aftertaste

chapter two: teenage cliché

— EU NÃO QUERO MAIS, ME TIRA DAQUI, BIANCAAAAAAA!!!!

  — Credo, garota! Vamos acalmar aí o coração?! E sem berrar! Quer ser o centro das atenções, por acaso?! — Bia responde, perdendo a paciência, enquanto me puxava às forças de volta para o corredor principal.

  — N-não, longe de mim, Bianquita. É só que... TEM MUITA GENTE. E, principalmente, NINGUÉM DESSA GENTE SE PARECE COMIGO. Meu Deus, eu estava vivendo em uma realidade paralela e não sabia?! Desde quando maquiagem pesada e sapatos de plástico pink estão na moda?! — eu dizia, prestando atenção em cada detalhe, em cada pessoa ao meu redor naquele corredor, horrorizada.

  — É claro que ninguém se parece com você, Eilish! Você não tinha contato com essa parcela da sociedade. E ainda bem! Seu estilo é único, e você o desenvolveu sozinha, sem sofrer influência da mídia ou coerção social. Mas... não sei se felizmente ou infelizmente, bem vinda a esse meu mundo, onde só o que importa é a aparência que eles mesmos ditam.

Eu havia apenas começado a digerir as palavras de Bianca quando, de repente, senti uma dor muito forte em meu ombro num instante e, no outro, já estava caída no chão, desnorteada...

— AI! — parecia que um mamute tinha trombado comigo, pela dor que eu estava sentindo...

— Porra, hein — ouvi essas palavras e olhei pra cima com dificuldade. Não era um mamute, mas sim uma coisa muito pior...

— Jesus Cristo. É UM CLICHÊ ADOLESCENTE.

— O quê??? — o clichê adolescente parado a minha frente diz, confuso e arqueando uma sobrancelha, enquanto me estendia a mão para levantar. E adivinhem? Ele estava com a jaqueta de atleta da escola, e por suas costas largas, eu diria que ele pertence ao time de natação... e isso significava somente uma coisa... óbvio.

— N-nada não, Shawn... Ela não sabe o que diz. É o primeiro dia dela aqui, está em parafusos... dê um desconto, sim? — diz Bianca a ele, me repreendendo com o olhar, enquanto o tal do Shawn me ajudava a levantar.

— Ah, saquei... — ele nos olhava como se fôssemos marcianas. Um silêncio constrangedor surgiu entre nós, porque eu estava ocupada demais massageando meu ombro, lidando com tamanha dor, e retomando meus sentidos. Então, o garoto finalmente o corta, continuando...  — ... Bom, eu já vou indo então... porque tô meio atrasado pra aula. Assim, eu nem vou me desculpar, porque você tinha que prestar mais atenção por onde anda... meus ombros são bem mais valiosos que os seus, sabia? Acho que você está exagerando um pouco com esse teatro, quem vê pensa que está doendo muito. O meu ombro também doeu, e nem por isso estou me fazendo de coitadinho.

— O QUÊ?! — já disse alterada, querendo meter a mão na cara daquele moleque arrogante —  ESCUTA AQUI, SEU CLICHÊZINHO! Eu nem te conheço, mas já sei que não vale nada! Vê se presta mais atenção VOCÊ, filhote de Calvin Klein! Parece que uma manada INTEIRA passou pelo meu ombro por SUA CULPA, e EU é que tenho que tomar mais cuidado?!

— TCHAU, SHAWN, ATÉ MAIS — disse Bianca, furiosa, me puxando à força (novamente) em direção a sala de aula. Ela me interrompeu, assim, impedindo que eu voasse no pescoço dele, e acabando com toda a graça.

Ele ficou lá, parado, com uma cara de tonto, olhando para nós enquanto nos afastávamos. NOSSA, MAL O CONHEÇO E JÁ NÃO GOSTO... então, numa fração de segundo, consegui me ver livre dos braços de Bianca, depois de tanto me debater, virando para trás novamente, e gritando:

— SE PREPARA, GAROTO! NÃO AGUENTA NEM DOIS MINUTOS DE PANCADARIA COMIGO, SEU METIDO!!! E ABAIXA A BOLINHA AÍ!!! DA PRÓXIMA VEZ QUE NOS ENCONTRARMOS, VÊ SE ARRANJA HUMILDADE — berrei mesmo, no meio do corredor e bem plena, o que fez com que todos ali me olhassem.

Em seguida, me veio uma cena que não esperava... NÃO É QUE O DESGRAÇADO ZOMBOU DE MIM?!

Primeiro sorriu. Debochadíssimo...

E depois me deu uma piscada de olho, virando, e começando a andar para o sentido oposto ao qual eu e Bianca estávamos indo.

Eu estava P E R P L E X A.

Ai dele se vier dar uma de arrogante pra cima de mim de novo, que eu vou mostrar pra ele, bem certinho, com quantas Billie Eilishes se acabam com ombrinhos de patetas com complexo de superioridade.