Capítulo 5

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A morte de Jackson Whitlock

30 minutos após a fuga

A noite era espessa a as nuvens estavam pesadas demais. O raios rompiam entre a tempestade, cortando o céu com toda a sua fúria e luminosidade.

Novamente as mãos de papai estavam me envolvendo e a sua voz parecia acalmar qualquer nevoeiro que estivesse se formando dentro de mim. Mamãe estava ao seu lado segurando algum brinquedo bobo enquanto fazia cócegas em minha barriga.

— Vai ficar tudo bem, meu filho. É só mais uma noite fria, fria e também passageira.— Os dedos do meu pai tocam levemente meu nariz. Sua aparência era um tanto quanto engraçada, cabelos cresciam desordenadamente por baixo do boné de algum time de baseball que usava, suas roupas eram descoladas demais para sua idade e até o óculos perfeitamente redondos lhe davam um ar mais jovem.

Logo logo estaremos todos seguros novamente.— Mamãe nos envolve em um abraço caloroso enquanto ainda mantinha o mesmo sorriso no rosto.

Em seguida todos nós entramos em uma repentina combustão coletiva. Ainda fortemente abraçados mesmo com as chamas crepinando através dos espaços abertos e a sensação dolorosa estar consumindo completamente nossas peles. Gritamos de agonia em uníssono enquanto nossos corpos permanecem parados sendo totalmente devorados pelas chamas.

Acordo com os gritos de agonia ecoando em meu ouvido e a voz de Thomas ao fundo.

— Ufa! Que susto cara. Achávamos que você já estava no além.— Era incrível poder acordar e ver que Tom já estava com uma aparência melhor, que estávamos enfim livres de todo o sufoco que a Castellan nos trouxe. Logo a visão de Ash sendo derrubada por todos aqueles guardas me vem a memória e tudo parece está incerto novamente.

O tremendo vai e vem e a sensação de estar dentro de um liquidificador me lembram de que ainda estavamos no estranho ônibus escolar. Meus olhos demoram a se adaptar a luz e minha cabeça ainda parece estar em chamas até eu enfim conseguir identificar algumas coisas do lugar: o banco velho em que estávamos sentados, as ataduras um pouco molhadas de sangue em meu braço, Thomas sentado ao banco à minha esquerda, o estranho fedor de chiclete, vômito e tudo de ruim que o mundo possui, todos condensados dentro do ônibus, a floresta ainda cobrindo o caminho em qualquer direção que olhassemos e a multidão de pequenos olhos me encarando fixamente.

Me assusto levemente ao notar todas aquelas crianças mantendo seus olhares atentos em minha direção.

— Ah, elas são de Seattle.— Tom fala discretamente ao notar meu espanto diante daquilo. Só então percebo alguns curativos espalhados pelo seu corpo também: duas longas ataduras em seus pulsos, alguns band-aids em sua testa e no seu antebraço esquerdo, ele realmente parecia muito melhor do que quando o havíamos achado no chão daquela cela.— Me falaram que estão indo para uma escola militar, campo de treinamento, algo desse tipo. Só não sei que espécie de... coisa militar admite crianças de uns dez anos de idade.

Permaneço parado encarando cada uma delas na esperança de que alguma desistisse, já estava ficando muito esquisito ter que fingir entender o que estava acontecendo.

— Então...— Um garotinho com aparentemente 12 anos se inclina sob a cadeira em que estava em pé e se aproxima um pouco mais. Seus cabelos extremamente lisos e em um tom loiro que quase atingia o branco completo caiam em sua testa e alcançavam sua nuca, seus olhos verdes eram indescritívelmente penetrantes, se anjos existissem eu teria a plena convicção de que aquele garotinho seria um.—É verdade, digo, o que dizem sobre...— ele deixa a frase pelo ar (talvez na intenção de que eu entendesse, porém tudo o que penso é em como fomos parar ali dentro).

Os Artefatos Elementares - A iniciação Onde histórias criam vida. Descubra agora