II. Viagem por Terra

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Consigo uma carona para nos levar até o fim da estrada dos mercadores por algumas poucas moedas de bronze. A carroça de metal que levava alimentos para outras cidades da região passou em frente à padaria dois dias depois, logo depois do pôr do sol, e o mercador não parou de falar com Adam e Theo durante todo o percurso, embora a noite aumentasse meu estresse e eu tivesse que me controlar muito para não mandar aquele velho calar a boca por pelo menos alguns minutos.

Já longe da cidade portuária, o dono da carroça avisa que precisaria ir à uma propriedade ali perto para buscar um carregamento de batatas e eu aproveito a oportunidade para sugerir aos meus amigos que devíamos seguir a pé a partir dali. Fico mais do que feliz em pisar em terra firme outra vez, sem o ronco de motor vibrando sob meus pés e quase começo a saltitar quando vejo o conjunto de rodas e pinças de metal que batiam no chão como as pernas de uma aranha se afastarem de nós, espalhando poeira e areia pelos ares. Cubro o rosto, mas sorrio só de me lembrar que eu não teria que sacudir de um lado para o outro da carroça por mais um segundo sequer.

Adam tira do bolso sua bússola e ilumina o caminho com sua lanterna quando a escuridão toma conta da estrada, sem a luz da coisa que nos trouxe até aqui para nos mostrar o caminho adiante. Meus olhos logo se ajustam à escuridão, mas sei que meus amigos continuavam humanos, e sem a lanterna, não veriam sequer um palmo à frente. Prosseguimos pelos campos que cercavam a estrada de ambos os lados, sempre atenta a bússola de Adam, com a certeza que estava sempre indo para o leste.

Em algum momento da caminhada, tivemos que entrar na mata entre as propriedades rurais, e quando o sono começou a se manifestar, armamos um acampamento, construindo redes entre as árvores, feitas de folhas de palmeiras transplantadas por humanos até ali e madeira de corte para nos manter longe do chão da floresta.

À noite, insetos venenosos e cobras rondavam as áreas ainda não ocupadas por pessoas em qualquer lugar do mundo, e quanto mais longe desses animais ficássemos, melhor.

Acordo cedo no dia seguinte, com a luz do sol me impedindo de conseguir dormir por mais tempo, e convenço os outros de caminharmos mais um pouco. O cheiro de café da manhã sendo preparado chega até mim quase meia hora depois que voltamos à estrada, e a intensidade e mistura de cheiros me faz crer que alguma propriedade ou mesmo uma cidade não devia estar longe dali. Não seria má ideia passar pelo lugar para garantir que continuávamos no caminho certo, e Adam certamente podia conseguir um mapa e talvez até um lápis para nos guiarmos melhor por um preço mais aceitável do que os absurdos que a cidade portuária exigia, então sugiro darmos uma passada por lá, embora tenha demorado até os outros começarem a sentir o cheiro de carne e café como eu sentia.

Pouco mais de 2km dali, encontramos o que parecia uma pequena cidade rural, com casas baixas de um ou dois andares no máximo pouco afastadas umas das outras, e em todas as casas com acesso aos fundos, eu via plantações de hortaliças e verduras, legumes e frutas dos mais variados tipos. Conforme nos aproximamos do centro da cidade, noto que o ambiente começava a se tornar mais parecido com uma cidade e menos com uma área de propriedades isoladas. Mesmo cedo, as ruas já estavam tomadas por mulheres carregando cestas de supermercado acompanhadas de criados e homens de enxadas e pastas indo trabalhar, fosse em algum escritório ou na fazenda de outra pessoa. Adam nos pede para esperar enquanto ele entrava no mercadinho em busca de informações, para ver se conseguia comprar um mapa também. Com a fome que estavam, Morgan e Liev conseguem convencer Theo a levá-los para algum restaurante ali perto e eu acabo ficando sozinha do lado de fora do mercado. Me encosto em uma coluna de pedra que mantinha o toldo do mercado de pé sobre nossas cabeças, e me ocupo com a lixa de unha de Liev, tentando deixar as unhas quebradas do mesmo tamanho das outras, embora isso fosse complicado de fazer sem uma alicate.

A Rebelião dos LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora