"Sozinha num lugar de infância, preenchida com cada sentimento ruim que poderia ter, percebo que ninguém perceberia se eu sumisse agora, só notariam mais tarde. Tarde de mais.
Perdi as contas de quantas vezes me debrucei aqui, olhando pra baixo, com medo de cair. Com todos os medos que tenho agora, cair de tão alto parece uma queda bem menor.
Nunca pensei que o ponto mais depressivo da minha vida seria aqui. Pensei que tivesse sido naquele dia em Paquetá. Mas aqui estou eu agora, me balançando num balanço que conheço muito bem, chorando, escutando uma música que diz "se você me amava, por que me deixou?" e insistindo com todas as minhas forças pra que ele não morra.
Minha perna dói dos socos que me dei de ódio. A blusa roça no relevo dos arranhados no meu ombro. A calça pinica nos cortes na cintura.
Minha roupa esconde minhas cicatrizes como eu sempre escondi meus pensamentos. É fácil de descobrir, mas não deixo todo mundo fazer isso.
Eu sei. Eu sei que ele não quis dizer aquilo que disse. Eu sei que ele não quer aquilo.
Eu vou me balançar nesse brinquedo como se fosse a última vez. Talvez possa ser, e se for, eu sinto muito. Por tudo.
Eu só queria ser criança de novo."
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Contos que não conto (rants, eu acho)
AcakEu tenho muita coisa pra dizer, mas nem sempre digo. Meus devaneios e anseios estão aqui. E poemas.