Profundezas

O bem mais precioso

Capítulo 4

"As coisas as vezes podem estar difíceis demais para suportar, mas depende de você, se entregar e desistir ou lutar e se superar"

_Évelly Cristina

As braçadas estavam cada vez mais rápidas, a respiração cada vez mais curta e o coração cada vez mais acelerado. Ela já estava encarando a faixa preta no fundo da piscina há horas, mas amava aquilo, era sua terapia, a única coisa no mundo que podia a acalmar mesmo em seus piores dias e a fazer esquecer todos os problemas enquanto nadava, por mais complicados que eles fossem. Logo ela chegou novamente na borda e fez a virada, tomou impulso, ondulou submersa a água e quando conseguiu se alinhar à superfície recomeçou o nado. Aos poucos ela ia acelerando, era um exercício que simulava a prova na própria competição, mas feito várias e várias vezes.

A garota nadou os últimos metros o mais forte que pôde, afinal, os últimos são sempre os metros decisivos em uma prova, pois se o atleta deixa a intensidade e a velocidade caírem no final ele coloca a prova toda a perder. Quando ela finalmente bateu a mão na parede e pôde respirar sem ter que se preocupar com o tempo em que teria até colocar o rosto novamente na água já tinha seu tempo contado para mais uma série de 100 metros.

- Você tem trinta segundos - Toddy, o técnico, a alertou enquanto ela tomava alguns goles do suplemento em sua garrafinha preta com pequenos corações espalhados por todo o objeto. - Dez segundos. E vê se agora faz força, é o último. Se não fizer este tempo - apontou para o tempo que havia acabado de escrever em um tamanho visível á distância na folha Branca de seu caderno para que a menina de touca preta pudesse ver - irá recomeçar toda série. Prepara..

Ele assobiou e ela tomou um forte impulso, fez uma rápida e longa ondulação e começou a nadar. Nadou tão forte que quando bateu a mão na parede e pôde novamente deixar seu corpo descansar um pouco ouviu o "click" do cronômetro, era o botão que mostrava o tempo.

- Boa, Ferraz! - ele exclamou com um claro tom de satisfação. - 1'07"22, nada mal pra quem está fazendo o vigésimo quinto tiro de cem metros. Solta duzentos metros e pode ir pro vestiário. - disse e voltou a dar a largada para os demais atletas.

"Nada mal", ela estava super feliz em ter aguentado a series toda sem pedir um tempinho a mais para descansar e era isso que ele dizia? Nada mal. Mas parando pra pensar, talvez essa no fim fosse a sua função além do treinamento, reconhecer a vitória mas nunca dizer que está bom, sempre enxergar algo a ser melhorado. Afinal, o quê seria de um atleta sem um detalhe a melhorar? E o quê seria da natação sem a sua infinidade de detalhes? No fim, Toddy estava certo.

Ela tirou o óculos, que estava tão apertado que já deveria ter deixado sua marca ao redor de seus olhos, afundou na água e tirou a touca, viu seu longo cabelo escuro brincar debaixo d'agua. Posicionou as mãos na borda da piscina e forçou seu corpo para cima. Quando juntou seus materiais que estavam ao lado do bloco, se despediu do treinador e seguiu caminhando lentamente, de acordo com as poucas forças que ainda tinha.

Ela pegou sua mochila no meio de tantas outras e se dirigiu á porta da área da piscina, estava tão destra da que não percebeu que alguém havia aberto a porta alguns milésimos de segundos antes que pudesse forçar a porta e acabou dando de cara com a pessoa que havia realmente aberto porta.