Os olhos de Pedro se cravaram na mulher no chão, que estava trêmula com aqueles pedaços de vidros nas mãos. Ele notou como a jovem de cabelos longos e loiros procurava ser ágil na limpeza dos cacos, contudo o jeito estabanado era nítido.
— Como você pode ser tão desastrada? — A irritação dele era profunda.
— Doutor, me perdoe. — Bea se levantou depressa e observou a extensa mancha escura na roupa do juiz.
“Pela fé!”
— Eu tenho uma audiência dentro de uma hora. — Os olhos azuis dele faiscavam. — Como acha que posso me apresentar estando assim?
O tom frio e entrecortado a fez engolir em seco. A postura ereta, a voz grave e a feição rude denunciavam sua personalidade imponente e autoritária. Bea quis responder, mesmo titubeante, mas Andréa interveio, sabendo que, pelo olhar do doutor Bernardi, talvez a moça não durasse um dia a mais.
— Excelência, pedirei que o motorista vá a sua casa e pegue uma nova muda de roupa. Ela não fez por mal — intercedeu pela nova contratada.
— Faça isso, Andréa. — Ele olhou para a mulher de cabelos encaracolados. — E se atente em ensinar bem a senhorita aqui a não cair por onde passa. Preciso de uma auxiliar competente, e não uma palhaça fazendo travessura!
Andréa quis rir ao ouvir aquela sentença, mas comprimiu os lábios, pôs a mão na boca e consentiu com a ordem do juiz, cujo olhar frio e expressão ácida eram demonstrados nitidamente. Para alívio de Beatrice, o homem seguiu seu percurso a passos firmes.
Bea ouviu tudo aquilo e procurou se sentar antes que os nervos alterados a fizessem desmaiar. Misericórdia! O juiz era terrível. Sabia com toda certeza que teria dificuldades de trabalhar com ele.
— Esse homem vai me matar, Andréa. — Bea tinha pavor e vontade de nunca mais olhá-lo.
Ela colocou as mãos no rosto para tentar recompor os ânimos. Nunca imaginou que seu primeiro dia seria lembrado por derrubar café na camisa do juiz. Que tipo de gente era ela que cometia tamanha gafe? Era tudo que precisava para perder o emprego que tanto orava. Andréa não conseguiu deixar de rir pela expressão de horror na face de Beatrice.
— É provável.
Bea arregalou os olhos, prendeu a respiração e pôs a mão no coração. Andréa soltou uma risada um tanto escandalosa.
— É claro que não, sua boba! — Bateu na perna da recém-contratada e se sentou ao seu lado. — É como eu disse, ele é um ser...
— Terrível! Pavoroso! Um homem turrão e cheio de vontades! — a jovem blasfemou contra o novo patrão.
— Não seja tão dura com o Doutor Bernardi.
— Não pode defendê-lo, Andréa — Bea sentiu a angústia predominá-la.
— Beatrice — Andréa se levantou e a olhou com seriedade. — Se não aprender a lidar com o temperamento dele, não poderá trabalhar aqui — enfatizou. — Doutor Bernardi não está interessado que você goste dele, mas, sim, que execute suas tarefas com excelência. Sua função não é de educá-lo, mas servir, digitar e atender pessoas. Só isso. Faça seu trabalho, pois o juiz, sem falta, fará o dele.
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Um Perfeito Encanto (Degustação)
SpiritualBeatrice Mendes precisa de um emprego para sustentar sua família e, num dia de desespero, é chamada para trabalhar no Fórum como auxiliar do juiz Pedro Bernardi. Ele é um homem excelente em tudo que faz, mas dentro do seu coração carrega mágoas anti...