Capítulo 5

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O silêncio dessa ala do escritório é como uma faca de dois gumes; ao mesmo tempo em que me permite não ter que interagir com pessoas que me tiram do sério com apenas um olhar, me prende a esse canto recluso em que o único ser humano com quem interajo é Vinicius. Quando ele resolve aparecer, o que definitivamente não é o caso hoje.

Andei pelo andar durante a manhã e parece estar mais vazio do que o normal. Eduardo não está em seu escritório e sei que foi resolver o que quer que tome seu tempo no galpão que poderia facilmente ser delegado a um subordinado. Juliana não mostrou o ar da sua graça irritante também. Priscila saiu cedo para cobrir as reuniões que não eram de responsabilidade inicialmente e o restante dos diretores executivos está trancado em suas salas; a única voz que ouço pelos corredores é do novo contratado que parece não ficar quieto por um segundo.

Não consigo mais contabilizar quantas vezes apaguei o que comecei a digitar com o documento aberto na tela do computador. Há semanas o arquivo está aqui sem que eu consiga concluir uma tarefa que deveria ser simples, mas faz-se impossível.

Cada vez que aquele homem se aproxima com um sorriso despretensioso no rosto e uma postura falsamente profissional, eu me questiono. Por um segundo, pergunto-me se não estou perdendo o juízo e ficando completamente louca de me sentir tão desconfortável perto dele. Pergunto-me se o mal-estar que percorre meu corpo sempre que sinto o cheiro do seu perfume quando se inclina na minha direção não é pura frescura minha. Pergunto-me se há justificativa para o arrepio incômodo que corta minha pele como uma faca afiada sempre que seus dedos esbarram em mim, seguido por um pedido de desculpas entre sorrisos.

Então volto a digitar, a acertar o teclado com meus dedos agitados e perdidos, tentando colocar senso na carta de demissão que toma forma na tela do computador. No fundo sei que nunca será concluída. Sempre que ele está por perto, é como se uma parte minha tomasse coragem, mas o alívio que se segue quando o escritório está vazio mina qualquer decisão.

Não é tão ruim, é? Estou trabalhando para o presidente de uma empresa, sendo bem paga, com horários de trabalho que não são abusivos. Ele quase nunca está aqui, posso aguentar alguns dias na semana de desconforto.

Quem é que gosta do chefe, afinal?

Meu celular toca, estridente em cima da mesa, e não hesito um segundo antes de alcançar o aparelho e levá-lo ao ouvido quando vejo o nome de Lívia na tela.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto antes mesmo que a mulher tenha chance de dizer uma simples palavra.

E aí está, o motivo pelo qual nunca vou pedir demissão. A simples ideia de que algo possa acontecer à minha avó e ela fique desamparada não me permite sequer considerar dar um passo em falso neste momento.

Não, está tudo bem, dona Fernanda — responde de imediato e mal consigo prender o suspiro aliviado. Sequer consigo formular a bronca de sempre que dou quando ela me chama de "dona". — Sua mãe esteve aqui mais cedo, você me pediu para avisar quando alguém viesse visitar.

Conexão Despertada [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora