5- Encontro entre presa e caçador.

63 13 1
                                    

Quando acordei, na manhã seguinte, só consegui pensar no final da nossa conversa, a voz do Alexander repetindo na minha mente "te ajudarei" e a forma como fui ingênuo e só o encarei, até que fosse embora e eu nem me lembrasse como cheguei na cama.
Todos os meus pensamentos sobre precisar de ajuda e, ao mesmo tempo, não querer vender minha alma para um demônio, são interrompidos pelo toque alto do meu celular que, assim como outras coisas, esqueci onde tinha colocado. O tempo de busca foi uma eternidade e o fato de o celular não parar de tocar me confirmava que era Marcus, com sua irritante determinação; podia imaginar ele desesperado, agoniado para falar o que, na maioria dos casos, podia esperar mais uma semana.

Finalmente, no bolso da minha calça colocada ontem no cesto de roupas sujas e soterrada com outras roupas, o celular foi achado com vida! Tenho certeza que mais uma hora naquele cheiro faria com que ele se matasse.
- Alô.
- Graças a Deus!! Estava ficando preocupado, Caleb!

Definitivamente, Marcus.
- O que foi?
- O diretor da audição de ontem ligou! Vão começar a gravar amanhã a noite com a cena do encontro de vocês dois, Júlio e Oliver!
- Oliver?
- É o seu personagem, homem. Acorda!

Verdade. Nem decorei porque é falado uma ou duas vezes na série toda, achei que não fosse importante.
- Claro que é, Marcus. Eu só não tinha ouvido direito.
- Ótimo! Dê o seu melhor decorando esse roteiro e ensaie muito, porque amanhã você atuar com um ator cheio de experiência e talento e-
- Não exagere. Eu não ligo pra quem ele é, vou atuar bem.
- Claro que vai, é só que ele... não dá muita chance para a atuação dos outros...

Desligo o telefone. Eu sei muito bem disso ou não o chamaria de demônio da atuação. Até moscas atuam com ele, se depender das expressões feitas... Eu até tenho um desprezo por ele, o que me ajudou na cena, mas a forma como ele me olhava, o medo em seus olhos e até na sua fala, tornaram ainda mais assustador o fato de eu ter raptado ele. Preciso prestar atenção ou vou me perder e viver na sombra do Alexander.

Pego meu roteiro e decido dar a devida atenção a ele, percorrendo suas páginas como quem lê seu livro favorito. Essa é uma das partes favoritas, para mim: conhecer o personagem; não adianta saber atuar e não entender que precisa haver conexão com quem está sendo interpretado.
Após algumas páginas, me deparo com a cena de amanhã; o esperado encontro entre presa e caçador. Antes existem muitas páginas onde Júlio anda e eu o sigo, distante e atento e, então, vou a uma sessão de autógrafos dele e, pela primeira vez, ele olha na minha direção. O sentimento de ser visto é inexplicável, me arrepio, fico excitado e não consigo parar de pensar que aqueles olhos têm que ser meus... Bom, Oliver pensa, com sua doentia obsessão.

O desenvolvimento do meu personagem me impressiona; ele começa como um tímido fã de um escritor e, ao fim, impõe com prazer seu desejo de dominação. Sinto dúvidas sobre como demonstrar essa evolução e, deitado na cama, repasso a cena até cair no sono.

•••••

O dia seguinte começa bem, com os rangidos da velha Deppy me relaxando e me lembrando que, finalmente, vou criar uma personalidade, vou dar vida a alguém e... vou ofuscar o demônio!
-Vamos, vamos! Hoje é um grande dia!

Chego a conclusão que tanto eu como Oliver não gostamos do entusiasmo do Marcus e entro na minha companheira, rumo ao grande encontro.

Luz, Câmera e AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora