seis

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Eu já estava com um pé na faculdade, mas ela havia parado de frequentar a escola. Talvez seus novos amigos ocupassem tempo demais, talvez as tatuagens de mentira precisassem ser refeitas, talvez ela só estivesse chateada com todo o mundo e pensasse que não precisa dele.

A encontrei na lanchonete, era uma manhã nublada, como em filmes de terror, ela trabalhava lá e ficava bonita com os olhos marcados e o chapel em forma de hambúrguer.

Seu cheiro é de óleo e fumaça, seus cabelos estavam como antes, nada de vermelho, nada de penteados e cortes, só os grampos e as pontas soltas. Ela parecia melhor, mais fácil de amar do que nas outras versões – não que eu a ame.

Eu pedi fritas e ela me trouxe pão na chapa, eu pedi suco e ela me trouxe café e leite. Ela seguia suas próprias regras, como sempre, mas não deixava ninguém seguir regras próprias.

Estava feliz por encontrá-la e falar com ela, mesmo que tudo fosse sobre o que eu queria comer e o que ela me traria.

Ela me agradeceu pela gorjeta e recontou o troco. Precisei entregar tudo outra vez e dizer que tudo fazia parte da gorjeta. Mesmo assim, ela sorriu e enfiou o dinheiro em meu bolso como se eu precisasse mais do que ela.

Bem, talvez ela estivesse com a razão. Talvez não em relação ao dinheiro, mas, de algo ainda maior, eu precisava.

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