Capítulo 3

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Heloisa

Virei para o lado e Julia havia sumido, estava de papo em uma rodinha de amigos. Enquanto imaginava que ela estivesse ali do meu lado me sentia segura, mas foi eu perceber que estava sozinha com Renato para o meu desespero dar as caras e eu fazer a pior de todas as perguntas da vida.

— Por que não se reuni com a sua família ao invés dos seus funcionários?

Renato levou a mão em seu cabelo e o alisou constrangido.

Heloisa sua idiota! Claro que minha mente me recriminou, ela não iria deixar em branco algo assim.

— Bom! Minha família não comemora mais a virada do ano, nunca te contei mais foi nesse dia que meu pai faleceu e para não me sentir tão solitário e tentar esquecer é que convido todos a passar a virada comigo.

Engoli em seco.

— Me perdoe, Renato! Eu não podia imaginar, do contrário não teria feito uma pergunta tão indelicada assim.

— Tudo bem Heloisa, um dia você ia acabar me fazendo essa pergunta, e conhecendo você como conheço isso até demorou.

— Nossa como sou insensível!

— Não! Não é. — Sorriu.

— Senhor ilustríssimo Deputado Zé Renato Avelar! — Disse um de seus convidados cumprimentando-o e tirando-o de mim, o que era bom durava muito pouco.

Dei um jeito todo meu e fui afastando-me deles, caminhei até a mesa de frutas e apanhei dela um cachinho de uvas e fui degustando os bagos enquanto que meus olhos não conseguiam se desviar daquele homem que mesmo estando sempre ao seu lado ainda era uma incógnita para mim. Se em dias de trabalho normal no gabinete ele já me deixava sem ar, em ambientes festivos as coisas só pioravam. Percebi quando ele se virou procurando-me, e em seguida levou seus olhos em todos os cantos até que me achou. Não fez nenhum tipo de gesto que demostrasse sua satisfação em me ter em seu campo de visão novamente, mas percebi claramente que ele havia me procurado, e aquilo estava começando a me deixar nervosa. Por que depois de anos, só agora ele estaria me olhando diferente? Perguntas que não calariam.

Julia veio novamente me fazer companhia, estava me sentindo deslocada, pois em cada canto um grupinho diferente e mesmo que eu conhecesse bem cada um deles, não me sentia bem no meio de nenhum deles.

— E então, do que falavam? Me diga que ele se declarou para você, pois se não fez isso, os olhos dele fizerem por ele.

Cocei a testa e a respondi:

— É claro que ele não fez isso, por que faria? Você está vendo coisas onde não existe.

— Sei! Fique com a sua cegueira porque eu estou vendo nitidamente, aliás, vi isso o fim de semana todo, só você que se faz de boba.

— Você não acha que se existisse a mínima chance de ele estar interessado em mim ele já não teria me dito?

— Helôoo! Acorda garota, você tem 28 anos e parece uma mocinha de 18. Você estava com o Antônio até dois meses atrás, como queria que o Renato se declarasse?

— Para de dizer bobagens, Julia! — Levei uma uva na boca e ela explodiu enchendo minha boca de sumo vindo a pingar sem querer no meu macacão.

— Ai que merda! Eu sabia que algo assim iria acontecer. Deus! Já perdi meu macacão novinho e a culpa foi toda sua que me deixou nervosa.

— Minha?!

— Sua sim!

Julia pegou um guardanapo de pano em cima da mesa e veio rapidamente me limpar, dizendo:

— Amiga do céu, como é que você consegue ser tão desastrada assim?

Ela me limpava enquanto fiquei prestando atenção no Renato, que olhava divertido rindo de mim, então ele conferiu às horas, pegou uma garrafa de champanhe, sorriu discretamente para mim e se virou indo em direção a porta que daria diretamente para o mar.

— Pronto! Lá se vai a cereja do bolo! — falei ressentida, pois não me lembrava de voltar a vê-lo nas outras festas depois que ele desaparecia.

— Helô, deixa de ser boba, vai atrás do seu homem.

— Meu? — questionei franzindo a testa.

— Sim senhora.

— Aquele homem nunca será meu, acorda Julia.

— Seu ou não você deveria ir atrás dele, antes que outra vá.

— Não sei não! Se ele se afasta é por que não quer companhia nenhuma. — Retruquei.

— Ele não tirou os olhos de você a festa toda e o final de semana todo, se ficar aqui feito uma idiota jamais vai descobrir o que se passa pela cabeça dele. Além do mais, se não for nada disso...

— Eu estrago nossa relação profissional! — a interrompi rapidamente.

— Nossa, deixa de ser tão pessimista mulher. — Ralhou.

Suspirei enchendo-me de coragem e a respondi:

— Você tem razão, do mais já me cansei desse lance dele se afastar no momento da virada.

— Vai lá porque faltam só alguns minutos, de repente você nem irá encontrá-lo.

— É eu vou, mas se der ruim nunca vou te perdoar por isso.

Saí pela mesma porta que ele havia saído, desci os degraus que dariam acesso a areia e fiquei ponderando sobre o fato de estar de salto, então eu os tirei dos meus pés e os coloquei no degrau. Pisei na areia e elas estavam frias em contato com meus pés quentes, caminhei alguns metros até o mar e deixei meus pés serem tocados pela espuma da onda que havia quebrado.

Olhei para minha direita e não o vi, teria visto ele facilmente, pois tudo ali era bem iluminado com fachos de luz dos holofotes. Olhei para a esquerda e também não vi, mas me decidi por seguir pela esquerda pois havia algumas pedras e deduzi que ele pudesse estar atrás dela. Caminhei pela beirada do mar sentindo a água tocar-me com calmaria. O ar estava fresco e a brisa deliciosa. No céu uma linda lua cheia fazia jus a todo o cenário maravilhoso.

Assim que me aproximei das enormes rochas, olhei em todas as direções e não o avistei, então o chamei: Zé! Está por aqui?

De imediato obtive sua resposta:

— Aqui em cima, Helô! — respondeu de cima de uma pedra enorme. — Dê a volta que te ajudo a subir aqui.

 — Dê a volta que te ajudo a subir aqui

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