A garota que nunca esteve online

Algum tipo de segunda chance

De repente um toque na minha janela. Eu quis que aquela fosse a minha hora, mas pelo visto nem no céu ou no inferno me queriam, pois eu não havia ido fundo o suficiente para atingir alguma veia. Assustada larguei o caco de vidro, esfreguei as mangas do casaco no rosto para enxugar as lágrimas, e mesmo com medo de quem poderia ser, abri.

-Oi. -disse Mason com ar preocupado.

Não haviam palavras para descrever o que eu senti naquele momento, pois só eu sabia o que teria acontecido sem aquele toque. Eu poderia estar morta, era essa a minha intensão, mas algo maior não permitiu que isso acontecesse e Mason ali na minha frente parecia ser um sinal muito além do meu entendimento, algum tipo de segunda chance. Apenas aceitei que deveria ser assim, que eu ainda tinha coisas pra viver e isso graças à ele que apareceu exatamente agora. Na mesma fração de segundo em que ouvi seu "oi", o abracei, grata pela minha vida que acabará de ser salva sem que ele ao menos soubesse.

-Eu meio que segui você o dia todo, eu vi você e as garotas, depois o John, e também te vi na ponte e ouvi o que seus pais te disseram lá de fora e estou feliz por ter tomado essa atitude, porque eu nem imagino o quão mal você deve estar se sentindo e eu nunca te deixaria passar por tudo isso sozinha. Eu tô aqui, como eu prometi e mesmo que você me odeie, eu tô aqui com você. -disse ele em meu ouvido, me apertando forte, mesmo por fora e com meia parede entre nós.

-Obrigada, obrigada, obrigada! Obrigada Mason, você salvou a minha vida.

-Eu nem pensei duas vezes, eu só fiz o que meu coração mandou e agora estou aqui, e não desejaria estar em nenhum outro lugar no mundo, à não ser que fosse com você, pra te levar pra bem longe de tudo isso, de toda essa merda que você não merece passar.

-Acho que a única coisa que eu não merecia agora era você aqui, mas você está aqui, isso só pode ser um sinal. Então eu não vou desperdiçar a minha segunda chance! -sem pensar duas vezes ou em qualquer consequência, o beijei.

Por uma fração de segundo, senti da parte dele a mesma intensidade de emoção, de adrenalina e calor, ele chegou a pôr a mão no meu cabelo, foi recíproco. Mas no segundo seguinte, ele me fez sentir como uma inconsequente, impulsiva e egoísta.

-Não Aspen, não acredito que você fez isso. Eu vim aqui como seu amigo, como alguém que te ama e se importa com você mas como amigo. Eu tenho namorada e a Bethany não merece passar por isso. -me repreendeu ele.

-Eu sei, droga, me desculpa Mason eu simplesmente não pensei, mas por favor não vai embora, não me deixa sozinha. -pedi abraçando-o como se quisesse prende-lo ali.

Ele não retribuiu o abraço, porém era algo compreensível, a única coisa que eu estava esperando de verdade era uma resposta, eu necessitava que ele ficasse, eu necessitava que todos sumissem da face da terra, principalmente a tal Bethany, pra que eu enfim pudesse viver em paz e ter apenas a melhor companhia de todas.

-Eu vou ficar. - me respondeu, friamente. Meu coração bateu aliviado. Lentamente, como quem não queria estar fazendo aquilo, jogou a bolsa para dentro, depois pulou a janela.

-Bem-vindo ao meu palácio! -ironizei abrindo os bracos e mostrando o comodo praticamente vazio.

-Aspen tem sangue escorrendo no seu braço! -quase gritou Mason.

-Nossa, eu nem senti. -menti.

Não era muito sangue, eu havia feito apenas um corte superficial, porém era um pouco largo e como Mason apareceu do nada, eu nem me toquei de ver que fim tinha levado meu pobre pulso que não tinha culpa de nada. Mas preocupado, Mason tirou sua blusa (como nos filmes, ai meu deus!), rasgou uma tira e amarrou onde o sangue estava espalhado para estancar.

-Por que seu quarto tá desse jeito? Você se machucou em mais algum lugar? -perguntou preocupado, checando por olhares cada parte do meu corpo que era visível.

-Não, tá tudo bem, não precisa se preocupar. E sobre o quarto, é uma longa história e estou cansada demais pra falar sobre qualquer coisa, minha vontade mesmo era apagar esse dia e fingir que nada aconteceu.

-Eu sei, eu sei, não vou mais me intrometer nesses assuntos que imagino que sejam difíceis pra você de lidar. Mas, onde você planeja dormir? Esse quarto tá um perigo! Têm como pegar uma vassoura?

-Eu não vou lá fora Mason, tá ouvindo toda essa gritaria? Não quero acabar tendo que escutar coisas sobre mim que não são verdade e que eu não mereço ouvir.

-Tá bom, tudo bem, eu vou dar um jeito nisso aqui. Fica sentada aqui nesse canto. -disse ele colocando sua mochila pra que eu sentasse em cima.

Ele começou a arrastar com o pé todos os pedaços de vidro para perto da porta, e fazer um montinho com eles. Para ter mais segurança ele pegou sua blusa e enrolou em sua mão para passar pelo chão, e se assegurar de que não haviam sobrado resquícios de cacos. Por fim jogou sua blusa junto a eles e veio até mim. Aquela cena me deixou extremamente apaixonada por aquele homem maravilhoso que estava em minha frente e tudo que eu queria era beijá-lo e passar as mãos por todo seu corpo suado. O gosto de sua boca ainda estava na minha.

-Tá mais calma? -perguntou ele ofegante, por ter se abaixado diversas vezes e ter feito tudo muito rápido.

-Sim, agora só quero dormir e esquecer de tudo.

-Vou dar um jeito nisso também, levanta só um pouco. -pediu, pegando a mochila. De lá ele tirou uma jaqueta grande, de couro, e a estendeu no chão em um canto mais seguro, colocou a mochila e deitou sua cabeça sobre ela, estendendo o braço e me pedindo pra que deitasse.

Imediatamente me abaixei e fui deitando, me aconchegado em seu braço. Ele me olhou, eu fiz o mesmo. E nos encaramos por um bom tempo, sem saber o que dizer, sem saber como falar, tentando evitar o desejo de encostar nossos lábios e não desgrudar nunca mais. Até que fechei os olhos por vergonha e só consegui dizer:

-Obrigada por não me abandonar.

-Eu nunca faria isso. -respondeu.