Capítulo cinco - A promessa para aqueles que partem

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- O-onde achou isso? - Ela tentou falar com seriedade, mas a voz saiu muito mais trêmula e amedrontada do que esperava. Me olhou com cautela como se analisasse cada movimentação do meu rosto tentando ler ele e então quando eu abri a boca para falar algo, ela encheu o pulmão de ar e soltou um suspiro de olhos fechados em seguida largou os livros no chão e foi em direção a cozinha. Meus olhos acompanharam ela que pegou uma das cadeiras de lá e trouxe até a sala colocando-a na minha frente. Quando se sentou desabotoou o terno que usava e tirou o cartão de identificação da escola que dava aula o colocando em cima dos livros agora derrubados no chão enquanto os olhos agora estavam encarando o mesmo. Era como se tivesse encontrado uma prova de crime contra ela, nunca a vi tão nervosa e a quietação dela estava começando e me incomodar também.

Ela finalmente levantou o olhar em minha direção, os olhos castanhos faiscaram ao me encarar e se conhecia minha mãe eu iria tomar uma das maiores broncas da minha vida talvez eu tivesse ido longe demais e estava prestes a me desculpar quando ouvi.

- O que sabe sobre as Filhas de Jó? - Agora seu ar mudou para um sombrio intenso, engoli o nervosismo e então contei tudo à ela, inclusive sobre a briga e motivo dela ter acontecido, sobre a Ordem DeMolay e que fui convidado a entrar, mas falei que iria negar o convite assim que voltasse para a escola e que pesquisando acabei encontrando na internet as informações sobre as Filhas de Jó o que me levou até a foto que por acaso acabou surgindo em minhas lembranças. Ela ouviu tudo com uma muita atenção, uma atenção que chegava a ser cautelosa, em outras palavras era como se tivesse trocado de lugar com ela e eu fosse o professor. Não vi motivo para contar sobre as tais coisas que vi e se contasse iria comprovar que estava louco e aceitar que meu próximo passeio com ela seria em um manicômio.

- Então você foi convidado para a Ordem DeMolay... - A melancolia em suas palavras agora era transparente o que me deixou inquieto, mas então um sorriso doce se formou em seus lábios em segundos e ela disse - Eu quero lhe contar uma história... A história de como eu conheci seu pai. Eu tenho escondido isso de você a muito tempo e acho que já está na hora de saber a verdade... – Ouvimos então um estalar de um dos dois cadeados sendo aberto, olhamos para onde vinha o barulho simultaneamente e vimos que era da porta de entrada que minha mãe tinha acabado de trancar, o que significava que estavam invadindo. Meu coração se apertou e me levantei em um pulo puxando o celular pronto para ligar para a Polícia quando ela falou.

- Vá para o seu quarto e não faça barulho, não ligue para ninguém, espere que eu vou até você quando resolver isso. – Minha vontade nesse momento foi de questionar ela e contraria-la, mas então ela me deu um olhar tão frio e autoritário que eu até então sequer imaginava que podia vir de minha mãe o que fez com que eu acabasse seguindo suas ordens e indo para o quarto e o trancasse, mas me mantive com o ouvido encostado na porta tentando ouvir algo. Mesmo com o celular na mão eu não consegui ligar para a Polícia, algo me dizia que devia confiar em minha mãe, mas ainda sim mantive ele nas mãos.

- Tentar invadir a casa das pessoas não faz bem à moda da Maçonaria, não acham? – Disse minha mãe com a voz irritada.

Pude ouvir então a porta sendo aberta não com um arrombo, mas com calma o que me fez imaginar que ela abriu por vontade própria. Vários passos começaram a surgir, alguns andavam devagar e outros acelerados e impacientes.

- Acho que as coisas ficam melhores se houver diplomacia, não é mesmo? – Disse minha mãe com a voz mais tranquila agora. – Quem está no comando dessa operação?

Os barulhos que os passos das pessoas faziam então sessou pôr em um segundo e foram acompanhados por um outro que andava devagar, porém firme.

- Eu, senhorita... – Falou uma voz de homem mais velha, grossa e imponente. A voz da minha mãe ficou muda por alguns segundos, como se visse um fantasma - Número de registro. –Ele continuou.

As Crônicas das Sete Chamas - Amor filialOnde histórias criam vida. Descubra agora