Capítulo 6

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    "And I hope you don't judge me
All I know is how to be who I am".
—Alone, Bazzi

    Desligo a tela do celular e abaixo as mãos

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    Desligo a tela do celular e abaixo as mãos. Olho pro pôr do sol que parece exclusivo da minha janela. Isso também me lembra os piqueniques que minha mãe adorava fazer aos fins de tarde no parque. Acabei de desligar o FaceTime com ela, preciso admitir o alívio que se instalou. Era estranho a maneira em que sorria, diferente... nunca tinha visto um sorriso daquele em seu rosto, e por isso, resolvi ficar feliz também, por ela. Pois pelo menos um de nós está.

    Felizmente meu final de domingo terminará como adoro: muita pipoca, um filme bom e meu pai do lado. Quando escutei os gemidos dos armários soube que estava tudo pronto, então levantei da bancada, coloquei meu celular pra carregar e andei em direção à porta.
    Um aviso de notificação iluminou meu quarto e eu não resisti em olhar... voltei lentamente pra ler e quase o deixei cair quando vi que era mensagem do trabalho:

"Boa noite senhorita Flora, gostaria de comunicar que o Sr. Montgomery precisou fazer uma viagem de imediato durante essa semana. Logo, a sala B ficará por sua responsabilidade. Peço desculpa pelo o ocorrido e agradeço a compreensão, estaremos a disposição. Até mais!".

    Suspiro de alívio ao ver que se trata de algo bom... pra mim claro, acabei me apegando fortemente naquelas crianças e sinto que gostam muito de mim também, o que torna tudo bem satisfatório mas não consigo deixar de sentir um nervosismo, primeira vez que assumirei a turma por um tempo maior e realmente espero que ocorra tudo bem... e em relação à vida do Sr. Montgomery também, longe de mim ser um sadista!

    Chego na sala e vejo meu pai preparado com um grande pote de pipoca na mão. Começamos a assistir um filme chamado "A Star Is Born", o qual a cantora Lady Gaga atua. O filme é muito bom... quanto mais assisto mais entretida fico, em muitas cenas retratam a realidade, e essas histórias são o que eu mais gosto. O filme acabou há mais ou menos cinco minutos, mas ainda me encontro numa situação totalmente perplexa, olho para o lado e percebo que papai já dormia, decido começar outro filme pra tirar essa sensação esquisita que surgiu. Como o esperado, assisto pela milésima vez "Para Sempre", o meu favorito... não que ele tenha um final capaz de dispertar uma sensação melhor que esta porém já estou acostumada... admiro cada detalhe da história e a forma que é trabalhada, sem aquela forte necessidade de superestimar algo.
    Um dia Brooke leu uma frase em seu livro que a fez se lembrar de mim. Disse que deve ter sido feita pra mim, ri com ela sem levar muito a sério sua empolgação com o livro e a suposta frase relacionada às minhas ideologias... mas depois fui nocauteada ao me identificar completamente.

"O romantismo é algo superestimado, o realismo é o que há".

    Levei um tempo, claro, até de fato entender o que aquilo significava. Até então conhecer o verdadeiro lado do "realismo", entendi através de experiências próprias não muito agradáveis que só quando se vive literalmente uma vida real entendemos certas coisas...

(...)

    Acordo meia hora mais cedo simplesmente por estar ansiosa, fico pensando o que poderei fazer com as crianças essa semana. Como ainda são muito pequenos, não fazem atividades muito elaboradas mas preciso achar uma maneira de seguir o planejamento escolar.
    Levanto depressa e refaço toda a rotina matinal. Algo me diz que seria legal testar uma imagem mais séria, por isso escolho minha camisa de seda azul clarinha com botões, capricho na maquiagem e visto um jeans preto básico.
    Franzo a testa ao ouvir o rangido da nova bota descendo as escadas, começo então a ir com calma, estou nervosa e com frio na barriga, sensação a qual me irrita... mas quando chego no andar de baixo sinto um aroma relaxante, aquele que sempre remete às minhas manhãs. E então percebo: nada que o café do Sr. Mendes não resolva.

    — Uau Flora, está muito bonita. Tem alguma coisa importante hoje? — meu pai pergunta acompanhando meus movimentos com o olhar.

    Pego uma xícara e sento a sua frente na mesa:
    — Bom, assumirei os pequenos hoje... na verdade, a semana toda. — sorrio de canto suspirando.

    — Ah que incrível minha filha! Tenho certeza que se sairá muito bem, fique tranquila e age como num dia normal. Nem perceberá o relógio voando e mais tarde irá desejar tudo de novo... faça o que sempre fez querida, e terá o controle nas mãos. Tenho certeza que tudo sairá perfeito, até porque tudo o que você faz em relação a essa profissão é perfeito! Só confie em si mesma.

    É incrível como ele sempre sabe o que fala... sempre pensei que antes de se tornarem pais as pessoas ganhavam um  manual pra cada situação, se não for
isso, acredito eu que em situações alternativas é só a tal Lei de Murphy agindo mesmo, como quando sua mãe avisa "leva o guarda-chuva, vai chover" e você não dá a mínima, mas acaba voltando pra casa completamente encharcada. Eu sei como é isso...
Qualquer que seja o motivo, eu quero ser exatamente como ele e ajudar o meu filho até quando penso que não estou.

    Quando estaciono o carro no campus, avisto Brooke na entrada do prédio conversando com Mia, minha colega de curso. Ambas só reparam na minha presença quando me aproximo e limpo a garganta.

    — Caramba garota! Que gata! Temos apresentação hoje e eu não sabia? — brinca Mia me olhando de cima a baixo.

    — Posso saber onde a madame vai? — agora é a vez de Broo zoar.

    — Meu Deus gente, — comento rindo um pouco envergonhada. — Não tem nada, só um dia mais atarefado no trabalho... só isso. — sorrio tentando fingir plenitude e falhando miseravelmente.

    Entro pra aula batendo papo com Mia, e mal vejo a hora passar ao seu lado, pra minha infelicidade o professor nada simpático passa uma tarefa trabalhosa pro próximo mês, como se a gente já não tivesse muitas coisas complicadas nessa vida para lidar... que ótimo!

    Quando consigo chegar a tempo na escola, agradeço aos céus por estar mais calma e conseguir trabalhar como planejado. Faço algumas atividades e brincadeiras das quais as crianças adoram. Definitivamente a mais divertida de hoje foi quando pedi pra compartilharem seus sonhos com os colegas, o que essa geração toma pra ser tão esperta? Eu nessa idade não sabia nem o que era futuro direito, me preocupava mais em assistir meus desenhos animados!
    As crianças tornaram a atividade bem divertida, uns com sonhos mais superficiais e outros até mais profundos, mas sempre ouviam e brincavam com o colega.

    — Tudo bem crianças, tenho certeza que conseguirão ser um jogador de basquete, um pizzaiolo, uma professora, um comedor de lagartos... — respondo rindo apontando pra cada responsável pelo sonho. — Mas alguém aqui tem um diferente que não foi mencionado?
    Observo por um tempo até ver a pequena Alyssa levantar a mão timidamente:

    — Eu quero ser uma Pop Star e ter uma banda!

    — Mas você pelo menos sabe tocar alguma coisa? — um colega pergunta com uma certa desconfiança.

    — Sim... estou aprendendo na verdade, mas vou conseguir, e aí crescer e tocar numa grande banda! — ela responde com uma certa determinação.

    — Com certeza conseguirá se tentar muito, princesa! — a garanto com um  sorriso sincero.

    Finalizo meu dia orgulhosa pela bom resultado... hoje já foi especial só pelo fato de ter me aproximado mais ainda dos alunos, principalmente da Alyssa que precisou ficar o tempo inteiro perto por conta de seu problema.

    Acompanhei a saída de todos até por fim voltar para casa. Exausta, nem consegui fazer muita coisa, apenas me preparei pro próximo dia e desmaiei na cama, o que resultou um sonho estranho com uma pessoa inesperada...

Broken heartsOnde histórias criam vida. Descubra agora