Capítulo 11

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  Débora fora acordada por sons grotescos vindo do lado de fora do seu quarto. Ela se levantou e, meio cambaleante, saiu para o corredor seguindo os gemidos até chegar a porta do banheiro.

Pela fresta, pôde ver Alex ajoelhado no chão segurando a privada enquanto expelia o vômito na mesma.

— Alex, está tudo bem? - Perguntou, não se importando em demonstrar preocupação com aquele que lhe causava muito sofrimento. 

— E-Eu... - Mais uma onda de vômito o interrompeu, projetando seu corpo para frente. Debbie desviou o olhar, chocada demais com a visão. — Eu vou ficar bem. - conseguiu falar, enquanto limpava o canto da boca que constava respingos da bile.

— Será que um dia você vai parar de se degradar desse jeito? - Debbie perguntou antes de perder a coragem. Alex deixou um suspiro triste escapar dos lábios.

— Acho que já é tarde demais para mim.

  E com essa resposta, ela retornou para o quarto sentindo um aperto no peito que logo se transformou em tímidas lágrimas que escorreram dos olhos até o queixo.

Quando foi que ele se perdeu assim? Quando foi que eu o perdi? - ela se perguntava com a raiva mesclada a tristeza.
*

Débora terminou de se arrumar e foi para a cozinha preparar algo para comer, ela tinha que ser rápida se quisesse chegar a tempo no ponto de ônibus.

Colocou um pão de forma com mussarela e presunto na sanduichera e esperou algum tempo até retirá-lo. Ela gostava das coisas em meio termo. Meio crocante, meio macio.

Mordiscou o sanduíche e bebericou o suco de uva, enquanto espiava o relógio da cozinha. Faltava dez minutos para o ônibus passar.

Largou a metade do pão no prato e virou o suco de uma vez, correndo para sair de casa.

  Assim que chegou ao ponto, deparou-se com Hollie sentada no banco, com os olhos pregados no chão.

— Oi. - Debbie cumprimentou, sentando-se ao lado da amiga. Hollie levantou a cabeça, encarando-a e abrindo um sorriso.

— Oi Débora. Como está? - Esforçou-se para parecer bem, mas seus olhos caídos diziam o contrário.

— No mesmo barco que você. - Ergueu os ombros, dando um riso triste. Hollie suspirou, chateada. Ela não queria preocupar seus amigos. Ela queria ser forte por eles.

O ônibus estacionou e ambas adentraram e, dessa vez, sentaram-se longe uma da outra. Ambas submersas em seus próprios problemas emocionais.
**
Assim que chegaram ao colégio, foram para o pátio frontal onde esperavam encontrar os meninos. Mas ambos não haviam chegado.

Poucos alunos perambulavam por lá naquele momento, pois o alarme de inicio já havia tocado.

Debbie avistou uma pessoa se aproximando e ao reconhecê-lo abriu um sorriso e andou na direção dele, até a distância entre seus corpos não existir mais. 

— Estava com saudades de você. - Ela confessou com o rosto aninhado ao peitoral do atleta. Ele acariciou suas costas e emitiu um risinho convencido.

— Eu sei, gata. Desculpa ser tão ocupado que quase não sobra tempo pra você. - As palavras dele foram ditas espontaneamente, como se ele não soubesse o quão escroto estava sendo. Debbie fez uma careta, mas estava sentindo-se tão segura dentro daquele abraço, que apenas ignorou o comentário desprezível dele e o apertou com mais força.

— Como está sua mãe? - Ela perguntou, lembrando-se que na ultima conversa ele comentara que ela estava mal. O garoto franziu o cenho, aparentando estar confuso com a pergunta, mas logo mudou a expressão como se tivesse se lembrado de algo importante.

— Ah... Ela está melhor! - riu, parecendo estar nervoso. — Ah, então, é... Vamos entrar? O sinal já tocou faz uns cinco minutos.

— Bem, é que estou esperando meus amigos.

— Hum. Então, eu vou indo... - Ele começou a se afastar quando sentiu a mão macia da garota segurar seu pulso. — Debbie, não.. - Virou-se para a garota, mas surpreendeu-se ao encontrar um rosto másculo a centímetros do seu. Nem teve tempo de perguntar o que estava acontecendo quando o punho do garoto acertou-lhe em cheio no rosto, deixando-o desnorteado.

— Porra, Jason, que merda é essa?! - Débora gritou, tentando afastá-lo para longe de Trevor, que por sua vez empurrou a garota e revidou o soco que atingiu o nariz de Jason fazendo o sangue escorrer instantaneamente. Blake entrou no meio e segurou Trevor, lançando-o no chão.

— Cai fora. - gritou para o garoto caído que bufava de raiva.

— Isso não terminou aqui! - Sentenciou levantando-se e indo para o colégio.

Hollie estava estática observando a cena sem saber como reagir. Debbie estava furiosa, fulminando Jason com os olhos.

— Alguém me explica que merda foi essa? - Débora pediu explicações, cruzando os braços. Blake ergueu os ombros, indisposto a contar qualquer coisa. Jason estava ensopado de sangue que não parava de escorrer pelo seu nariz. Hollie pegou sua blusa de manga cumprida e estendeu ao garoto orientando-o a deixar a cabeça erguida.

— Ainda estou esperando. - Débora tornou a falar, batendo os pés no chão, ansiosa.

— Caramba, Debbie, da um tempo! - Hollie explodiu, fuzilando a amiga com os olhos. Jason riria se estivesse em condições, pois Hollie não perdia a paciência facilmente. Muito menos com a amiga.

— O quê?! Ele esmurrou a cara do Trevor sem mais nem menos, e você quer que eu dê um tempo?!

— É, isso mesmo. Ele tem muito o que explicar, mas agora não é o momento, ok? — Ela encarou Hollie com a expressão chocada, não acreditando que a amiga estava falando assim com ela. Olhou para Blake esperando que ele ficasse ao seu lado, mas este desviou o olhar para o chão. Debbie soltou uma risada descrente.

— Vão se ferrar. - Disse enraivecida e chateada. Deu as costas e adentrou o colégio.

Hollie encarou Blake esperando mais explicações, mas o garoto apenas deu de ombros.
**

— Precisava mesmo disso? - Hollie censurou o amigo, quando o mesmo terminara de relatar tudo o que descobriu. — Jason, você tem noção da merda que acabou de fazer?

— Eu sei, eu sei... - murmurou, aparentando arrependimento. — Mas eu sabia que ela iria ficar do lado dele, por isso não contei nada.

— É, mas agora ela não está falando com nenhum de nós. - retrucou enquanto observava a figura da amiga sentada debaixo de uma árvore, solitária.

— Foi você que falou com ela daquele jeito. Eu não tenho culpa dela estar assim com você. - defendeu-se e tinha razão.

— Ela estava passando dos limites também. - disse em tom de voz baixo, arrependida por ter se irritado com a amiga.
Blake chegou e sentou-se, colocando sua bandeja sobre a mesa. Sorrateiramente, Jason roubou a sobremesa do amigo.

— Já sabem como vamos convencer a Débora de assistir o Dvd? - Blake perguntou recebendo acenos negativos como resposta. — Droga, as coisas saíram de controle.

— É.. Eu não consigo entender o motivo do Trevor fazer algo assim...

— Simples: porque ele é um escroto. - Jason respondeu, terminando de engolir a sobremesa furtada.

— Não, Jay, você não tá entendendo. O buraco é muito mais embaixo. Temos a prova que Trevor entrou no ginásio, mas e aí, que relevância isso tem? Será nossa palavra contra a dele. E, bem, ele é o Trevor Bellard. - Hollie suspirou desesperançosa. — E quanto a bomba? Não temos provas nenhuma. - sentiu os olhos ficarem marejados.

— De volta a estaca zero. - Jason murmurou, espalmando a mão na própria testa.

— Cadê meu pudim?! - Blake perguntou ao dar falta da sobremesa. Hollie e Jason enviaram olhares com as sobrancelhas erguidas para o amigo, que abriu a boca e tornou a fechá-la envergonhado e constrangido. — Deixa pra lá. - disse arrancando um sorrisinho maroto de Jason.

Game Over - Sobreviva.Onde histórias criam vida. Descubra agora