chapter four: oh, no

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Billie Eilish P.O.V.

  Depois do episódio antecedente, que me deixou de cabelos em pé (por um motivo, ou outro rs), acabei seguindo minha sina e entrando na sala de aula, para assistir a primeira aula da minha vida numa escola. As pessoas começaram a me encarar, cochichar e apontar quando entrei pela porta... fiquei surpresa com a sensibilidade e discrição deles, quase nem deu pra ver que falavam sobre mim kk (rindo de nervoso).

  Me encaixei na carteira mais próxima, ajeitando minhas coisas organizadamente encima da mesma. Em seguida, posicionei meu tronco no encosto da cadeira em um ângulo de 90° para não prejudicar a coluna, entrelacei minhas mãos acima da superfície lisa da carteira, e esperei o professor chegar. Quando olho pro lado, Bianca, que havia se sentado na fileira à esquerda da minha, estava a rir ALTO de mim.

  -- Menina, se toca! Dá pra você fingir que é uma boa amiga, pelo menos? -- revirei meus olhos.

  -- DESCULPA AÍ, MANA BILLS AHAHAHA. VOCÊ TÁ HILÁRIA SENTADINHA DESSE JEITO, ENQUANTO SOA FRIO AHAHAHA. É difícil te ver assim... você costuma ser tão livre, independente, irreverente e segura de si.

  -- Tenha dó... estou no meu direito de inquietação. Não parece, mas sou tão insegura quanto aquelas duas princesinhas sentadas no canto da sala, tentando  provar a todo custo para nós, meros mortais, que não existem barreiras que as aflijam... -- digo, meio que indicando com o olhar o lugar que as duas meninas (que até então eu nunca tinha as visto) se encontravam, fingindo uma plenitude quase surreal.

  -- Como assim? Você tá falando da Emilly Fish e da Sophia Young? As duas se odeiam...

  -- Se odeiam, mas sentam tão perto uma da outra!  A loira não precisa usar aquele aplique pesado dela no cabelo, com esse calor que está fazendo...  mas, ainda assim, o usa, porque é insegura em relação às suas orelhas, e é melhor todo esse volume na cabeça, do que deixar que os outros as vejam. Já a morena, não precisa ficar acordada até tarde fazendo as unhas, porque ficou se dedicando aos clubes da escola o dia todo, e não teve tempo... Ela acha que alguém aqui liga pras cutículas dela, e prefere a morte à correr o risco de que as pessoas a julguem pelas unhas por fazer. É essa guerra interminável pra provar uma pra outra, pra gente, pra elas mesmas, que elas conseguem ser inteligentes, dedicadas, e ainda ter tempo de estarem intactas fisicamente. Mas, claro, a gente já sabe, nesse século XXI, diante de tantos estudos psicológicos e sociais, que essa perfeição é forjada. A psicanálise diz que o interior dessas coitadas deve ser o caos... espero que eu não esteja julgando demais.

  — CARACA MINA, faz uma hora que cê tá aqui, e já sabe mais do que eu. É bem isso mesmo a situação dessas duas. Só não estava esperando essa análise crítica toda da situação... parece que alguém vai se dar bem nas matérias de humanas, hein? — Bianca diz, e eu rio. Não sei lidar com os elogios... é como se meu interior não os aceitasse, por simplesmente acreditar que não sou merecedora deles. Nunca. Em qualquer hipótese. Então só rio.

As aulas passam, e eu me sinto uma criança indo à praia pela primeira vez... desbravando algo antes nunca visto, não sei se maravilhada ou assustada, mas, ainda assim, curiosa e surpresa. Não consigo deixar de me surpreender com a escola, mas, claro, nem todas as surpresas são boas.

Quando saio da aula de história mundial, porque estava na minha hora de ir almoçar no refeitório, um homem, por volta de seus 50 anos de idade, me aborda ainda na porta da sala e eu levo um micro susto:

  — Senhorita Eilish O'Connell, espere!!! — escuto e viro o rosto para responder o homem...

  — Oh, espero sim. O que é? — questiono.

  — Muito prazer, senhorita. Eu sou o diretor dessa escola, me chamo Edward Paulson — ele se apresenta, enquanto me cumprimenta com um aperto de mão frenético e ansioso. Pela respiração rara e a fala rápida, eu diria que ele está nervoso, se não fosse o diretor...

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