Capítulo 3

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Acordei sobressaltada, levantei no escuro, coloquei uma das mãos no coração que batia descompassado no peito. Eu estava atrasada, pensei tentando lembrar que dia era e qual seria a minha escala de hoje. Coloquei meus pés no chão, ainda tentando me orientar até que peguei meu celular e descobri que era domingo e estava de folga.

Joguei novamente meu corpo na cama e fechei meus olhos em seguida. Suspirei aliviada e lembrei da agitação que foi meus últimos dias. Voltei de Roma pisando nas nuvens, alguns dias atrás, não conseguia parar de pensar no Lorenzo, e por coincidência ou não, no nosso beijo. Embora tenha passado muitos dias desde então, se fechar meus olhos como agora, ainda consigo sentir seus lábios explorando a minha boca com uma avidez que me deixou sem folego.

Todavia, não tivemos qualquer contato desde aquela noite, apesar de ter seu número de telefone, não ousei ligar pra ele uma única vez, embora tenha cogitado essa possibilidade milhões de vezes. No entanto ele também tinha meu número e não ligou, sinal claro de que foi apenas uma noite memorável, demorei para entender. Porém, era muito bem resolvida em questão de relacionamentos e não queria começar nenhum nesse momento, mesmo que o pretendente fosse o Lorenzo. Tivemos um único encontro e apenas isso.

E para não ficar pensando no que não poderia ter, trabalhei bastante nos últimos dias, fiz um voo extra que não estava na minha escala do mês e voei para Nova York duas vezes nesse período, além do voo para a Argentina. Resultado estava exausta e teria dois dias inteiros para me recuperar antes do meu próximo voo.

Permaneci deitada na cama esperando que o cansaço me deixasse seguir até o banheiro. Quando finalmente estava pronta liguei o chuveiro na água quente, apesar de não fazer muito frio no Rio, nessa época do ano. Nada comparado ao que eu estava acostumada durante as viagens, decidi não arriscar e pegar um resfriado, por que tomei um banho gelado.

Sai do banho enrolada na toalha, procurei entre as divisões do meu closet, uma calça legging preta, um top, uma camiseta fininha que costumava usar para correr, escrito em inglês, Don't Matter. Amarrei o cabelo num rabo de cavalo no alto da cabeça e vesti um agasalho e fui na direção da cozinha. Meu apartamento era pequeno, dois quartos e dois banheiros, ideal para duas mulheres que viviam viajando. Tinha um sofá confortável na sala e uma televisão, um tapete felpudo e pufes para acomodar as visitas. A cozinha era menos equipada ainda, eu não costumava cozinhar, meu companheiro para todas as horas era o Ifood e a Juliana também não fazia questão, sendo assim nossa cozinha tinha um balcão que a separava da sala, duas banquetas, onde raramente tomávamos café da manhã, um fogão elétrico, um micro-ondas, uma geladeira e um pequeno armário para guardar as louças que ganhamos dos nossos pais quando anunciamos que iriamos morar juntas. Nossos quartos era um caso a parte, o da Juliana todo organizado, com uma cama enorme que ocupava quase todo o quarto, seu pequeno closet era arrumado por cores. Enquanto o meu uma bagunça só, não tinha nada no lugar certo, minha cama nunca estava feita e com frequência você podia encontrar roupas em cima dela, embaixo e espalhadas pelo meu quarto.

Assim que cheguei na cozinha, percebi que a Juliana tinha passado por ali, tudo estava limpo e organizado. Bufei frustrada porque com certeza ouviria reclamações sobre a bagunça que deixei a noite passada e com razão. Precisava pensar num jeito de remediar isso e compensar minha amiga, caso contrário ela me expulsaria daqui. Olhei em volta procurando o liquidificador e quando o avistei, coloquei em cima da pia e preparei uma das vitaminas que costumava beber toda manhã, não era nada demais e não acho que tinha tanto valor nutritivo assim. Acontece que acostumei a sentir o gosto dos morangos, mamão, maçã, leite desnatado, aveia e lichia, adoçados com algumas colheres de mel.

Aproveitei que estava no pique para correr e desci as escadas do meu prédio num ritmo cadenciado e forte. Quando cheguei em frente ao enorme calçadão que beirava toda a praia da Barra da Tijuca, já estava aquecida e pronta para correr os 4 quilômetros que eu me empenhava em fazer todos os dias que estava em casa.

Embarque Imediato- REPOSTANDOOnde histórias criam vida. Descubra agora