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Ela tinha cheiro de inseticida e ração para gatos. Seu cabelo estava sempre despenteado, mesmo com todos os grampos para segurar as pontas soltas. Talvez eles não estivessem ali para prender o cabelo, talvez o cabelo fosse quem os prendesse afinal.

Ela era lenta, apesar de gostar de futebol. Ela sabia os nomes dos jogadores de times estranhos e escolhia seus preferidos com base em questões que jamais importariam num jogo. Era sempre a meia mais alta, ou o modo como corria. Mesmo assim ela entendia de jogo, ah, e como entendia.

Sempre me senti pequeno perto de toda a sua estranheza. Ela era diferente das outras garotas, apesar das outras garotas serem sempre diferentes umas das outras.

Ora, não é sempre assim com garotas? Elas são diferentes e, ao mesmo tempo, tirando o modo como prendem o cabelo, a cor do aparelho nos dentes e a cara toda, são iguais.

Mas não com ela. Não, não tinha como ela ser igual a ninguém, mesmo eu não sabendo o que a tornava diferente.

INSETICIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora