6. O treinamento

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Abraham acordou no outro dia cansado, os dias que ele cavalgou sem descanso para chegar até o vilarejo pareciam distantes.

Ele se levantou e olhou para o lado onde Chapéu dormia. Era confuso a olhar assim tão tranquila, mesmo que ela fosse educada e gentil era também sempre preocupada e com pressa, mas enquanto dormia parecia realmente calma como uma mulher segura deveria ser.

- É linda... – ele disse sem pensar.

- Obrigada.

Abraham se assustou com a resposta e notou que Chapéu havia acordado. Ela usava uma camisola qualquer, mas isso só o deixava mais nervoso perto dela. Ela se levantou com pressa e ao contrario de outras mulheres não parecia incomodada que ele a visse assim. Abraham levantou e pegou suas roupas rápido saindo do quarto para trocar de roupa em outro lugar e Chapéu apenas riu. Ela sempre achava engraçado seu jeito conservador de quem jamais deixaria que outros o vissem com as roupas que acabava de sair da cama.
Ela levantou e colocou ainda a mesma roupa do dia anterior por que ali o tempo ainda era quente mesmo com o inverno próximo e por último sua capa. Quando chegou até a entrada viu quem menos queria.

Lembram-se quando eu disse que não havia nada que ela odiasse tanto quanto Adam e que era um dos poucos momentos em que ela demonstrava o que sentia? Ele era quem estava sentado ali agora. Era um garoto risonho e metido. Ele possuía o mesmo cabelo preto do pai e os olhos eram verde escuro como os da mãe, possuía uma barba espessa – apesar de não ser nunca parecida com a do pai – e era também muito alto. Ele era bonito, todas as garotas do vilarejo mesmo eram apaixonadinhas por ele, mas não havia ninguém que o odiasse tanto quanto Chapéu.

- Chapéu, minha querida, veio reatar nosso noivado? – ele perguntou irreverente – não pense que vou aceitar você tão fácil depois que quase quebrou meu nariz.

Chapéu sentiu o sangue ferver no mesmo momento e mesmo Abraham notou que sua feição havia mudado. Ele ficou entre meio os dois e viu que ela queria muito ao menos arrancar alguma parte dele fora.

- Não pense que por que eu estou aqui vou conversar com você.

- Acho que está conversando agora. – ele sorriu satisfeito.

- E é o máximo da minha voz que você vai ouvir depois do que fez.

- Aquilo era só um pequeno medalhão, minha linda, não tem de ficar tão brava. Não combina com os teus lindos olhos.

- Apenas um medalhão?

A voz dela era fina e baixa, e como uma cobra parecia pronta para atacar Adam até que não sobrasse mais nenhum pedacinho.

- Exatamente, finalmente parece menos descontrolada.

- Aquele medalhão era a única coisa preciosa que meu pai possuía. Era um medalhão de prata com o brasão da antiga ordem e da nossa família. Meu pai lhe confiou seu maior bem e você simplesmente o apostou e o perdeu.

Abraham sentiu Chapéu ainda mais nervosa. Ele nunca a viu falar tanto em pouco tempo.
- E mesmo assim eu lhe pedi perdão. – disse ele ainda irreverente – Você não poderia apenas sorrir pra mim com esses lindos dentes, pedir desculpas por tudo e quem sabe... voltar a ser minha noiva?

- O que? – ela levantou a mão, mas a abaixou no mesmo instante fechou os olhos com força até se controlar – perdoe-me David e Adelaide – ela pediu quando finalmente os viu.

- Não há o que perdoar. – disse David realmente desconcertado.
Chapéu comeu com pressa o café da manhã e logo saiu para ver os dois cavalos. Rajado estava radiante ao ver ela com duas maçãs na mão e Tulip parecia entusiasmada também.

chapeuzinho vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora