i-dle

204 23 18
                                    

,⚰️

O além parecia estar em festa. Com fortes trovoadas no céu, a ventania animando as plantas morta. Meu coração também parecia festejar, na solidão latejante após ver que Shuhua havia se apaixonado novamente por um homem. Talvez o fato não fosse ela estar com um rapaz, mas sim ter me esquecido tão rápido.

— Ela não te esqueceu, Yuqi. Ainda te ama, ela apenas precisa de um apoio. – ignorei Yanan se intrometendo em meus pensamentos.

Continuei caminhando naquela cidade isolada e morta. Quando viva pensava que morrer fosse a maldita solução, mas jamais pensei que ao procurar a luz poderia ser tão doloroso e com saudades. Saudades de estar com minhas amigas que se tornaram minha família ao vir morar na Coreia. Pensei que meus problemas seria todos solucionados e a maldita dor que se postava em mim iria embora. Mas então porque doía tanto ainda? Era algum tipo de maldição por eu ter me jogado na frente do carro?

Eu sequer lembrava como tinha sido minha morte, ou de como eu era. Tudo era um quadro enorme em branco dentro de mim. Sequer sabia da minha essência, ou pensava num motivo para estar viva... ou morta. Não me lembrava nem do impulso para me jogar. Mas sabia que doía semelhante ao inferno. Para mim tampouco importava a luz ou não, a única coisa que queria era voltar a viver junto as minhas amigas. Abraçar Shuhua novamente, ou aceitar os sentimentos de Minnie, ou me abrir com Soojin e dizer os deslizes gritantes que ela cometia. Ou dizer para Soyeon que ela poderia se tornar a melhor rapper da Coreia, porque ela era um talento nato ou que eu havia – finalmente – entendido a questão dos seis corações na música. Ou apenas agradecer a Miyeon sobre o quadro pintado ou desistir de vez daquilo e dizer o real significado do sonho. Eu viver eternamente ao lado de Shuhua, sem ta tomando escolhas sozinhas. Ou simplesmente mudando as sensações que tinha, ter procurado ajuda.

Eu me sentia mais melancólica do que viva. Não era um descanso dos problemas, era uma tormenta sobre ver sua vida jogada fora com a morte. Ver as pessoas que te amavam chorar por você e você não poder fazer nada. Era algo muito além, uma ferida profunda jamais cicatrizada. Me arrependia de tudo, de tudo mesmo.

Parei de andar sentando no meio fio gosmento. Meu rosto gelado, eu senti as lágrimas invisíveis descendo devagar e meu peito se apertando cada vez mais. Talvez eu poderia ter aproveitado mais minhas amigas antes de tomar uma decisão erradica.

— Dizem que quem se suicida é mais difícil encontrar a luz, porque era aquilo que a pessoa queria. – Yanan começou, sentando-se ao meu lado. Olhei-o de soslaio, querendo que ele desaparecesse. Para sempre. – Estamos conectados. Ou seja, se você não tiver uma luz também, ficaremos sofrendo junto.

Ele riu descontraído. Eu queria muito não falar com Yanan, porque eu estava num momento reflexivo da minha morte, pensando sobre ela e suas consequências. Ou tentado lembrar de quando era viva. Era um sacrifício. E de fato era verdade, tua vida, lembranças, passam diante de seus olhos antes de morrer completamente; e jamais voltam. Você as esquecem e nunca existiu.

— Você cometeu suicídio? – pergunto, depois de perceber seu comentário. Ele assentiu lentamente, olhando para o pequeno redemoinho quilômetros longe da gente.

— Estava farto, sabe... a vida as vezes cansa, mas temos que ser fortes. Na verdade, o que é a vida? – fiquei calada, porque jamais saberia responder aquela pergunta. Principalmente quando ambos são suicidas. – Apenas estudar e trabalhar para ter uma vida estável sem misérias. Apenas correr contra o tempo, ter momentos bons e ruins. Todo mundo passa por isso. Depois que morri e fiquei tanto tempo aqui, eu soube o significado de viver. Mesmo que seja doido. – ele riu fraco, a franja escondendo seus olhos lacrimejados. – Viver é você apreciar coisas que não vemos aqui e jamais veremos. Ver coisas raras acontecendo, mas também ficar propenso á fenômenos. É poder respirar junto com a pessoa que gosta, a sensação de gostar de uma pessoa ou de qualquer coisa é tão... gratificante, maravilhoso, você se sente como se estivesse literalmente no céu. É você poder se amar, se descobrir, se abrir, se deixar levar. Você tem que deixar ela decidir e não você. Você é apenas o fantoche da vida.

— Ela nos controla, mas estragamos com nossas escolhas... as vezes certa ou errada. – completei, fechando meus olhos. Tomando a decisão certa agora.

De repente estávamos na enorme sala de estar do apartamento de Miyeon. A tradição das meninas nunca acabara. Sorri ao vê-las com as caixinhas de fotos. Tinha todas as fotos nossas, desde pequenas a grandes. Encostei nelas, admirando completamente minhas amigas e da forma que nossa amizade crescia, com entendimentos e desentendimentos.

— Yuqi, falta apenas um dia para completar um ano. Precisamos saber se elas são sua luz ou...

— Sim, eu entendi. – balancei a cabeça, relembrando da última terça-feira de amigas.

Soojin voltava da cozinha com duas bacias enormes com pipocas, enquanto tentávamos nos acomodar nas almofadas no chão prontas para assistir meninas malvadas pela 15° vez. Era nosso filme favorito, e quase todas as terças assistíamos. Era nosso ritual da noite. Soojin estava reclamando para Minnie não comer toda a pipoca. Minnie amava pipoca. Nós riamos quando Miyeon perguntou o sonho de cada uma. Todas falaram seu sonho. Eu lembro que havia dito que queria nossa amizade eternamente. Todas ficaram fazendo gracinhas a qual Shuhua teve uma ideia, na verdade uma promessa que todas tinham que cumprir. Permaneceramos juntas, não importa o quê. Sempre amaremos e viveremos juntas. Porque somos uma família. Promessa? E todas responderam promessa.

— Eu falhei. – digo depois de um tempo. – Me desculpe.

"Permaneceremos juntas não importa o quê, Yuqi. E você jamais falhou, nós te amamos e sabemos que você também nos amava. Futuramente, nós te encontraremos. Promessa!" – Miyeon começou, assim que a porta apareceu. Yanan me puxou delicadamente.

"Promessa!" – foi a última coisa que ouvi, antes de tudo ficar branco.









// me perguntava de como seria a morte e surgiu isso. seguido de alguma ajuda para pessoas que pensavam em se suicidar e pensar duas vezes antes de fazer isso, mesmo que seja difícil, mas temos gente que nos ama profundamente e ficara muito triste com isso. confesso que essa fic foi uma lição para mim também em repensar sobre o suicídio ou a morte em si.

enfim, tirei essa teoria de como seria a morte da minha imaginação. eu iria pesquisar algumas coisas mas a preguiça me venceu quando só via coisas que não batia tanto (a maioria religiosa cristã)

teoria em aberta, mas acho que está óbvio.

obrigada por lerem ♥️

;; after death | yuqi [(G) I-DLE]Onde histórias criam vida. Descubra agora