Eu não sabia o que ele tinha ido fazer depois de parar de bater na minha porta, mas certamente foi um alívio para o meu coração. Suas perguntas, seus toques e seus olhares eram como uma violência contra todos os meses que eu suportei aquela paixão. Uma pressão para a qual eu não estava preparado e que veio como uma tsunami para cima de mim.
Entretanto, ser apaixonado por ele tinha seus momentos bons, como quando eu ficava maravilhado com a forma do seu corpo na luz do sol ou com suas caras e bocas espontâneas: um susto ou algo que o alegrou subitamente; quando eu chegava em casa e o encontrava dormindo em todo tipo de lugar, no tapete da sala, em uma cadeira na varanda, até inclinado sobre o balcão da cozinha. As risadas que ele me fazia dar eram mais felizes do que as vindas de qualquer outra pessoa. Nossas conversas tarde da noite tiravam todo o meu sono, mas eu não me importava de ficar cansado se fosse para passar mais tempo com ele. Eu gostava de sair cantando pela casa e o perceber parando perto de mim — fingindo fazer qualquer outra coisa — apenas para ouvir minha voz. Às vezes, quando eu estava estressado demais e Jungkook reparava nisso, ele tocava violão para mim até que eu relaxasse, mesmo que ele negasse até a morte que tinha câimbra nos dedos somente para me animar. Era muito bom quando nós dois preparávamos o jantar juntos e jogávamos pedra, papel e tesoura para decidir quem lavava a louça, mas no fim, um acabava ajudando o outro não importava quem perdesse. Ser amigo dele era uma das poucas alegrias da minha vida. Eu não podia estragar aquilo. Nunca.
Ainda sentado no chão, quando as lágrimas secaram, eu estava acompanhando uma mosca com o olhar. Eu sei, muito dramático. Fazia alguns meses que eu estava apaixonado por ele e tinha gente que ficava anos sem estar junto de quem amava, mas... doía do mesmo jeito. Eu me perguntava como ele nunca havia reparado nada antes de hoje. Eu fingia bem ou era ele quem fingia não ver? Ah, nem importava mais. Agora eu estava entre a cruz e a espada. Ele definitivamente não me deixaria em paz até saber a verdade — ou pelo menos, achar que sabia a verdade. Eu podia muito bem inventar algo, mas nada vinha na minha cabeça. Por enquanto iria apenas fugir dele. Por quanto tempo? Não fazia ideia. Ainda estava muito recente para eu conseguir raciocinar direito sobre o quanto a ideia de fugir da pessoa que morava no mesmo apartamento que eu era estúpida.
Quando meu despertador mostrou que era bem perto de seis da manhã, eu ainda estava sendo dramático. Ainda bem que era sábado e eu não precisaria sair para estudar ou trabalhar. Porém, contudo, infelizmente, precisava sair do meu quarto. Minha última refeição decente foi o café da manhã no dia anterior, e meu estômago já estava quase criando cordas vocais para me dizer que eu era louco de ter ficado todo aquele tempo sem comer. Mas o que eu podia fazer? Estava concentrado na faculdade e quando eu ficava concentrado não sentia fome. Eu pretendia comer quando chegasse em casa, entretanto fui surpreendido pelos gemidos do Jungkook e minhas paranoias me tiraram o apetite. Então eu estava há — levantei os dedos para contar — vinte e duas horas sem comer nada além de uma barra de chocolate.
Aquilo era horrível. Como eu ainda tinha energia o suficiente para fazer drama? Eu precisava arriscar ir até a cozinha e pegar, ao menos, uma vitamina de frutas e pão. Bem, era do outro lado do apartamento, não do outro lado da cidade; não podia ser uma tarefa tão difícil chegar lá despercebido, ainda que da última vez não tivesse dado certo.
Destranquei a porta devagar e abri uma brecha para olhar para fora. O apartamento estava em um quase breu e apenas a claridade do amanhecer entrava pelas janelas. Jungkook não estava à vista então eu sai do quarto. A porta dele se encontrava fechada e ele devia estar lá dentro, se sentindo um lixo. Se eu não sabia lidar com meus sentimentos ruins, como diabos iria lidar com os dele? Eu precisava dar um jeito de consertar aquilo, e logo. Ele definitivamente não merecia sofrer por um mal-entendido, ou melhor, mal-explicado. Cortava meu coração saber que eu machucava o homem por quem estava apaixonado.
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incontrolavelmente ; jikook
Fanfiction[CONCLUÍDA] Mais uma vez, Park Jimin acorda no meio da noite depois de um sonho molhado com Jeon Jungkook, seu amigo e colega de apartamento, e precisa se entupir de chocolate para fazer aquela frustração passar. O problema: ele acha que Jungkook ai...