Reeducando o coração

Um novo dia

Curioso com o que acabei de ouvir, repensei se deveria mesmo tocar nesse assunto, decidi, por fim, que sim.

-Boa noite, Hyuk. Desejei, encostando-me ao batente da porta. Hyukjae, que antes estava olhando para o quadro de Sora, passou a me fitar e acenou com a cabeça. -Donghae está dormindo no sofá...Por quê?

-Como eu posso saber? Acho que ele estava cansado demais. Deu de ombros, percebi também, que estava coçando a nuca a todo momento, visivelmente nervoso.

-Aonde vocês foram?

-Parque. Disse indo diretamente ao banheiro, mas no meio do caminho, parou. Parecia estar pensando em algo, por fim, virou-se para mim novamente. E por sua expressão nada boa, percebi que o que iria me contar também não era algo bom.

-Eu sei que mexeu nas minhas coisas. Apontou para sua estante de livros. Onde, dias antes, eu encontrei os livros de libras. -Sei que deve estar fazendo mil teorias também, sobre mim. E... Agora o moreno fitava o chão. Dentro de tanto tempo acho que é a primeira vez que ele está sendo totalmente sincero comigo. -Eu encontrei com o padrasto do Donghae. Disse, sério.

-Como? Desencostei do batente da porta caminhando para dentro do quarto. -Você queria tanto assim que Donghae fosse embora? Caralho, Hyukjae! Eu achei que você estava tomando jeito! Que estava aprendendo libras para ajudar ele, mas você só quer que ele vá embora!

-Cala a boca! Disse, passando as mãos no rosto, andando de um lado para o outro. Claramente atordoado. -Ele se chama Aiden. Sussurrou, entre as mãos que tampavam seu rosto. -Donghae, Aiden, sei lá, ele não quis ir, e saiu correndo, o cara quer que Donghae volte a morar com ele a qualquer custo.

Tentei encaixar as peças do quebra cabeça, com tudo o que Hyukjae dizia, mas não estava entendendo nada. Se Hyukjae achou o cara, porque não deixou ele levar Donghae?

-Sai do meu quarto. Hyukjae disse, abrindo as gavetas, procurando por algo, percebi que era por cigarros.

-Porque não deixou Donghae ir? Não era o que você tanto queria? Me aproximei, fazendo o contrário do que ele havia me pedido. -Você nunca gostou dele, e até hoje, não sei para onde o levou, meses atrás. Se queria se livrar dele, porquê não o deixou ir hoje?

-Não te devo explicações, Heechul! Sai logo daqui!

-Gosta dele. Afirmei, surpreso. -Você gosta do Donghae. É por isso que não pode deixá-lo ir?

-Eu levei ele para sair, naquele dia. Você não estava e Donghae estava chorando muito. Algo o atormenta todas as noites...Minhas sobrancelhas ergueram-se em surpresa. Ele estava mesmo contando tudo ao invés de me mandar embora de novo?! -Ele queria um doce, e...Parecia uma criança...Fomos ao parque e enquanto ele comia, duas garotas estavam fazendo charme pra ele. E ele, tão idiota, só tinha olhos para o doce que estava comendo. E, ele é como Sora. E como eu posso odiar alguém como ele? Ele tem o maldito jeito de Sora, repele os meus maus sentimentos. Eu estudei libras porque estava curioso sobre ele, queria perguntar mais, saber mais. Na boa, ‘sua risada soou divertida’, como ele pode ter vinte anos com esse jeito infantil? Como ele pode saber tanto? E como ele pode ser tão perfeito tendo uma vida tão imperfeita? Só eu tenho uma vida cagada e sou cagado?

Apesar de sentir meu rosto molhado, não consegui conter um riso, com a última frase. Me emocionei, não só pelas palavras, mas porque eu via o Hyukjae ali de novo, meu verdadeiro amigo Hyukjae, transparente, em suas palavras e emoções.

-Não, Heechul. Eu não quero que ele vá. Se ele for...Eu sinto que vou ficar no escuro de novo. Socou levemente o lençol da cama e percebi que estava sendo difícil para ele digerir o que estava dizendo. -Eu preciso de um tempo. Disse sem se virar para mim. E antes de sair, me aproximei, bagunçando seus fios levemente, deixei um selar em seus cabelos e minha voz soou bem baixa quando eu lhe disse as últimas palavras antes de sair do quarto. “Eu sabia que voltaria. Bem vindo de volta.”