XII

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Os três se levantaram e quebraram o jejum com carne seca que Vitor levava internamente no sobretudo. Morpheu parecia ansioso para sair daquele lugar e chegar logo ao Vale, da última vez que fora lá Ergos estava trabalhando em alguns papeis sobre a forma primaria, seria muita sorte o alquimista saber também sobre o Libertador.

- então vamos deixar a garota aqui? – Abel interrompeu o silencio tirando alguns pedaços de carne dos dentes.

- devemos sair o mais rápido possível – era a voz rouca de Morpheu, as luvas de couro sujas de gordura pegavam com dificuldade os pequenos pedaços de carne. – Lucio deve vir atrás de nós logo, devemos chegar ao Vale e falar com Miguel e com Ergos.

Abel desapareceu e reapareceu vestindo uma camisa roxa e uma calça de algodão marrom, estava ansioso para sair daquela caverna, então quanto mais cedo fossem se despedir de Alice melhor.

Saíram do barraco e se deparam com uma cidade viva, viva, mas podre. Estavam de frente para a rua principal e do outro lado havia um beco, homens moribundos estavam sentados ou deitados em seus próprios excrementos. Eles tinham a pele acobreada e cabelos bem cheios e encaracolados, estavam magros, nus, com olhos fundos e rostos cadavéricos. O grupo devia ter entre oito e dez membros, todos iguais, apenas aguardando a morte lhes dar o último golpe de piedade.

Os três acompanharam a rua principal, carroças carregadas de fardos de feno e palha iam em direção ao obelisco. Criaturas meio homens meio cavalo guiavam esses carros. Tinham quase dois metros e meio de altura, musculosos e com uma cara de poucos amigos. Alguns eram negros como a noite, mais para frente haviam os acobreados e manchados.

- todos são bestas-guerreiras? – perguntou Vitor.

- sim, esta raça tem uma grande variedade de membros. – disse Morpheu olhando para o obelisco.

- reza a lenda que o imperador dormiu com alguns animais e surgiram essas aberrações – comentou Abel para Vitor, baixo o suficiente para apenas os dois ouvirem, mesmo assim parece que um dos homens cavalo escutou, pois nesse momento um deles relinchou.

- aberração? Ontem você estava dando em cima de uma dessas aberrações – riu o garoto.

- calem-se – estavam chegando próximo a subida que dava para a saída da caverna, no topo haviam duas guardas com as máscaras de madeira.

Com o ambiente melhor iluminado podia-se ver que eram cheias de cicatrizes, principalmente nas coxas, agora expostas. Olharam para o pequeno grupo que se aproximava e fizeram um gesto para serem seguidas.

- simpáticas, não é? – comentou Abel.

- cale-se homem – uma delas falou, mesmo estando muito a frente deles.

O caminho até o obelisco foi tortuoso e silencioso, com a avenida principal lotada de carroças, era penoso ir por lá, então optaram por becos e ruas mais estreitas. As ruas eram de blocos de pedra muito bem cortados, nas calçadas haviam colunas de pedra branca e polida totalmente cilíndrica. As casas eram altas, dois andares, no mínimo, e cresciam mais para cada metro aproximado do ponto central.

Haviam diversas criaturas antropomórficas nas ruas, criaturas com cabeças de diversos animais, cobertas de pelos ou penas, no entanto tinham a mesma característica em comum, os olhos da cor de âmbar. Não vestiam roupas e isto parecia natural, tão natural que encaravam o grupo com feições de nojo.

- Ergos iria amar este lugar – Morpheu caminhava sério, perdido em seus pensamentos, sem nunca tirar os olhos da grande estrutura que se aproximava.

Chagando na construção se depararam com mais guardas amazonas, estas vestindo armaduras de madeira e pedra, formavam um corredor forçando os cinco ali presentes a passar por todas as guardas para chegar a entrada. No fim estava a rainha amazona, sem máscara e também sem roupas, tinha o corpo encoberto por uma leve penugem marrom, seus seios era maiores do que o das outras mulheres ali presentes, junto com seus quadris e coxas. As tranças foram desfeitas e cachos soltos em molas chegavam até a cintura da bela criatura a frente deles. Apenas um detalhe era estranho aos olhos dos três, as orelhas não eram localizadas na lateral da cabeça, mas sim no topo, eram orelhas felinas e pequenas, postas em diagonal.

Vitor Salavar - Os Quatro ReisWhere stories live. Discover now