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Não esqueçam de ler o capítulo anterior!


Já fazem alguns dias desde que sai do hospital. Talvez algumas semanas. Não tenho tido muita noção de tempo desde que a última coisa que eu faço é sair de casa. Não porque eu estava tentando evitar todo mundo ou pessoas no geral, mas porque eu precisava fazer muitas coisas se quisesse me formar até o início de Julho. A treinadora May se encarregou de me mandar todos os trabalhos e provas, diretamente do e-mail. Além do mais, a antiga diretora voltou para o seu cargo, como prometeu que voltaria no final do ano letivo. May me contou que ela teve uma conversa bem intensa com os professores que estavam tentando implicar sobre me ajudar a conseguir ter o diploma de conclusão do ensino médio. Quero dizer, dá para acreditar? Só porque sou uma vadia, devo ser impedida de ser estudada? Nunca na minha vida! Bom, minha nova terapeuta disse que eu não devo ficar me depreciando ao me chamar desse adjetivo pejorativo, mas se todo mundo me chama assim, devo me habituar para não ser atingida, não é mesmo? Irei fazer igual a Fat Amy (lê-se Amy Gorda) em A Escolha Perfeita. Ela se apresenta com o adjetivo gorda para que ninguém a chame pelas costas. Parece ser um bom remédio, devido a autoconfiança que ela aparenta ter no filme.

O psiquiatra me receitou dois remédios, um deles para dormir. Também sugeriu um antidepressivo, mas disse que estaria a minha escolha tomá-lo ou não. E eu escolhi não tomar. Pelo menos por agora, sim. Matt quem está controlando os meus horários dos remédios e pensa que eu não percebo. Entendo que meus pais tenham medo que eu faça o mesmo da última vez, mas como eles me perguntam todo santo dia se está tudo bem, imagino que Matt faça aquilo porque quer. Não porque alguém pediu. Quando notei que ele estava me vigiando, fiquei meio brava. Mas agora, honestamente, até gosto que ele faça isso. Não posso mais enganar as pessoas ao meu redor e muito menos a mim mesma, que sou a maior prejudicada nisso tudo. Não posso ficar com receio de tomar um remédio pelo efeito que me causará a longo prazo. Eu preciso me preocupar com o agora. Com a minha saúde física e mental agora. Escuto frases prontas de Facebook o tempo inteiro dos profissionais que têm me cercado ultimamente. Eles me dizem coisas que eu sei, mas me dei conta de que me superestimo demais com o entendimento dessas frases. Não é útil apenas escutá-las. Preciso acreditar que, colocando em prática, muita coisa pode melhorar.

Deus não coloca nenhum obstáculo em sua vida que você não possa ultrapassar. Na maioria das vezes, esses obstáculos são enormes. Algumas vezes são feitos de pedras ou concreto. Outras, de vidro. Os de vidro são os que mais parecem difíceis de quebrar, como se fosse o fim de algo. O fim da esperança. No final das contas, podemos quebrar o vidro. Remover as pedras. Emprestar a ajuda de uma marreta e alguns empreiteiros para quebrar o concreto. Ou até uma britadeira! Mas uma coisa é certa: nada é impossível. Se foi colocado sobre nossas cabeças, é porque podemos superar. Por mais terrível que seja, por mais improvável que pareça.

— Alicia, pode atender a porta? — escuto meu pai gritar do andar de cima e levanto do sofá, estranhando visita às oito da manhã de um sábado.

Franzo a testa ao ver quatro rapazes com equipamentos grandes nas costas.

— Acho que vocês erraram de apartamento. — digo e me apresso a fechar a porta, mas meu pai desce as escadas rápido. Estranho ainda mais quando ele me diz para ir ao quarto.

Mas obedeço. Bom, mais ou menos. Entro de fininho no quarto da Sophie, sabendo que a pequena pode ser pequena, mas sabe de tudo que acontece nessa casa. Acho que ela tem supersentidos e esqueceu de me contar. Ela solta uma risadinha, provavelmente sabendo o que irei perguntar.

— Quem são eles?

— Terá um jantar aqui hoje. Da empresa do papai. — diz. Entendo tudo. — Como você sabe, a mamãe não está de acordo com isso, assim como você.

Los[t] AngelsOnde histórias criam vida. Descubra agora