Com o pôr do Sol quase completo, o grupo se aproximava de Raialun, uma placa curvada com o nome da vila estava apoiado em dois tipos de postes cerrados de uma maneira mal feita, seguido dos postes haviam grandes estacas de madeira afiadas,que cercavam o vilarejo, talvez servissem de proteção para algo maior que rondava ali.
Raialun não era um enorme reino e também estava longe de ser um lugar majestoso, era apenas uma vila com várias casas de madeira, haviam muitos estabelecimentos comerciais como tavernas, lojas de armas e itens e até mesmo estábulos para se alugar cavalos.As ruas eram bem lotadas, poucas crianças eram vistas ali, a maioria eram adultos ou velhos com rugas e suor destacados, pareciam bem intimidadores quando cruzavam seus olhares com Recky, o único que se sentia desconfortável ao ver as pessoas dali, porém o garoto estava entusiasmado e tentando manter a aparência, ele não sabia mas algumas pessoas o observavam, estava mais para uma admiração, alguns se lembravam dos feitos de Recky antigamente, uma pena o próprio garoto não se recordar disso.
Para os demais não era grande coisa, pra Recky no entanto, tudo lhe parecia uma nova experiência, mal sabia o garoto que antes de perder as memórias sobre Thungarden ele e o grupo já haviam passado por ali várias e várias vezes.-Vamos descansar na pousada Chifre de Unicórnio, mas é melhor comermos primeiro.--disse Farenthor, apontando com uma das mãos onde ficava a pousada, ele estava passos a frente do grupo, que andava lado a lado, sob a lama que sujara as botas e coturnos dos caçadores e o tênis de Recky.
-A gente precisa comer no Gifiok, a comida lá é muito boa sem falar na bebida e, vamos logo, vai ventar na minha barriga de tão vazia que ela está.--disse Nózitus em um tom bem preguiçoso, ele franziu as sobrancelhas ao lembrar que pra poder dormir teria de comer primeiro, sua preguiça aumentou após isso.
-Está bem, não arrumem confusão, enquanto vocês comem eu irei pegar a recompensa pelo grifo.--disse Farenthor, todos concordaram e viram o enorme guerreiro ruivo sair caminhando com a capa cinzenta enrolada na cabeça da criatura morta momentos atrás.
Todos entraram para Gifiok fazer suas refeições, exceto Recky, que observou Farenthor seguir até uma espécie de quadro que terminava no fim da rua na qual estavam; o quadro que ele observara, era de madeira escura cheia de folhas de papel velho pregadas nele, Farenthor ao chegar lá tirou uma das folhas e seguiu seu caminho por entre a grande quantidade de pessoas, sumindo de vista, Recky deduziu que as folhas eram os contratos das caçadas, e não errou em seu palpite, em seguida Lizen o chamou para entrar na taverna, Recky deu uma última olhada na multidão e foi junto ao grupo.
Dentro da taverna Gifiok todos se sentaram em volta de uma mesa redonda, o lugar estava lotado, várias pessoas estavam conversando com o vendedor no balcão, outras estavam bêbadas e com copos de bebida em mãos, alguns cantarolavam, outros discutiam e mais alguns jogavam conversa fora.
-Certo...pato assado...frango...aaah já sei já sei, que tal costelas de urso negro?--sugeriu Nózitus.
-Urso?!--disse Recky engolindo em seco com os olhos arregalados.
-Aqui é comum, é como se fosse a carne de porco na Terra, o gosto é uma delícia.--disse Nelfi, a garota após dizer isso perguntou se todos estavam de acordo com a sugestão, todos concordaram dizendo que sim, exceto Licci que apenas acenou com a cabeça e mantendo seus olhos fechados, a garota não disse uma só palavra desde a queda do grifo na floresta.
-Certo...Recky, venha comigo até o balcão, vamos fazer o pedido, e também tem uma pessoa que quer te ver lá.--disse Lizen se levantando do banco de madeira oca no qual estava, ao sair, Recky foi atrás.
Ao dar alguns passos os dois amigos chegaram no balcão, lá um homem meio gordo de bigode bem grosso e de avental castanho que parecia estar sujo de farinha, olhou para Lizen, então, largando o pano no qual ele enxugava um copo ele disse:
-Aa meu caro Lizen, já faz alguns meses desde que não voltam aqui.--disse o homem calmamente com sua voz xiada.--e este outro rapaz que te acompanha é...minha nossa, então...ele voltou?
-Pois é ele tá de volta.--disse Lizen sorrindo.
-Por fim resolveu voltar para acabar com meu estoque de comida junto com seus amigos não é rapaz?--disse o homem rindo em quanto se inclinava para trás, ao que parecia, Recky era bem querido por ali.
-Recky este é Gifiok, dono de uma das melhores tavernas da região.--disse Lizen fazendo gestos com a mão apresentando seus dois amigos um ao outro.--sabe acho que não vou me acostumar a te apresentar pra pessoas que você já conhece, é bem estranho.
Recky então voltou a não entender mais nada, apenas deu um aperto de mãos e sorriu sem jeito para o homem que parecia ser bem simpático e bondoso.
-É um prazer revê-lo garoto, você cresceu um pouco, vejo uma pitada de... diferença em seus olhos, éé...perder a memória deve ser algo complicado...--disse o homem olhando para o garoto que agora ainda mais tímido, apenas sorriu de canto.--mas enfim, o que vão pedir?
-Vamos querer costelas de urso negro e....--nessa hora Lizen se apoiou no balcão dando uma rápida olhada para trás, se certificando de que alguém específico não o olhava.--e me trás uma cerveja, rápido, manda o caneco!--disse em apressados cochichos.
-Muito esperto querendo se embriagar um dia antes de uma caçada.--disse uma conhecida voz grossa.
-Droga...--disse Lizen fechando os olhos e sorrindo, como se fosse uma rendição.--de onde você veio? Olhei pra trás agora mesmo.
-Exato, você olhou para trás, eu estava ali do lado.--disse Farenthor.--trás a sem álcool pra esses aí.
-Certo...bom te ver Farenthor.--disse o homem anotando o pedido rindo em meio a uma tosse abafada.
-Igualmente Gif, senti falta desse lugar, aliás, vou querer um hidromel do sul, caneca de meio litro se possível.
-Cara, que injusto!--reclamou Lizen.--ficamos com cerveja sem álcool e o bonitão aí se entopindo de hidromel.
-Ninguém aqui hoje quer ser abraçado e ouvir que é muito amado por você.--disse Farenthor ironizando situações passadas.
-Aah então você é desses?--caçoou Recky.
-Não acontece sempre, beleza?--respondeu Lizen um pouco constrangido.
-Haha sei.--respondeu Recky.
-Hey--falou Gifiok.--acredito que o urso tenha de vir acompanhado por batatas assadas a pedido do...
-GIF!OI!--gritou Nózitus interrompendo a frase do taverneiro e acenando da mesa onde o grupo estava.
-A pedido do mago mirrado.--terminou Gifiok gargalhando como um avô matando a saudade em ver o neto.--ele ainda é preguiçoso?
-Ele nunca muda.--respondeu Lizen contente.
-Entendo entendo, o pedido de vocês chegará num minuto, fiquem à vontade.--disse Gifiok em quanto se virava e indo para a cozinha da taverna preparar a refeição e as bebidas.
-Agradecemos.--disse Farenthor, assim ele e os dois garotos voltaram para a mesa onde estavam os outros.
Alguns instantes depois chegava o pedido à mesa, nesse mesmo momento, Recky notara que muitas pessoas cochichavam olhando para Farenthor, o guerreiro parecia intimidar alguns ali, apenas por sua presença.
-Então...qual é a da vez?--perguntou Gifiok tirando a refeição da bandeja prateada que ele tinha em mãos, pondo a carne e as bebidas na mesa.
-Vamos caçar uma criatura chamada O Corvo, ele está rondando pela Floresta Nebulosa.--respondeu Chase já pegando uma das canecas para se servir da cerveja não alcoolizada, e bendo-a.--fala sério, sem álcool?
-Mas...como ele é, esse bicho?--perguntou Recky.
Nessa hora, Farenthor tirou dos bolsos e desenrolou uma velha folha de papel com um retrato desenhado da suposta aparência da criatura, nela , estava desenhada apenas o busto do Corvo, era uma figura encapuzada que portava uma máscara onde a parte dos olhos era bem arredondada e possuía um bico, muito semelhante as máscaras que os médicos usaram durante a Peste Negra.
Ao ver o retrato, Recky se arrepiou, chegou quase a ter calafrios, mesmo sabendo que podia enfrentar monstros agora, seu medo ao ver o retrato aumentou, nem o grifo o assustara tanto.
-É ele!É ele!--exclamou um velho senhor se aproximando do grupo e apontando para o desenho, ele olhava para a folha, apavorado, a angústia do medo fora estampada em seu rosto.
-Ele?como assim?nos explique.--disse Lizen, em quanto a taverna se silenciara e todos os olhos dali fixaram-se no velho senhor.
-Esta coisa levou minha criação de porcos três noites atrás, faz um barulho terrível, o som da morte a cada passo dado, não deixou nem rastro dos corpos dos meus animais, não se deixem enganar pois essa coisa vagueia pelos bosques como uma pessoa comum! não se enganem! não se enganem!--continuava a exclamar o velho senhor, agora trêmulo e, sem dizer mais nada ele se afastou e saindo do estabelecimento, deixando Recky ainda mais receoso ao monstro que teria combater.
O silêncio na taverna se manteve por alguns minutos, no máximo eram ouvidos murmúrios e cochichos, tanto sobre a criatura quanto do grupo que estava indo para uma caçada deste tipo, ainda mais na Floresta Nebulosa, um lugar temido pelos moradores locais.
O único que não demonstrou quase preocupação nenhuma era Nózitus, que nem sequer se preocupava com o que o velho senhor havia falado, ele apenas comia e bebia aos montes em total satisfação a cada bocado dado nas costelas de urso, Licci ainda se mantinha calada e séria, Nelfi conversava com Farenthor sobre O Corvo, já Lizen, Chase e Recky se entreolhavam seriamente, até que Recky perdeu sua atenção ao começar a olhar para Licci, ele a olhava de um jeito tão sereno e tão perdido que fez com que Chase e Lizen abrissem um sorriso que tiveram que os forçou a desviarem o olhar, Recky percebeu e também riu com seus dois amigos, isso o distraía um pouco de seu medo pela situação sombria que se aproximava.
Após a refeição, Farenthor usou um pouco do dinheiro da recompensa pelo grifo para pagar a comida na qual eles se serviram, após isso o grupo se retirou da taverna de Gifiok e agora iam caminhando lado lado com suas armas embainhadas, ao saírem, as estrelas já brilhavam no céu, a noite em Thungarden sempre era belíssima, com inúmeras constelações e brilhantes estrelas, isso encantava Recky, pois o fazia lembrar da imensidão de cada coisa, uma imensidão única que vive dentro de cada pessoa, cada um, com seu próprio universo dentro de si, éramos mundos fantásticos habitando na solidez de uma realidade.
Minutos depois, o grupo pôs os pés na portaria da Chifre de Unicórnio, a pousada na qual iriam passar a noite, era uma hospedaria bem espaçosa, simples, porém bonita, possuía dois andares com uma madeira esverdeada e envelhecida mas era bem firme, o quarto no qual os caçadores iriam ficar era no andar de cima com exatas sete camas, uma para cada um.
Ao chegar no cômodo, cada um foi para uma cama, trocando de roupa e deixando suas armas de lado, exceto Farenthor, que nunca baixava a guarda, nem mesmo ao dormir.Todos escovaram os dentes no banheiro do quarto, e logo se aconchegaram, prontos para dormir, Farenthor antes do repouso daquele dia, fez um pronunciamento.
-Como já devem imaginar, partiremos no amanhecer, estejam preparados, o foco será essencial.
Não houve objeção ou alguma outra fala, todos apenas se deitaram e Recky ao por seu corpo sob a macia cama, começou a reparar mais no quarto, com um dos braços debaixo de sua cabeça, deitado de peito para cima, olhou para o teto e para as janelas que estavam de frente para ele, era uma janela única porém grande, também era fosca, podendo se enxergar apenas alguns borrões de luzes das casas ou das pequenas lamparinas penduradas nos curtos postes que haviam nas ruas.
Algumas horas se passaram, todos estavam dormindo, porém, Recky se encontrou ainda mais preocupado, a cada minuto que pensava no dia de amanhã, tinha mais medo da criatura, lembrar do pavor destacado na face do velho senhor da taverna piorava a situação, Recky sentiu gelar sua barriga, quando o retrato da criatura veio em mente, sua mão ficou trêmula, o garoto então se sentou na ponta da cama, apertando fortemente uma das mãos na que estava tremendo, ele a fechou formando um punho, um punho que ao invés de força, continha temor, Recky nem tinha ficado frente a frente com o monstro mas a aflição do jovem garoto quase fazia parecer com que O Corvo estivesse ali, junto a ele no quarto.
-Nervoso para amanhã?--disse Nelfi, que estava sentada de braços cruzados.
Recky levou um susto ao ouvir a voz da garota.
-É...acho que sim.
-Não se preocupa, você vai ter a gente perto de você.--disse Nelfi sentando a seu lado.--não posso garantir que você está totalmente seguro mas, você ficará protegido, tenha confiança.
-Espero que sim...você não tem medo?não das criaturas mas...de que alguém morra por sua causa?eu...eu tenho esse medo o tempo todo, mesmo após o treino com Farenthor eu ainda me pego com falta de esperança em mim...a ideia de alguém morrer por conta da minha falta de experiência me perturba muito.--disse Recky olhando para baixo.
-Sempre temos receio, é algo normal, mas o medo deve ser combatido porque se ele tomar conta de sua mente, ele é quem será a realidade, a coragem nem sempre virá mas os que fazem questão de lutar por ela, acabam ficando mais fortes e isso...diminui o medo...certo?--disse Nelfi, suas palavras tão simples porém ditas de forma tão suave, faziam com que Recky se acalmasse, até mesmo sua mão abandonara o nervosismo.
-Obrigado...Nelfi...de verdade...você sabe me dizer o motivo da Licci estar tão calada?--disse Recky agora olhando para a cama na qual a arqueira dormia.
-Olha, na verdade não...ela não tem falado muito desde a tarde com o grifo.--respondeu Nelfi tranquilamente.
-Entendo...-disse Recky.
-Deve ser dureza gostar dela.--disse Nelfi.
-A nem vem, até você?!--Recky acabou falando alto e corando suas bochecas.
-shhhhh eles não podem acordar, e não é difícil perceber que você gosta dela.--disse Nelfi segurando o riso.
-Eu não gosto dela, quer dizer, gosto mas eu não sei se gosto mas talvez eu goste, entendeu?--disse Recky se atrapalhando e corando ainda mais ao falar.
-Entendi.--disse Nelfi abrindo um sorriso, como se estivesse feliz pelo amigo.--melhor dormimos, o dia vai ser complicado amanhã.
-Certo, então...boa noite.
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A caçada (obra ainda não finalizada)
FantasyRecky é um jovem de 16 anos que tem sonhado com fragmentos de uma batalha na qual ele e outras pessoas estão envolvidos, os sonhos vão ganhando mais frequência e as dúvidas de Recky aumentam quando um dos garotos de seus devaneios aparece em sua jan...