A Rebelião dos Lobos

IV. O Conjurador

— Bem, para resumir.- Diz Beatrice.- Não existe nenhuma culpa sobre quem foi o responsável pelo problema do meu irmão.

— Não é isso que eu quero saber.- Puxo um banco de madeira para perto da penteadeira, me sentando diante da garota.- Quero que me conte como tudo aconteceu. Só sabendo essa história poderei determinar se há o que fazer com o garoto possuído ou não.

— Ele vai ficar nos olhando?- Beatrice aponta para Theo, ainda em silêncio, apoiado no batente da porta.

— Ele também é caçador de demônios.- Explico.- E é meu parceiro.

— Nesse caso, não sei porque ele não entra.

— Eu não posso, senhorita.- Theo se manifesta.- Estou bem aqui de pé, posso escuta-la. Não se preocupe comigo.

— Como quiser.- Beatrice dá de ombros.- Então, por onde começo?

— Comece me dizendo o que estava fazendo quando invocaram qualquer que tenha sido o demônio.

— Bem, imagino que minha mãe tenha lhes contado sobre a história dessa casa, sobre minha bisavó.- Assinto em silêncio, pedindo para que continue sua explicação.- Eu e meu irmão estávamos procurando por alguns objetos que nosso pai confiscou há tempos atrás no porão quando tudo aconteceu. Elliot encontrou aquele livro sinistro em um baú velho. Eu avisei para não mexer com o que não sabia o que era, eu avisei, mas ele resolveu recitar um feitiço qualquer sem saber se funcionária ou não. Foi como um jogo para ele, mas foi só ele terminar de falar que uma luz vermelha explodiu no porão e eu fui jogada para trás. Quando recobrei a consciência, Elliot já não era mais o mesmo. Os olhos estavam pretos e ele rosnava, e eu sabia que ele não era mais o meu irmão.

— Me parece a descrição de um feitiço de conjuração demoníaca.- Assinto com a cabeça.- Cada demônio reage de determinada maneira à sua invocação, mas explosões não são exclusividade de uma única espécie, então talvez precisemos de um tempo de pesquisa para podermos expulsar o invasor do seu irmão.

— Então vocês podem ajudá-lo?- Beatrice alterna seu olhar entre mim e Theo, ainda escorado na porta, apenas nos observando.- Podem salvar o meu irmão?

— Faremos o possível.- Garanto a ela.- Mas, como eu disse, isso pode levar um tempo.

— Por favor, se apressem!- A garota, de não muito mais que 16 anos, parecia muito ansiosa em fazer alguma coisa.- O demônio que tomou o corpo de Elliot tem sussurrado coisas. Ele diz que vai acabar com a mente do meu irmão até que não reste nada, que vai ser lento e doloroso. E está se divertindo com isso. Não sei quanto tempo mais ele pode aguentar.

Theo franze as sobrancelhas e parece pensar a respeito. Claro, os Inquisidores! Eles tinham um extenso treinamento sobre conjuração de demônios. Podia mesmo ser útil agora.

— Na verdade, senhorita Beatrice.- Theo se manifesta, ficando reto diante da porta outra vez.- Fiz especialização em Demônios de Invocação depois que saí da Academia da Inquisição. Existe um número limitado de seres de outros mundos que humanos podem invocar através de seus livros e magia. Talvez se você puder descrever o máximo possível sobre o comportamento desse demônio e do feitiço que o trouxe até aqui, talvez possa deduzir de que criatura se trata.

— Mas ainda assim...- Alerto-a.- Ainda vamos precisar do livro que seu irmão usou. Onde ele está?

— O demônio o escondeu em algum lugar.- Beatrice nos conta.- O porão foi selado e o maldito de vangloria do quanto nenhum de nós tentou enfrentá-lo para conseguir a exata localização do livro. E mesmo que o tivéssemos, não podemos fazer nada com a ele. Nem sei por onde começar.