Guardiões (Em Revisão)

Capítulo 10 - Luto

Acordei de manhã bem cedo, me lembro de noite passada ter ficado com Lauren até tarde tentando a acalmar após o suicídio de Henry. Não foi fácil, e sei que também não deve estar sendo fácil para ela, acho que é por isso a minha impressão do dia estar mais cinza e triste do que costuma ser. Não conhecia Henry o bastante para ficar de luto, por que afinal só estou aqui fazem alguns dias, mas mesmo assim é triste, perdemos um de nós, e isso mesmo sem eu querer me afeta um pouco.
...
- Aaron, como foi ontem com ela?
- Nada fácil Elsen, nada fácil. Mas sei que ela logo vai estar bem novamente, e pronta para ser a mulher forte que eu acredito que ela seja. Não sei se temos intimidade o bastante para eu te pedir isso mas mesmo assim eu vou pedir. Por favor respeite o tempo dela, sei que não vai ser fácil por que você sendo o pai de criação deles o que você mais deve querer é abraçá-la e dizer que vai ficar tudo bem, mas eu acho que ela quer ficar sozinha um pouco para conseguir digerir tudo isso e ficar bem sabe!?
- Entendo. Vou deixá-la sozinha um tempo.
- Faz isso mesmo. Creio que vai ser algo bom para os dois. Mas depois não deixe ela sozinha, porque agora mais do que nunca ela vai precisar você.
- Tudo bem, obrigado por isso Aaron, você sabe dar um bom conselho mesmo sendo jovem.
...
Algumas horas se passaram e lá estava eu, sentado na mesa do refeitório, observando as pessoas que passavam com olhares tristes procurando algo para ocupar a cabeça, todos pareciam tristes, não sei se apenas pela morte de Henry, mas parecia que a felicidade não habitava aquele lugar a muito tempo, e por incrível que pareça eu me sentia parte daquele lugar. Não só por ter a tristeza e o desânimo como velhos amigos, eu me sentia parte daquele lugar, como se eu não conseguisse mais viver fora dali e longe daquelas pessoas tanto quanto aquele lugar não seria mais o mesmo sem mim, por mais que a energia estivesse pesada eu gostava dali e queria ficar.

Depois de um tempo observando as pessoas entrarem no refeitório Lauren entra, com uma expressão de como se estivesse se arrastando no meio de espinhos venenosos, triste e agora com o rosto inchado de tanto chorar, e a medida em que ela percorria o trajeto da porta a fila, pessoas e mais pessoas vinham prestar suas condolências a moça do irmão morto, órfã e sem ninguém que fosse família de sangue.

Parei para pensar em como ela devia estar se sentindo, e não gostei de como parecia ser, doía tanto que era impossível de se respirar, parei com os pensamentos e comecei a me perguntar, será que ela precisa de companhia nesse momento de luto? 

Caminhei em direção a ela, e por mais hipócrita que fosse ser eu a perguntei:

- Você está bem?

Somente depois de perguntar que realmente pensei no quão estúpida tinha sido aquela pergunta. Era claro que ela não estava bem, por que afinal o irmão dela tinha morrido. O único parente vivo. Mas mesmo assim ela me respondeu.

- Estou! Só preciso pensar um pouco.
- Quer conversar? Eu sei que não somos íntimos o bastante, mas já que vamos estar uns com os outros por muito tempo, eu quero te dar o meu apoio, e quero que você saiba que eu vou estar aqui para o que você precisar ok? Pode sempre contar comigo, até nesse momento difícil em que eu sei que você está passando por mais que você tente disfarçar, eu estou aqui!
- Por favor! Eu estava pedindo a Deus que alguém me chamasse para conversar! Eu estou tão exausta que não tenho mais forças nem para comer.
- Vamos para um lugar mais reservado pode ser?
- Pode sim, eu até prefiro. Não quero que mais pessoas me vejam nesse estado deplorável.
...

- Fomos em direção a porta de saída do refeitório, quando de longe vi Higia, a coisa que eu tinha certeza que havia sido responsável pela morte da minha mãe e simplesmente travei. Que belíssima hora para ser um perfeito bunda mole Aaron!
Quando consegui reorganizar meus pensamentos Lauren estava me encarando, a perguntei se não poderíamos sentar na parte vazia ali no refeitório mesmo, ela concordou.

Sentamos em uma mesa afastada das demais e a perguntei:
- Como você tá? Quero dizer realmente!

Ela assentiu e tentou se mostrar forte.

- Pode dizer, ou chorar se você quiser! Está tudo bem! Tudo bem não estar bem, você tem esse direito!

Senti que ela começou a ter mais confiança. Olhou para mim profundamente e desabou em lágrimas.

- Eu estou tão exausta! essa dor rasga meu peito cada vez mais! como se alguém estivesse me cortando por inteiro, a minha mente está cansada em sempre por ter que me preocupar com tudo isso, toda essa história de ser um guardião, e de nós termos tanta gente presa em um sono profundo quase eterno! Nós fazemos de tudo para conseguirmos achar as relíquias, passamos dias e noites estudando sobre lugares, treinando lutas, como atirar e fazer tanta coisa, e o Henry era quem me ajudava com tudo isso sabe? Ela era quem me dizia que tudo ia ficar bem, ele era quem me ajudava a me manter sã no meio de tudo isso, e agora ele se matou!! EU ME SINTO TÃO EGOÍSTA DE NÃO TER OUVIDO ELE! Ele até me procurou uns dias atrás, mas eu estava ocupada demais! EU SEMPRE ESTIVE OCUPADA DEMAIS!! SEMPRE O ENCHIA COM MEUS PROBLEMAS, E NUNCA OUVIA ELE!! EU SEMPRE O ACHEI FORTE O BASTANTE PARA AGUENTAR TUFO ISSO SOZINHO! MEU DEUS HENRY ME PERDOA!! POR FAVOR ME PERDOA ONDE VOCÊ ESTIVER!!

- ei, calma! A culpa não foi sua! você não sabia que ele estava em um momento ruim, e ele resolveu fazer isso por conta própria, a culpa não é sua nem de ninguém! 

- Você acha? Eu sempre estive tão ocupada para ele e para tudo. 

- Eu tenho certeza! Por que como diria Schoppenhauer: a vida é sofrimento. Você sofre perdas, se decepciona. Adoece.  Ou seja, o que eu quis dizer com isso foi, talvez ele não aguentasse mais sabe!? Essa vida de vocês é muito louca, são muitos altos e baixos como eu já consegui enxergar, eu estou aqui só fazem dias e já estou farto! Imagine ele que estava aqui a anos! Não estou dizendo que foi algo certo, mas que ele acreditava ser o certo, mesmo estando errado.

- Eu sei! Eu realmente sei! Mas agora eu estou com medo e me sentindo culpada sem nem saber direito os motivos! 

- Você não deve se sentir culpada, por que como eu já te disse foi uma escolha dele, mesmo que seja difícil de se entender e o medo é o abandono da lógica, a renúncia voluntária a padrões razoáveis. Nós nos rendemos ou lutamos contra ele, mas não podemos ficar em cima do muro.E eu te peço para lutar! Por que você sentir medo é algo aterrorizante, digo por experiência própria! e eu sei que você consegue vencer isso! eu sei! 

- Obrigada! Obrigada mesmo, eu acho que mais do que nunca estava precisando disso!

...