A madrugada

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Este poema se trata do luto e se por motivos pessoais você se sentir desconfortável em ler coisas deste gênero, por favor, apenas não leia. Combinado?
Para o caso de precisar de um ombro amigo para conversar, é só me chamar
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A madrugada vem rastejando
Bem lentamente
Até a porta da frente
E ela não bate
Ela empurra
Ela quebra
Arrebenta

Entra como um ladrão furioso
Com um pacote em mãos
Se senta na antiga poltrona
Acende um charuto
E sorri para mim cheia de malícia

Eu à encaro da mesma forma
Que me encarei no espelho
Durante horas e horas
Vestida de preto
Afogando-me no luto eminente

O pacote é lançado sobre mim
Sem nenhum pingo de gentilesa
Muito parecido com o golpe áspero
Que me acertou
No dia em que você se foi

E depois de abri-lo
Como sempre faço teimosamente
Sei que agora será uma noite
Com tuas memórias vivas
Em minhas lembranças

Eu pisco
E vejo o teu sorriso
Durmo
E ali está você

Meus sonhos se tornaram traiçoeiros
Se parecem tanto com o conforto
Pois ali você vive
Mas quando acordo
E minha primeira visão
É um quarto vazio
Mais uma vez a saudade me enlaça
Fazendo-me de companheira
Pelo resto do dia

Não é apenas difícil viver sem você
É enlouquecedor
Beirando o absurdo
Tomando de mim
Meus fios de sanidade

Peço aos céus para que em breve
Minhas roupas
Agora pretas
Algum dia se tornem novamente
Tons florais

E que a angústia possa ser lavada
Como as folhas secas que caem
Em uma calçada nos dias de chuva

Espero um dia poder te reencontrar
Mais te imploro por agora
Me deixe descansar
Me liberte dos pesadelos
Me permita sonhar
E viver uma noite
Sem voltar a te lembrar

-As faces do luto

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