De um momento para o outro, eu já não estava sentada sozinha mais. Geralmente, me reunia com aquele grupo, que variava de quatro a cinco pessoas. Sempre transitando. Parecia um organismo vivo. Se uma saia, outra tomava seu lugar. Não poderia se tornar muito ácido nem muito básico. O equilíbrio precisava ser mantido e, se me perguntassem, eu não interferia em nada no ph.
Eu só estava lá. Sentada. Mal interagia. Não conseguia, não era do meu convívio conversar com tantas pessoas. O corpo humano talvez não tenha sido feito para ter três conversas paralelas ao mesmo tempo, ou ao menos o meu não era, mas isso não era requerido de mim. Eu apenas precisava sentar e oferecer meu braço para ela abraçar. Ela. Alana. Por algum motivo que eu não conseguia compreender, ela havia pegado gosto em ficar abraçada ao meu braço. Claro, ela agia como se gostasse de mim e eu retribuia o afeto como conseguia. A essa altura do campeonato, não seria de se assustar que eu não fosse a melhor em conseguir transmitir minhas emoções, mas eu tentava como podia.
Ela era macia e cheirosa. Tinha cheiro de rosas. Eu nunca cheirei uma rosa.
Nossos dias eram sempre os mesmos. Eu chegava cedo na escola, não a encontrava apesar de procurar por ela sempre que eu pisava com os pés no chão do colégio, e ia para minha sala. No intervalo nós nos encontravamos. Eu não fui de encontro com ela nos primeiros dias. Mantive minha vergonha e timidez e esperei ser convidada, mas ela sempre vinha atrás de mim ao me encontrar e ela parecia me procurar todos os dias até que não era mais necessário as vigias das escadas. Não falavamos mais que o necessário. Oi, oi. Tudo bem? Como foi a aula? Chata. Ah. Já comeu? Quer que eu pegue algo pra você? E eu quase sempre pegava. Não me incomodava a pequena caminhada até a cantina. Eu gostava de agradar ela.
Esse era o efeito que ela parecia ter em todo mundo. Todas as pessoas gostavam de agradá-la. Seja com um presente aleatório, um elogio a mais ou uma ida à cantina para pegar seu lanche.
Achei que ela era mimada. E era. E aquilo não me incomodava. Por algum motivo, gostava de mimá-la e ela nunca me exigiu nada. Eu fazia porque queria fazer. Eu gostava de ver o sorriso discreto em seu rosto pequeno surgindo assim que eu aparecia com um salgado em uma mão e um suco, que não posso dizer que era natural, na outra. Ela tomava tudo, devorava os salgados. Como ela conseguia manter-se tão magra?
Num dia, ela não apareceu na aula. Foi estranho. Eu notei. Eu sentei no meu canto, longe de todo mundo, como na primeira vez que ela me chamou. Esperei que ela aparecesse e viesse me buscar, mesmo que, geralmente, não fosse mais necessário.
Ela não apareceu no segundo.
No terceiro, veio. Mas não queria comer. O seu casaco havia ficado mais escuro. Ela havia trocado. Eu estranhei, mas não comentei. Pensei que, se ela quisesse falar do seu sumiço, ela mesma falaria. Mas ao mesmo tempo pensei que, se eu não perguntasse, eu estaria sendo insensível e não mostrando que me importava. Eu precisava mostrar a ela que me importava. Nós eramos algo. Namoradas? Não. Mas algo.
Eu ia perguntar, quando ela me chamou.
— Você quer ir depois da aula pra minha casa?

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Laura.
Fiksi PenggemarNo auge de seus dezesseis anos, Laura se vê presa em um relacionamento com uma das meninas mais populares de seu colégio. O que aparentava ser uma relação saudável e amorosa entre as duas acaba se tornando algo que ela não esperava, até que uma nova...