Desafeto

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  Era cedo ainda, Randolfo não havia terminado de se arrumar. E ao passar pelo quarto de seu filho, Lídia cantava para ele, com aquela voz linda de uma sereia.

"Flor amorosa, compassiva, sensitiva, vem porque
É uma rosa orgulhosa, presunçosa, tão vaidosa"

— Pois olha a rosa tem prazer em ser beijada, é flor, é flor...— Randolfo entrou no quarto, Lídia se virou para ele, sorrindo.

— Oh, dei-te um beijo, mas perdoa, foi à toa, meu amor...— Randolfo se aproximou, e puxando a menor pela cintura, beijou-lhe os lábios apaixonadamente.

— B-bom dia, meu a-amor. — Disse ele lhe jogando um olhar amoroso. Lídia nem mesmo notava a gagueira de seu marido.

— Bom dia, meu bravo Capitão. — Ela sorriu enquanto arrumava a  farda de Randolfo.

— E bom dia para você, fe-feliz. — Randolfo se aproximou da cama do rapazinho menor e o pegou no colo.

— Venha, vamos tomar café, querido. — Lídia levou os dois para fora do quarto, até a mesa, onde os três se sentaram. Aproveitando que os pais de Lídia haviam ido viajar para a praia, os três tinham a casa só pra eles.

Os três comiam nunca harmonia perfeita, Randolfo com seu café e torradas com manteiga, Lídia mordia um pão doce enquanto dava mingau ao filho. Todas as manhãs geralmente eram assim, calmas, tranquilas, como o começo do dia deveria ser.

Mas a batida da porta rasgou aquele dossel de calma que envolvia a casa. Lídia olhou para a porta.

— Randolfo, vá abrir a porta, por favor. — Disse ela, seu marido assentiu e se levantou, indo até a porta.

Abrindo a porta, Otávio estava com a farda e um sorriso de lábios contidos.

— Bom dia, capitão. — Disse ele, com um pouco de cerimônia.

— B-bom dia, major. O-o que faz a-aqui, tão ce-cedo ? — Randolfo sorriu e estreitou os olhos.

— Preciso conversar com você, Randolfo, por isso vim te acompanhar até o quartel. — Otávio nem mesmo olhou para dentro da casa.

— M-me pegou n-no café da ma-manhã, Tatá. — Randolfo riu um pouco. — E-entre, coma co-conosco.

Nisso, Otávio viu a oportunidade perfeita para um confronto. Aceitou o convite e adentrou a casa, acompanhado por Randolfo, indo até a mesa. Lídia assim que o viu, converteu o rosto em uma expressão dura.

— L-lídia, Otávio v-vai comer conosco. — O amigo se sentou em seu lugar, enquanto Otário se sentou de frente para Lídia.

— Você o convidou ? — Lídia olhou para o esposo.

— S-sim, ele d-disse que q-quer co-conversar comigo e p-por isso v-veio aqui. — Randolfo explicou.

— Na verdade, é até bom que eu esteja aqui, a conversa diz respeito aos dois. — Otávio anunciou. O casal lhe olhou confuso. — Randolfo, lembra-se do que lhe contei há alguns dias ?

— L-lembro sim, Otávio. — O capitão ficou um pouco vermelho.

— Você disse que não contaria a ninguém. — O Major tinha uma certa firmeza na voz.

— Eu sou a esposa dele, acho que isso me torna uma exceção. — Lídia encarou Otávio. Mas o olhar dela podia intimidar Luccino, mas não Otávio.

— Lídia n-não contará a n-ninguém, Major. — Randolfo assegurou.

— Não vai mesmo, até porque ela não quer que a cidade saiba que ela quase se casou com um...um — Otávio disse com uma naturalidade quase cínica. — Qual foi mesmo a palavra que você usou para me ofender, Lídia ?

 Eu estava certoOnde histórias criam vida. Descubra agora