Shuhua

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,⚰️

Sentia Yanan perto demais. Ele estava concentrado espiando o ceifeiro que estava plantado ali há meia hora. As horas estavam passando e quando voltássemos para a cidade da vida, meu tempo estaria esgotado e minha luz jamais iria saber. Escondidos nos arbustos, tentei lembrar da minha vida antes da morte. E de fato me sentia triste demais e na vontade imensa de morrer, talvez desaparecer ou fazer a maldita dor desaparecer. Mas agora, morta, tudo parecia em vão, porque eu havia deixado pessoas que me amavam. E eu sentia tanta falta delas, que vê-las doía tudo em mim. Mesmo que não fosse vivo o suficiente para sentir. Mas doía como inferno.

Talvez não estivesse preparada para ver Shuhua.

— Precisamos sair daqui. – murmuro, esquecendo completamente que estávamos conectados e gostaria de saber o motivo.

— Talvez ele não esteja atrás de você – engoliu em seco, antes de me encarar –, está atrás de mim.

— Por quê estamos conectados mesmo? Aliás, quando você fez isso? – perguntei, puxando uma flor morta dos arbustos. Assim como a mim. Tudo era morto ali.

Yanan olhou para o ceifeiro mais uma vez, antes de voltar para mim e começar a explicar.

— Lembra-se que eu não havia uma luz? – assenti lentamente, compreendendo. – Então, eu cansei dessa... vida? Não sei se posso dizer que é uma vida. Mas eu cansei de ajudar as pessoas a encontrar a luz e eu sentir inveja delas. Quando vimos Soojin, eu senti algo que há muito tempo não sentia. Talvez eu tivesse tido pena, ou saudades como você. – Yanan se calou por alguns minutos, averiguando novamente o território. Eu apenas ouvia tudo compreensiva.  – Bem, enquanto fugiamos, conectei nossas almas... sendo assim, quando você encontrar a luz também encontrarei. E todos seus sentimentos, pensamentos e dores, irei sentir.

Não havia o que dizer, eu não conseguia assimilar nenhuma frase ou reposta coerente, porque era tudo tão novo. E nem sabia que nossas almas podia ser conectadas. E eu sentia pena de Yanan. Droga! Com certeza ele sabe que sinto pena dele. Yanan riu, assentindo lentamente. Segurou minhas mãos e de repente estávamos na casa de floricultura de Shuhua. Senti meu coração se apertar. Observei a mulher que amava loucamente, no seu vestido branco de humanas. Era completamente de humanas, e eu amava esse estilo despojado de Shuhua.

Sorri para Yanan, recebendo como resposta seu consendimento. Estava pronta para tocar Shuhua, mesmo que não pudesse senti-la, ou ela me sentir. Mas eu necessitava tanto disso que poderia explodir se não o fizesse. Contudo, parei no meio do caminho assim que vi um rapaz de sorriso simpático e rostinho fofo se aproximar dela e beija-la nos lábios. Shuhua ria fraco com o toque generoso. Meu mundo, se ao menos tivesse, desabou ali. Meu coração morto morreu de vez, apenas não parou completamente. Mas me sentia deslocada quanto, porque pensava que fosse única para Shuhua e talvez, que ela preferisse meninas. Havia sido trocada por homem.

— Na verdade você não foi trocada. Apenas morreu, ela tem que seguir em frente, Yuqi. – Yanan surgiu de supetão em meu lado com um sorriso sarcástico no rosto de bebê.

— Cala boca, Yanan! – murmuro, observando o casal.

Shuhua estava muito bonita, e aquele rapaz também era. Formavam um casal fofo, até. Só de lembrar que horas antes a vi chorando por mim. Aproximei um pouco mais do casal, vendo Shuhua segurando o quadro que Miyeon pintou.

"Ela vai gostar, Hua... está lindo. – ele disse, enquanto acariciava as costas da minha namorada. – Vocês duas formavam um casal bonito. Quer que eu coloque perto das orquídeas vermelhas?

Ao que parecia aquele homem sabia do nosso caso e por mais que seja louco ele compreendia Shuhua, talvez ela não merecesse alguém mais maravilhoso que aquele homem.

"Se ela soubesse que encontrei essas orquídeas vermelhas, ficaria louca, Kino." – Ela levantou o quadro e Kino riu, pegando o vaso com as orquídeas.

Eu e Shuhua estávamos assistindo um filme de drama adolescente qualquer. Ela estava deitada em minhas pernas, enquanto desfrutavamos da pipoca. Chamei atenção da minha namorada contando sobre o sonho que tive e meu pedido. Shuhua começou a rir, falando que eu era louca. Claro que fique sem jeito, fazíamos dois meses de namoro, e mesmo que a conhecesse desde o último ano do ensino médio, ainda sentia envergonhada diante sua presença. Shuhua era muito delicada e as vezes me causava uma confusão de duplo sentido. Ela disse que faria uma pesquisa sobre, e claro, se existisse procuraria só para fazer uma surpresa para mim como no sonho. Naquela noite fizemos amor, com orquídeas imaginarias em minha cabeça.

— Ela te ama, mesmo que ainda esteja com esse... anão. – Yanan, segurou meus ombros, tentando me confortar. Não sentia as lágrimas, mas sabia que estava chorando. Meu coração estava sangrando.

— Ele não é anão... você que é um poste andante. – balbucio, fungando e indo até a porta.

Fiz meu último pedido, mesmo que já soubesse que não iria realizar. Mas era necessário fazê-lo. Era para um bem maior.

;; after death | yuqi [(G) I-DLE]Onde histórias criam vida. Descubra agora