Enquanto for noite, nós somos sonhos

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Deixamos a janela aberta para o vento entrar. Em algum momento da noite mamãe e papai pararam de gritar, acho que se cansaram e decidiram sair pra beber juntos. Eu não havia conseguido dormir por mais cansada que eu estivesse, e quando olhava de canto de olho, Mason também estava de olhos abertos, mas eu não sabia o que dizer a ele depois daquele beijo e de todo o misto de sensações que eu estava sentindo dentro de mim, o amor estava gritando pelos meus poros, e eu só queria tentar parar de pensar nisso, pra que calasse logo.

Eu queria me virar e passar a mão por seu peitoral sem camisa, segurar seu rosto e virá-lo pra mim, pra que eu pudesse encostar em sua boca, mordê-la e beijá-la.

-Aspen. -sussurrou ele, me fazendo acordar do sonho que estava tendo.

-Oi. -respondi em seguida.

-O que você espera da vida?

-Espero que ela pare de me dar tantas rasteiras, não aguento mais me machucar, não aguento mais tudo dando errado de todas as formas possíveis.

-Isso eu também espero. Mas eu estava falando de perspectiva, o que você espera pra sua vida, como você quer que ela seja...

-Quero que ela mude, que fique tudo bem e que um dia eu possa ser completamente feliz, bem bem bem longe daqui e de todos que me conhecem. Quero ir pra um lugar do mundo em que ninguém saiba quem eu sou, e recomeçar, me refazer, me reencontrar, me reconhecer.

-E que lugar seria esse? -perguntou curioso.

-Eu não posso contar, não quero que você saiba onde ele fica, não quero que ninguém da minha vida antiga saiba sobre nada da minha vida nova.

-Mas e se eu me comportar bem e acabar sendo alguém que mereça fazer parte da sua vida nova?

-Acho difícil. Depois de tantos acontecimentos, não te vejo mais no meu futuro, mas sim como uma lembrança do que poderia ter sido, do que merecia ter sido.

-E o que nós merecemos ser?

-Felizes.

-Mas nós podemos ser felizes, Aspen. -disse ele virando pra mim.

-Podemos, mas em felicidades separadas, o que nós merecemos é uma felicidade compartilhada, ser felizes juntos. -respondi virando-me para ele também.

-Se você me disser onde fica esse lugar, eu posso ir atrás de você um dia, pra nós dois vivermos o que merecemos se nada der certo.

-Por quê está falando assim agora, sendo que horas atrás acabou completamente com qualquer esperança que eu tivesse? -questionei.

-Enquanto for noite, nós somos sonhos, Aspen.

-Tenho medo que esses sonhos sejam pesadelos disfarçados.

-Impossível. Eu acredito que a gente tem uma chance, mesmo que não agora.

Depois que ele disse isso, o silêncio voltou a reinar por um tempo e voltamos nossos olhares para o teto novamente, mas minha mente não parava de imaginar coisas, criar coisas, me fazer quase dizer coisas.

Queria colocar tudo pra fora, mas tinha medo de abrir meu coração e Mason o fechar logo em seguida. Ficava pensando e pensando sobre o que ele havia dito "enquanto for noite, nós somos sonhos".

-Bellagio, no verão.

-O que disse?

-Bellagio, uma cidadezinha ao norte de Milão, era uma vila de pescadores e hoje têm menos de três mil habitantes, ela é rodeada por um lago, Lago di Como, e tem vista para os alpes. É lá que você vai me encontrar.

-Parece irresistível, não vou esquecer esse nome.

-Se você chegar lá e não me encontrar com algum italiano, por favor, me agarra e me beija. -disse rindo.

-Eu com certeza não faria diferente. -retrucou, sorrindo também.

O clima voltara à harmonia, quando o telefone de Mason começou a tocar e tudo foi por água abaixo de novo.

-Meu amor, eu estava preocupada que você não respondia minhas mensagens e tive que te ligar. -ouvi, pois o volume da chamada estava compreensível. Mason se ergueu rapidamente e sentou-se no chão.

-Me desculpa linda, eu acabei pegando no sono. -respondeu ele.

-Pegou no sono desde a tarde?

-Sim, até agora, se você não tivesse me ligado eu não teria nem acordado.

-Estranho isso Mason, não é porque eu não estou presente que você pode ficar sem me dar satisfações do que faz, você me mata de preocupação meu amor.

-Me desculpa Beth, eu realmente perdi a noção, estava bem cansado hoje. Tudo bem?

-Tá bom, tá bom eu acredito em você. Agora tenho que desligar, os filhos da minha irmã estão aqui perto e podem acabar acordando, você sabe como são as coisas...

-Claro meu bem, boa noite pra você.

-Boa noite meu amor e não faz mais esse tipo de coisa comigo, você sabe que não posso ficar ligando assim. Eu amo você meu Mason.

-Amo você também. -disse desligando.

Depois de encerrar a ligação ele me olhou. Virei de costas no mesmo instante e ele se deitou de volta no chão, ao meu lado.

E na minha cabeça não parava de repetir a voz da tal Bethany dizendo "meu Mason". Ao mesmo tempo que comecei a sentir uma pulga atrás da orelha sobre ela dizer que não pode "ficar ligando assim". Assim como? Senti que precisava descobrir mais sobre essa garota. Mas no momento era eu que estava ali com o Mason dela...

-Aspen. -chamou ele.

-O quê? -disse com voz séria.

-Vem cá, deita aqui no meu braço ou você vai acordar com um baita torcicolo. -ofereceu.

-Tudo bem, não vai fazer diferença uma dor há mais ou há menos no meu corpo.

-Vem cá garota, deita aqui. -insistiu, com aquela voz sedutora que ele fazia sem perceber.

E quem era eu pra recusar? Relutei um pouco para não parecer tão fácil e recostei minha cabeça em seus fortes braços musculosos pelos quais eu era apaixonada. Aquele momento era meu, depois de enfrentar um inferno de dia, eu merecia aquele gostinho de paraíso.

Caímos no sono finalmente.

A garota que nunca esteve onlineOnde histórias criam vida. Descubra agora