//Capítulo 8\\

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                       》 Sonho

   Estava em uma casa grande onde havia várias pessoas bem vestidas, como em uma festa. Uma dessas pessoas era Bia, perdida e distante. Uma sombra começa a correr em minha direção, ela tinha forma de um cachorro enorme. "Ajuda", pedia ás pessoas a minha volta. Meus gritos saíam como sussurros, não importava a força que fizesse, como se me engasgasse com minha própria voz. Minha garganta doía.
    Cansada de gritar sem resposta, toquei no braço de um senhor de terno que estava a minha frente para que ele me ajudasse. Lentamente o vi se se transformar em cinzas, assim como a mulher de vestido dourado que eu toquei em seguida.
    Bia, agora, estava bem próxima à mim, era a única que parecia me ver. Eu me recusei tocá-la mas, mesmo assim, ela começou a se transformar em cinzas, que foram levadas pelo vento da janela.
   Voltei a minha atenção para o cão de pelos pretos que estava me caçando. Procurei com desespero mas ele não estava mais lá. Não tinha mais ninguém lá. Tudo que eu via eram montanhas de cinzas sendo erguidas pelo vento das várias janelas abertas.
   A sala hávia ficado mais escura e eu estava sendo envolvida por todas aquelas cinzas.

- Eu sou uma assasina!

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    "NÃO É MINHA CULPA!". Era o que eu gitava quando acordei. Devia ter gritado várias vezes, pois, minha mãe já estava no meu quarto, tentando me acalmar quando me sentei assustada na cama. "Calma filha!", ela repetia na esperança de que minha respiração desacelerasse.
    Mesmo depois de beber o copo d'água que ela me trouxe, continuei sentada em minha cama. Desejava que a hora não passásse, apenas pensando que ia ver o rosto de minha amiga sem vida, uma cena antes nunca imaginada por mim.
    8:00 da manhã. Já tinha feito tanta hora em minha cama que podia apostar que minha mãe já estava pronta a horas, mesmo não vindo me apressar. Fazia quase cinco anos que haviamos perdido minha avó, e ela sabia bem que eu precisava de tempo.
   Me levanto sem ânimo e sigo meu caminho até meu choveiro mais uma vez. Minha mãe tinha me comprado um vestido preto no mês anterior que eu não podia imaginar que o usaria em um enterro. O vestido caía bem, não era muito justo, tinha um pequeno decote em V e não era muito curto.
Teria continuado a colhecionar detalhes do meu vestido ou de qualquer outra coisa enquanto me olhava no espelho só para não pensar no motivo de estar de preto naquela manhã, mas minha mãe me interrompeu abrindo a porta do meu quarto.

- Pensei que não iria, filha.

- Claro que vou, mãe. Eu preciso me despedir, não é? - dou um sorriso fraco. - obrigada por "me fazer dormir" ontem. - fiz aspas no ar.

Ela apenas sorriu e assentiu com a cabeça.

- Estamos te esperando lá em baixo. - ela fechou a porta lentamente.

    Foi um completo silêncio no caminho. Meu pai não tinha faltado ao trabalho para nos acompanhar. Eu não estava surpresa, apesar de ouvir minha mãe falar que mais de uma pessoa me esperava, talvez acreditando que papai fosse nos levar.
   Chegamos á casa do Senhor Paulo e o clima pesado nos encontrou antes mesmo de passarmos pela porta. A casa parecia sem cor, cinza e sem... vida.
    Vejo vários parentes e amigos em volta do caixão. Alguns chorando, outros com olhares assustados.
    Vou até a mãe de Bia assim que a vejo e apenas digo "meus pêsames" á ela. Seu rosto á entregava. Semblante de quem tinha dormido pouco ou nada na madrugada que passára, coberto de lágrimas e saudade.
   Depois de dar meus pêsames ao Sr. Paulo, era hora de ir até o caixão ver Bia e me despedir. Era o que eu estava adiando desde as 6 da manhã. Meus passos eram lentos e eu já sentia a sensação de querer apenas me esconder, como uma criança assustada.
    Agora eu encarava o rosto pálido de Bia, sem expressão alguma. Apenas chorei pensando em sua risada, em nossos momentos juntas, em ela chegando atrasada no meu aniversário... grata a mim mesma por não ter me dado o trabalho de me maquiar naquela manhã.
     Não podia mais olhar em seu rosto. Fui andando rápido em direção ao banheiro, mas ele estava fechado. Então, me encostei na parede branca, abaixei minha cabeça e deixei minhas lágrimas descerem doloridas mais uma vez, me sentindo mais sozinha que nunca.
     Depois de longos minutos, a porta do banheiro se abre. Era minha mãe e ela demora um pouco pra perceber que sou eu quem estou chorando e quase passa por mim.

Meu querido anjo da guardaOnde histórias criam vida. Descubra agora