Prólogo

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Julho de 2013

Um sentimento ruim dominava seu peito a cada batida desferida na porta. O som ecoava cada vez mais alto, e ele estava a ponto de levar ao chão aquele pedaço de madeira que se colocava na sua frente como uma barreira. A raiva crescente dentro de si fazia sua pele branca tomar um tom rubro e no último soco contra o umbral, enfim, o ouviu abrir. Diante dele estava a pequena Zilá, a empregada, de cabelos brancos, de Letícia Prado.

— Onde ela está? — Pedro indagou, entrando na sala a passos largos.

— Ela... É... — a mulher gaguejava.

Zilá tinha convicção que talvez uma grande tragédia fosse acontecer.

 — Fale agora, Zilá! — Pedro vociferou, sentindo todo seu corpo estremecer de uma ira até então desconhecida por ele mesmo.

 A mulher abaixou a cabeça e apenas apontou para o andar de cima.

 Pedro cerrou o punho e um músculo do seu maxilar saltou pelo ódio que o dominava. Subiu os degraus o mais rápido que pôde. Chegando no corredor dos quartos, diminuiu a velocidade dos passos para tentar ouvir alguma coisa. Ao parar em frente à porta do aposento de Letícia, escutou ruídos de sorrisinhos, fazendo seu estômago embrulhar por completa repulsa. Enfim, deu razão ao seu amigo Murilo, que o contou sobre a traição de sua noiva.

Pedro respirou fundo e se afastou da porta o suficiente para pegar impulso a fim de chutá-la e fazê-la se abrir instantaneamente. O barulho do grito de Letícia e do homem junto a ela foi nítido, ao encararem o olhar fulminante do noivo traído. Ambos estavam enrolados no lençol branco, mas logo o amante se levantou para sair correndo do quarto, o que conseguiu fazer visto que Pedro tinha os olhos flamejantes de ódio contra a noiva, que possuía um temor nos olhos por vê-lo naquele estado de ira.

— Pedro, meu amor... — Ela se levantou com o lençol enrolado sobre seu corpo e foi ao encontro do noivo, querendo aliviar os ânimos.

Pedro se afastou, não a deixando tocá-lo. Ele não gostaria de perder o resquício final de seu domínio próprio. 

 — Mentirosa! Cínica! — ele pronunciou entredentes.

Letícia começou a chorar.

— Você não entende? Ele me forçou, eu não queria nada, mas... — Letícia se lançou sobre o noivo. — Ele disse que se não me entregasse, faria algo contra você.

Pedro se esquivou dela com brutalidade, e a mulher perdeu o equilíbrio e caiu sobre a cama. 

— Acha que eu sou algum idiota para acreditar nisso? — o noivo extravasou sua fúria na porta do guarda-roupa, que ao receber tamanho impacto caiu ao chão.

A noiva continuava a lagrimar.

— Agora eu entendo tudo. — Ele passou as mãos sobre os cabelos. — Conseguiu me enganar por muito tempo, mas a partir de hoje nunca mais acredito em nenhuma palavra sua. Na verdade, espero nunca mais olhar na sua cara!

Ao dar os primeiros passos para fora daquele lugar fétido, por causa da presença dela, ainda de costas, ouviu:

— Nunca vai me esquecer. Serei como uma sombra para você — Letícia declarou com um sorrisinho debochado. — Não será feliz com outra.

“Não mesmo. Nunca mais amarei nenhuma”, disse a si próprio e seguiu seu caminho.

Letícia voltou a deitar na sua cama, achando que tinha conseguido sua vitória, mas só não esperava ouvir o som de muitas viaturas cercando seu prédio. Precisava fugir. Mas sabia que um dia voltaria.

 

Um Perfeito Encanto (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora