Capítulo 5

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A cabeça de Megan pulsava ao mesmo ritmo da música que tocava no apartamento vizinho ao seu

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A cabeça de Megan pulsava ao mesmo ritmo da música que tocava no apartamento vizinho ao seu. Sair das belas mansões e fazendas para voltar à sua pequena morada no conjunto habitacional próximo ao mercadinho era sem dúvida alguma um choque de realidade. Enquanto passava o dia inteiro vendo gramados aparados e cercas pintadas, suas noites eram reservadas ao minúsculo apartamento cujas paredes eram manchada por conta da umidade e geralmente ela se via no dilema moral de ameaçar os vizinhos barulhentos com seu distintivo ou fingir que nada estava acontecendo e voltar a fazer o que estava fazendo antes do barulho irritante que começava por volta das 22. Sentou-se em seu sofá cor de vinho e soltou um suspiro cansado enquanto massageava as têmporas impacientemente.

Nada do seu caso mais recente lhe fazia muito sentido, afinal, donas de casa de classe média fogem o tempo todo, raspam a poupança da faculdade dos filhos e fogem com algum paisagista ou decorador pra morar em algum lugar mais interessante e viver uma vida completamente diferente. No início ela estivera convencida de que aquele era o caso da mulher do prefeito, por que não? Ela era linda e adorada na cidade, mas isso não impedia que ela tivesse um caso extraconjugal, os filhos sem dúvida alguma sabiam de coisas que não queriam lhe contar, mas no geral todos pareceram céticos à ideia de uma fuga proposital. Não que civis fossem muito bons em investigações, a maioria das pessoas tem um segredinho ou dois que escondem de todos e ela fora treinada para achar aquele tipo de coisa, mas de certo modo começara a lhe parecer errada a ideia de que a mulher simplesmente fugira sem deixar qualquer rastro. E o que tinha até agora? Um monte de depoimentos e talvez um perfil da desaparecida.

Em cima de sua mesinha de centro uma bela mulher loira a encarava com um grande sorriso no rosto, fora lhe dada uma foto de família onde a mulher com um vestido azul, que combinava perfeitamente com seus olhos azuis como um céu de verão, abraçava uma garotinha igualmente loira, o braço de seu marido repousando sobre seus ombros e o garoto de cara feia em um canto mais afastado. Ela insistira em uma foto mais recente, mas se a esposa fosse como o marido continuaria com o mesmo rosto mesmo após tantos anos. Era difícil pensar em alguém daquele tipo fugindo, mas mulheres ficam ensatisfeitas com suas vidas de vez em quando e pelo que colhera a vida daquela mulher em particular lhe parecia bastante cansativa. Filha mais velha de um grande fazendeiro da região e de uma artista francesa que voltara para a Europa quando as duas filhas ainda eram crianças, Erica lhe parecera uma pessoa bastante responsável em relação a família e deveres, uma mãe absolutamente perfeita, uma filha gentil e irmã atenciosa. A melhor aluna da escola por que não? Um diploma em uma ótima faculdade, casada com o prefeito há cerca de 25 anos, mantinha ótimas relações com os vizinhos que a descreviam como doce, educada e prestativa como uma boa dama do sul.

Mas tinha que ter algo, não tinha? Pessoas reais não eram perfeitas daquele jeito, era surreal a perspectiva de ter a boneca Barbie em um caso de pessoa desaparecida. A infância da mulher lhe lembrava um pouco a sua, mas obviamente sua infância tivera um final bem diferente... ela era descendente de japoneses afinal. Os pais que nasceram no início da segunda guerra sofreram muito mais do que ela obviamente, mas toda a sua infância fora marcada por olhares infames e sussurros estranhos, ali estava a filha de japoneses, como eles tinham coragem de pôr os pés nos Estados Unidos e ter filhos depois de Pearl Harbor. A guerra havia acabado há anos, mas as cicatrizes continuavam nos corações das pessoas, os mais velhos lembrando os mais novos do que nunca deveriam esquecer:  é necessário oprimir, mantenha-os sob controle para que o que houve no passado não volte a acontecer, e por isso Megan costumava não falar da escola para os pais. Enquanto a doce Erica mantinha suas notas perfeitas para orgulhar o pai, a pequena Megan precisava se manter sempre no topo para que não pisassem nela como o inseto que consideravam que ela fosse. Fazia tantos anos que não pensava em seus tempos de escola, era nostálgico e assustador lembrar de como era frágil e delicada naquele tempo, sempre prestes a desmoronar com as palavras maldosas e atitudes pensadas para machucá-la.

Balançou a cabeça rapidamente, aquilo não era sobre ela, precisava focar na mulher, mas tudo parecia levar a um beco sem saída, alguém não estava lhe dizendo tudo e ela não podia se dar ao luxo de ter informações omitidas, caso aquela mulher estivesse em perigo verdadeiro precisava ser encontrada o mais rápido possível. Megan decidiu naquele momento, sentada em seu sofá, que precisava pressionar o lado mais fraco daquela parede de emissão e por um momento em sua cabeça passou a imagem de uma adolescente loira e assustada... bem, era um começo.


Rosas azuis não existemWhere stories live. Discover now