4 - Me ofusque.

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Foi como se um soco me deixasse tonto, incapaz de entender tudo que se passou em seguida até ser chacoalhado pelas mãos da pessoa que me bateu em primeiro lugar.
-Hora de ir, Caleb.

Um sorriso fraco foi dado a mim enquanto ele me guiava até o carro, comigo perdido em pensamentos depressivos.
-Eu nunca vou ser bom o bastante?

Penso alto. Alto o suficiente para Alexander ouvir, aparentemente.
- Você vai, ou meus instintos nunca teriam gostado de você.
-Seus instintos erraram, idiota.

Rio, sarcástico.
-Presta atenção, todo ator passa por essa fase onde se questiona sobre sua habilidade. Desde o mais famoso até pessoas que nem estreiaram ainda, então você precisa ser forte e melhorar!

A tentativa de ajuda virou outro soco, mais forte e mais certeiro, trazido pela palavra "forte".
- Esse é o problema! Eu já deveria ser forte! Consigo esconder o que penso e...
- Quem te disse que ser forte é se esconder? Ser forte é dar a cara a tapa e se mostrar quando todo mundo tem medo de se machucar! É não desistir quando a primeira rejeição chega, isso é força.

Pela primeira vez em muito tempo eu me senti fraco.
- Parece que a minha força é falsa... Eu treinei muito pra chegar até aqui mas, estou achando que "aqui" não é nada, então é fácil perder a vontade de continuar...

Pela primeira vez em muito tempo eu comecei a chorar, na frente de outra pessoa.
-Ei... - Alexander toca meu braço - se estar aqui não fosse importante, você não teria sorrido tanto quanto ganhou o papel... Nem teria atuado tão apaixonadamente.
-De quê adianta sorrir e atuar apaixonadamente se ninguém valoriza isso?!

Uma longa pausa, seguida de um suspiro foram a minha resposta até o som da voz do meu agressor voltar a ser ouvida.
-Quando eu comecei, sabe que papéis eu ganhei? Vilões. No primeiro eu dei tudo de mim e, confesso que eu mesmo me assustei quando vi meus olhos sem vida na tela; no segundo eu ri tão morbidamente que meus pelos se arrepiaram com o som na sala de cinema. No terceiro eu não me encontrei no personagem e no quarto eu queria desistir de atuar... Eu tive que me reinventar e mostrar que eu posso ser o que eu quiser; só aí ganhei papéis de mocinhos, em filmes e séries românticos, assustadores, engraçados e pude crescer.
- Eu... Não sabia...
-Muitas pessoas podem atuar, mas poucas cativam e apaixonam e é isso que vai tornar você uma estrela.

Pensar que o grande Alexander Merschbacher teve baixos na carreira me deixou pensativo, já que sempre me vi pronto para atuar e isso incluia na minha mente, saber hipnotizar o público ; mas talvez atuar seja uma simples junção de sentimentos que eu quero passar... e talvez eu não tenha um sentimento a transmitir.
-Quem vai se cativar com uma atuação vazia como a minha?

Penso alto novamente e, de novo Alexander ouve.
- Obviamente, eu. Ou não teria te dado um papel tão importante como ser meu stalker.
-E-eu acho que você se enganou. A obsessão não pode brilhar mais que o vilão e, se eu atuar com você, é isso que vai acontecer!

Ele sorriu. Da mesma forma que fez quando interpretei a cena, horas atrás. Sorriu me fazendo tremer e imaginar se seria assim que havia feito no seu primeiro trabalho de vilão.
-Eu quero que você me ofusque. Quero que cause arrepios a qualquer um que ver seu rosto e que torne o público dependente do seu personagem, quero que amem você!
-Ninguém ama um louco, Alexander!
- Não. As pessoas não admitem que amam um louco, porque isso faria delas igualmente loucas... Mas, você vai perceber que existem muitos tipos de amor e nem todos são puros.

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