Tosses e espirros constantes era o som da sinfonia que Beatrice ecoava por onde quer que andasse. Depois de três dias daquele banho de chuva, não demorou para a gripe dominá-la de vez. Ela assoava o nariz e tossia, o remédio até havia ajudado um pouco, porém os sintomas do vírus gripal eram nítidos.
— Sua situação não é nada boa, hein. — Andréa chegou perto da colega e a olhou com piedade. — Deveria nem ter vindo trabalhar.
— E ser tida como uma irresponsável por causa de uma gripe? — Bea espirrou de novo. — Não, obrigada. Não quero enfrentar uma avalanche de raiva sobre mim.
— Você fala como se o doutor Bernardi fosse a Fera dos contos de fadas — Andréa riu e estendeu mais um lenço para Bea, que jogou o dela no lixo.
— Ao menos a Fera da Disney tinha esperança de virar um príncipe, mas vossa Excelência aqui não. — A seriedade expressada por Bea chocou Andréa. — Ele não tem esperança. É um ser duro de coração.
— Eita! Parece que o doutor magoou seus sentimentos.
Bea não quis responder e foi dominada por outro espirro, o que fez sua cabeça doer.
— É melhor eu ir para minha sala. Até mais tarde.
Ambas se despediram, e Beatrice entrou no gabinete louvando a Deus por ser cedo e o juiz ainda não ter chegado. Ela respirou fundo e sabia que não deveria ficar remoendo mágoas no seu coração. Fez uma resolução interna de não mais pensar nas ações daquele homem, pois todas as vezes que se prestava a ponderar sobre os motivos que pudessem tê-lo levado a um caminho de frieza tão absurda, sua mente se revoltava e formulava situações que o condenavam. Portanto, estabeleceu manter a maior distância possível do chefe. Beatrice e Pedro eram como óleo e água que não tinham chance de se misturar. Ela estava certa disso.
Após um tempo trabalhando na leitura de algumas petições, com a intenção de entregar os resumos para o juiz, o telefone do trabalho tocou. Ela atendeu.
— Olá, é do gabinete do juiz Pedro Bernardi? — Era uma mulher cuja frequência da fala denunciava seu leve desespero.
— Sim, pois não?
— Meu nome é Giovana, sou uma das organizadoras de uma conferência para estudantes de direito, com foco nos temas da área da infância e juventude. — Apresentou-se.
— Pode dizer o que deseja, por favor? — Beatrice não poderia imaginar o motivo da ligação.
— Seria possível que o doutor Bernardi tivesse a disponibilidade de palestrar, dentro de duas horas, no nosso evento? — A mulher solicitou o convite com certo tremor. — Sabemos como isso é inconveniente em cima da hora, porém, o nosso convidado, doutor Félix Ertel, teve um sério problema de saúde, e indicou o nome do doutor Pedro Bernardi para substituí-lo, pois é tão bom quanto ele nessa especialidade.
Beatrice podia não o suportar, mas não deixava de concordar que talvez não tivesse alguém mais excelente que ele. O homem, em decorrência de suas funções, era magnífico. Até lembrou da coroação em Nárnia quando Aslam disse: “Pedro, o magnífico”. Aquilo combinava com o magistrado turrão na sua profissão. Ela voltou a atenção para a ligação e ouviu algumas outras informações da mulher, então declarou:
— Senhora, eu o informarei de sua solicitação e entrarei em contato assim que possível. — Beatrice não poderia garantir muita coisa.
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Um Perfeito Encanto (Degustação)
EspiritualBeatrice Mendes precisa de um emprego para sustentar sua família e, num dia de desespero, é chamada para trabalhar no Fórum como auxiliar do juiz Pedro Bernardi. Ele é um homem excelente em tudo que faz, mas dentro do seu coração carrega mágoas anti...