Amy refletiu sobre o assunto, não lembrava a última vez em que vira a mãe, talvez mês passado, mas não tinha certeza, podia ser também no mês anterior a este. Ela vagamente lembrava de um jantar com o dono de uma das empresas que prestavam serviço pra cidade, fora numa sexta? Só sabia que havia acontecido depois da aula. De qualquer forma, não seria ela a discutir aquele tópico, ao menos não com uma estranha.

Rosas azuis não existemWhere stories live. Discover now