Seus grampos sumiram um pouco no último verão. Ela também tirou o aparelho, pinta as unhas e não usa mais as mesmas calças de camurça.
Eu soube que seus gatos foram para uma fazenda, por isso ela não tem cheiro de ração. O cheiro de inseticida também se foi, agora é só shampoo, creme para as mãos e cigarro.
Ela parece um pouco mais obscura e menos estranha, com aqueles piercings e cabelo penteado.
As vezes acho que ela fez tudo isso para me afastar, para frequentar outros lugares e sair com outras pessoas e andar de mãos dadas com caras que se parecem muito com ela, assim como as garotas.
Ela mudou-se. De endereço, telefone e corpo. Essa não parece ela, não é a mesma garota, não é a mesma pessoa. Mas eu ainda a sigo no caminho para casa e sempre procuro por grampos sobressalentes. Ela ainda anda do mesmo jeito e ainda gosta de futebol e de meias altas.
Talvez por isso eu ainda sinta aquela coisa (que não é amor) por ela, aquele sentimento gigante que parece alimentar-se de mim.
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INSETICIDA
Short Story"O que sinto por ela é forte, como seu cheiro de lasanha aos sábados. É como amar a tudo, unir todo esse amor, embalar e dar à ela. Se amor for desse jeito, grande e imenso, então talvez eu a ame..."