//CAPÍTULO 9\\

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Aceitei o conselho de Marcos e me sentei em seu sofá macio.

- Você acredita em anjos? - ele chegou mais perto, mas ainda sério.

- Eu não acredito tanto nessas coisas.

- E se eu te dizer que sou um?

- Simples, não vou acreditar. - não estava entendendo mais nada, ele já parecia louco á minha visão.

- E se eu te der provas? - sua voz, inabalável, como sempre. Não parecia brincar.

- como assim?

O garoto alto se levanta, vira de costas e tira sua camisa branca como em um segundo. Tomei um susto com o ato repentino e me senti desconfortável vendo suas costas largas e despidas à minha frente. Até reparar em duas marcas de cortes alinhadas, enormes e grossas, que pareciam ser profundas e terem muito tempo.

- Como conseguiu essas cicatrizes?

- não se preocupe, eu apenas caí do céu. - ele fala com tom de sarcasmo, vestindo sua camisa novamente.

- Agora você tá brincando, né? "Cair do céu"? Fala sério, Marcos.

- Eu vim logo depois que a criança foi enviada pra cá. Eu vim protege-lá.

- Ok, vamos fingir que eu acreditei nessa história toda. Onde está esse bebê hoje?

- Na minha frente.

Fiquei alguns intantes digerindo suas palavras, uma a uma, até entender o que ele queria dizer.

- Pera... eu?! Você é doido? Eu tenho pai, mãe e certeza que não sou um anjo. Ou um demônio... ou sei lá o que aquele bebê era.

- A que horas é o enterro da sua amiga?

- Ás dez. Já era pra eu estar a caminho. Mas por qu...

- Nós vamos ao enterro. - ele se levantou mais uma vez.

Entramos em seu carro e fomos até o cemitério onde o carpo de Bia seria enterrado. Eu não sabia o que Marcos queria, mas eu tinha de me despedir da Bia, de qualquer forma.

Já sentindo meus olhos encherem d'água, e um aperto familiar no meu peito. Entrando na capela do cemitério e vendo aquele caixão ali no meio, muitas lembranças de nós duas passaram pela minha cabeça mais uma vez. Me vi parada na frente do caixão da minha amiga por algum motivo que Marcos não tinha me dito qual. Por que eu o deixei me trazer?

Marcos me tira do tranze em que estava.

- Pega na mão dela. - Um comando simples que eu ainda não entendia o motivo.

- Marcos, Não. Eu já estou bem ruim por vê-la sem vida, obrigada.

- Emy, pega na mão dela.

Olho pra ele com as sombranselhas arqueadas. Não queria sentir a pele gelada da Bia embaixo das minhas mãos.

- É sério. - Marcos colocou a mão no meu ombro.

- Se você estiver brincando comigo eu te mato!

Eu coloco minha mão sobre as mãos de Bia, mas não acontece nada. Olho pra Marcos que movimenta os lábios dizendo "concentre-se" sem fazer som algum.

Fecho os olhos e me concentro na pele fria de Bia, na lembrança de sua voz...

┈ ➼ Quando abri novamente os olhos, parecia que eu não estava no mesmo lugar. Não havia mais ninguém no local, nem Marcos, estava mais escuro, quase tão cinza quanto a casa do sr. Paulo naquela mesma manhã. Eu não estava mais segurando a mão de Bia, apenas via seu caixão vazio a minha frente.

Meu querido anjo da guardaOnde histórias criam vida. Descubra agora