introdução-Ally

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Estava sentada na cama, guardando alguns papéis da empresa. Ao terminar, me levantei e saí do quarto, parando alguns segundos para examinar a porta trancada de Kyle.

Continuei andando até a porta no final do corredor, a que estava entreaberta, o quarto do meu pai.

Abri a porta devagar,analisando o ambiente repleto de lembranças. Observo a sua pequena Biblioteca particular, pensando nas vezes que ele pegava a mim e o meu irmão, escondidos ao lado das prateleiras, lendo. Vejo a poltrona em que ele costumava sentar, e finalmente, a cama para a qual corríamos em noites chuvosas.
E lá estava ele, deitado, conectado a vários aparelhos que o mantinham vivo. Entrei no quarto e parei ao perceber que ele estava dormindo. A enfermeira que cuidava dele durante o dia já havia ido embora, então me sentei naquela poltrona e esperei que ele acordasse. Desde que eu era bem pequena, meu pai tinha uma doença que o debilitava. Sabíamos que ele pioraria com o tempo, e desde os meus 16 anos ele não conseguia mais levantar da cama.

Fiquei o observando enquanto dormia. Ele tinha cabelos grisalhos, possuía feições rígidas, o que era irônico, considerando o modo como criou a mim e ao meu irmão. Apesar de seus olhos estarem fechados, eu sabia exatamente o que esperar, pois eles eram iguais aos meus. Nós dois possuíamos heterocromia: o nosso olho esquerdo era de um azul intenso enquanto o direito era castanho escuro, quase preto.

Depois de alguns minutos, meu pai finalmente abriu os olhos, sorrindo ao me ver:

-Ally,você está linda hoje.

Sorri, porque ele falava isso todos os dias, e eu nunca acreditava.

-bom, hoje eu preparei o contrato dos Davis.

Entreguei a pasta para que ele pudesse examinar melhor, mas ele não fez nenhuma tentativa de pegar o documento.

- você sabe que eu não sou mais o presidente da empresa. Você é. Deve comandá-la da forma como vc preferir.

Abaixei o braço com o contrato e me deitei ao lado dele na cama. Ele sorriu e me abraçou:

-Ally, está na hora.

Meu corpo inteiro se retesou ao ouvir aquilo. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu sabia o que estaria por vir. Ele havia me preparado para aquele momento durante muito tempo. Então eu não hesitaria.

O abracei e deixei ele depositar um beijo em minha testa. Percebi, que apesar de eu estar praticamente em prantos, meu pai não estava com medo, e sim calmo.

Olhei para os aparelhos e segui os fios com os olhos, procurando a tomada em que todos eles se encontravam. Ao achá-la, a segurei com as mãos e puxei. E todos os monitores ficaram pretos.

Tudo o que eu queria fazer era ligar aquela tomada novamente, mas meu pai me fez prometer que faria isso, para que ele pudesse finalmente descansar em paz.

Seus olhos agora estavam vidrados, fitando o vazio. Eu sabia que ele se fora. Então coloquei a tomada de volta e saí do quarto, arrasada.

Fui ao telefone ligar para a ambulância, mesmo sabendo que era tarde demais.

Horas depois, a nossa casa estava repleta de pessoas entrando e saindo, enquanto eu permanecia sentada no sofá da sala, olhando para nada em especial. Meu olhar se desviou para a maçã coberta com um lençol que eles carregavam para a fora. Um homem veio falar comigo. Aparentemente, meu pai havia morrido de uma parada cardíaca e respiratória. Uma mera fatalidade. Só isso.

Me levantei e saí da casa, indo para a rua. Não sabia para onde iria, só sabia que não ficaria bem mais um segundo ali. Eu andava sem destino de cabeça baixa, e , de repente, senti uma dor forte em todo o meu lado esquerdo, como se estivesse sido atingida por algo muito pesado. Aí tudo ficou escuro

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⏰ Última atualização: Jan 15, 2019 ⏰

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As asas da quimeraOnde histórias criam vida. Descubra agora