As Crônicas das Sete Chamas - Amor filial

Capítulo um - O Garoto e o Velho

Os aplausos eram altos, mas não tão altos quanto os gritos de todos ali quando viram uma lâmina prateada perfurar o peito daquele homem. O sangue vermelho se misturou ao colar dourado, enquanto os outros membros da Ordem afastavam-se catatônicos com o que tinha acabado de acontecer. Das sombras, uma figura encapuzada de roupas pretas chutou o corpo do homem à nossa frente em direção ao chão, enquanto seu sangue cobria o terno e o palco em si. A música parou, assim como os gritos que cessaram por alguns segundos, para que um pensamento invadisse a mente de todos. O Grande Mestre Internacional estava morto.

...

O alarme disparou ao meu lado no celular, era minha música padrão para que eu não acordasse com vontade de cortar meus pulsos pela manhã afinal se houvesse algum ser humano que gostava de acordar tão cedo para ir à escola ele provavelmente tinha tendências suicidas ou algum déficit de bom senso no cérebro. Por sorte, estava tocando Hooked On a Feeling do Blue Swede como despertador, uma das bandas que deixava minhas manhãs menos insuportáveis e por isso eu acabei criando uma playlist vasta com esse tipo de música para manter o ritmo de felicidade e devia muito ao filme dos Guardiões da Galáxia por me proporcionar isso principalmente por ser em um dia tão difícil como era o de hoje. Minha mão foi até o celular desligando o alarme e logo que de imediato pude ouvir a voz familiar que me acordava com meu alarme funcionando ou não.

- Nate, você vai se atrasar. - Falou a senhora minha mãe da cozinha.

- Certo... - Dei um bocejo e me levantei. Meu quarto estava uma bagunça que eu poderia facilmente colocar a culpa na mudança repentina de bairro que minha mãe arrumou para nós, mas a verdade é que o quarto bagunçado era minha "identidade de adolescente", costumeiro dizer que era uma desculpa mascarada padrão para usar contra minha mãe quando ela me repreendia sobre a arrumação, o que obviamente não funcionava com a dona da casa. Amontoados de caixas com várias coisas espalhadas decoravam o quarto, desde quadrinhos de heróis até livros antigos de escola, uma bola de basquete e meu computador em cima de uma mesa improvisada que ela arrumou era o mais próximo de "quarto normal" que se tinha ali e se não fosse isso, quem entrava podia jurar que era um lar de mendigos. Era um quarto pequeno comparado ao meu último, mas suficiente para caber tudo isso e um pequeno roupeiro de cor vermelha com vários desenhos de várias cores espalhados por ele em forma de grafite, muito mais nomes do que artes em si que foi resultado de uma brincadeira com alguns amigos. Me levantei e fui até o espelho no roupeiro e dei uma boa olhada em mim, um garoto de dezesseis anos com sérios problemas em pentear o cabelo preto apesar de ser curto, meus olhos castanhos estavam quase tão escuros quanto minhas olheiras. Usava uma camisa azul desbotada com uma grande imagem do escudo do Capitão América, ela estava com alguns furos rasgados pequenos e com marcas de pichações semelhantes ao roupeiro, como a mudança foi pela noite não tive tempo de trocar de roupa quando terminei de trazer as caixas para o quarto, então simplesmente caí no sono na cama como um bom garoto da minha idade. Olhei para algumas fotos pregadas no espelho do roupeiro que mostravam meus amigos e eu na época do East School, os únicos três para ser exato. Em uma delas eu estava preso de cabeça para baixo em uma cadeira que tinha quebrado durante a aula quando me sentei e eles aproveitaram o momento para bater fotos, outra era eu e eles fantasiados de MIB Homens de Preto durante o Halloween com direito a óculos escuros e armas de laser improvisadas com latas de creme de barbear e de desodorantes. E a última era na minha despedida da escola já que não iria mais estudar com eles, mas claro que os otários não iriam deixar isso passar limpo, com algumas placas feitas de papelão improvisado do meu lado com as palavras "traidor" e "playboy" escritos em tinta preta de grafite a minha vergonha foi eternizada. Era uma piada interna pois minha mãe tinha conseguido uma vaga em uma escola privada na cidade, então seria bom para meu futuro e apesar de meus amigos entenderem, não perdiam a oportunidade de tirar uma com a minha cara. Apesar de todas as idiotices, eu estava com muitas saudades deles, infelizmente ver eles é bem mais complicado agora já que todos moravam do outro lado da cidade, mas as vezes ainda saíamos, o triste era que com menos frequência cada vez mais. Passei mão no rosto mexendo nas pálpebras dos olhos para forçar um despertar de verdade e então olhei para o celular que marcava seis horas da manhã, tomando assim a coragem que faltava para sair do quarto.