9. A Irmã

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Eles ainda cavalgaram por mais três dias até chegarem a terra dos orvalhos.

Mas quando chegaram Abraham não pode deixar de se impressionar. Ela era muito maior do que ele se lembrava e pelo menos o triplo de tamanho da terra das pedras. A cidade que se encontrava ali era tão grande que mal se via o castelo do senhor da cidade ao extremo norte, os muros que cercavam todo o reino eram maior que todas as árvores presentes ali e os guardas estavam a postos em todos os cantos sempre alerta e bem armados. Abraham parou para pensar e percebeu que se tivesse sido pego ali jamais conseguiria sair.

- Chegamos – disse Adam – vou levá-los até a minha casa.

A casa de Adam era tão pequena que parecia menor que as casas do vilarejo escondido. Apesar das paredes serem de pedras tudo parecia cair aos pedaços.

- Então era aqui que você pretendia morar comigo? – disse Chapéu desdenhosa.

- Aqui era bem maior, eu garanto. – disse Adam sério colocando as coisas da viagem em um canto qualquer no cômodo quadrado e claustrofóbico – mas eu tive que diminuir a casa para pagar impostos.

Chapéu andou um pouco pelo lugar e entrou pelo único corredor que havia ali e voltou séria.

- Tem apenas um quarto.

- É eu sei. – disse Adam com um sorriso sugestivo.

- Então eu ficarei com ele. – ela disse séria e pegou as próprias bolsas - Você e Abraham podem dormir aqui.

Ela saiu com rapidez da sala e voltou para o corredor estreito, deixando os dois sozinhos mais uma vez. Adam se deitou em um monte de peles de lobo, elas eram tão macias quanto tecidos.

- Ás vezes eu me pergunto como ela tem a audácia de querer mandar na minha casa.

- Não acho que alguém consiga olhar pra ela e não obedecer. – disse Abraham sorrindo – ela tem aquele jeito que faz qualquer um se curvar. Como uma rainha.

Adam riu debochando das palavras de Abraham.

- Aquela menina jamais saberia se comportar como uma princesa. Quanto mais rainha.

Abraham olhou para ele e sorriu de canto enquanto o repreendia com a cabeça.

- Você não faz a mínima idéia de como as rainhas se comportam, não é?

- Você está pronto pra reencontrar seu passado? – Adam disse debochando um pouco na ultima palavra.

- Não sei – ele disse triste e seu coração voltou a bater mais forte e as mãos suaram de nervoso – eu realmente não sei...

Seria justo contar a vocês o que deixava Abraham apreensivo naquele lugar e acho que contarei agora. Não é o que, mas quem. Uma menina de cabelos castanhos e olhos azuis tão parecida em suas feições com Abraham que ninguém poderia dizer que não eram irmãos. Ela era mais velha em idade que Chapéu, mas seu jeito era como de uma criança amedrontada. Sempre suja de fuligens ou coberta de hematomas que os filhos de seu senhor a deixavam, não conseguiam estragar seu belo rosto redondo e infantil, as sempre constantes ameaças de seu dono em usá-la a força fazia dela a melhor em se esconder sempre que necessário e isso jamais estragou qualquer parte de sua integridade. Mesmo a cicatriz em seu rosto era apenas um charme a mais em sua beleza e a outra cicatriz em seu seio esquerdo, uma queimadura de ferro que a mulher de seu senhor lhe fez para que ela parecesse menos bela aos olhos dos homens da casa, não conseguiu fazer dela menos desejosa aos olhos de qualquer um que a visse, mas ou contrario dos olhos de nossa caçadora, que são claros como o dia e parecem o céu limpo e calmo, os olhos dessa mulher eram tão tempestuosos quanto os dias chuvosos, imprevisíveis, rancorosos e até assustadores, o que se opunham a toda a sua beleza infantil. Rachel era seu nome, seu jeito era pequeno como seu tamanho e ela estava a tanto tempo naquele lugar, mas nunca se esquecera de quando chegou ali.

chapeuzinho vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora