Luz, Câmera e Atração

6- Machucado.

- Bom dia.

Chego ao estúdio e anuncio de forma geral, na esperança de não ter que repetir a cada membro a mesma frase, tentando ser irritantemente legal.
Não se passa nem 1 minuto e ouço a voz que tanto me assombrava, até nos meus sonhos.
"Bom dia" ele disse ao segurança, "bom dia" ele disse à equipe de figurinos, "bom dia" ele disse à equipe de maquiagem, "bom dia" ele disse aos roteiristas e aos câmeras e aos atores, um por um, incluindo eu.
-Bom dia, Caleb! Nervoso?

Sorri, sarcástico.
- Não o suficiente para admitir e muito menos para ter ânimo de dizer bom dia a todos.

Alexander sorriu, idiotamente.
- Se não tem ânimo pra isso, imagina pra me enfrentar em uma cena. Cuidado para não ser esquecido, hoje.

Tive de usar todo meu autocontrole para não pular em cima dele e gritar. Só dei um sorriso falso e ignorei a sua existência até que entrássemos em cena.
E, num piscar de olhos, entramos em cena. Não preciso pensar para ser sugado pela presença devastadora de Alexander, ou de Júlio, ou dos dois. Ando o mais rápido que consigo, dentro do possível para uma fila de sessão de autógrafos e, nem por um segundo, consigo tirar meus olhos dele; me questiono se Oliver não consegue desviar o olhar ou se eu estou sendo sugado pela atuação dele.

Nunca se pode ficar entediado das diversas expressões de Júlio; a felicidade, a vergonha, a pitada de medo de críticas e de estar ali... exposto. Como se tivesse se passado um segundo, minha vez de conseguir meu autógrafo chega.
-Bom dia! Assino no nome de quem? -Deixo transparecer a dúvida em dar meu nome, não gosto dele- Pode ser uma frase, ou algo assim...

Mostro meus dentes, numa tentativa de sorriso.
- "Para o meu maior fã... Oliver", por favor.

Júlio sorri, ignorando meu fracasso anterior.
-Maior fã... Oliver. Prontinho, muito obrigado!

Ele estende a mão e eu a seguro, suado e tremendo como um adolescente perto da menina que ele tem uma queda. A única diferença é que eu tenho um abismo pelo Júlio então, ao sair da livraria, não consigo me controlar e gargalho, encarando minha mão que provavelmente não seria lavada por um tempo; sinto seu cheiro... O cheiro da minha paixão, o cheiro que logo estaria comigo, para sempre.
Após um beijo lento ser depositado no único lugar que ele me tocou, o diretor grita "corta" e as câmeras são desligadas, momentaneamente.
-Ótimo. Me deu arrepios!

Nunca pensei que arrepios seriam ótimos mas, para o diretor, é um sinal de um personagem bem criado.
- A próxima cena será quando Júlio se machuca, já preso na casa, e Oliver aparece. Em seguida nós vamos gravar a cena do sequestro de Júlio e da chegada a casa.

Confirmamos e fomos a nossa imensa pausa de 5 minutos. Aproveitei para ler a cena do machucado; Júlio estava tentando fugir, como se não fosse inútil, e se cortou profundamente com um pedaço de vidro quebrado. Eu chego e pergunto "o que você estava fazendo?!" e pego um kit de primeiros socorros. Acho que vai ser uma cena rápida...

•••••

-Corta. Não está bom, Caleb. Tá... faltando algo...

Faltando? Eu perguntei, peguei o kit, cuidei dele. Fiz tudo e mesmo assim o diretor manda repetir a cena.

Ouço o estrondo. Ouço o gemido de dor. Entro em cena.
- O que você estava fazendo?!

Mais forte dessa vez, o que falta deve ser raiva.
-E-eu só...

Saio de cena, pego o kit e volto com as sobrancelhas fechadas. Trato suas feridas e...
-Corta! Pausa de cinco minutos e vamos gravar a outra cena. A do machucado fica para amanhã cedo.

Gelo. O que falta no Oliver? Eu estava bravo mas eu cuidei dele, como sempre faço!
- Se você me pagar o jantar eu posso te ajudar com o Oliver.

Quase pulo com a voz da minha até então obsessão perto de mim.
-Eu... Não preciso de ajuda.

Alexander sorri, debochando de mim.
-Se não melhorar sua obsessão, vai precisar sim.
-Talvez... eu precise de um empurrão.
-Eu escolho o lugar e, vai ser caro.

"Tive de usar todo meu autocontrole para não pular em cima dele e gritar" talvez tenha um leve duplo sentido, não nego nem afirmo nada.