sete

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Agora, já temos filhos e netos e coisas que não entram em nossas cabeças, coisas das quais não conseguimos lembrar e outras que não há como esquecer.

Ela tem cheiro de folhas e sabonete. Seus cabelos ainda se agarram aos grampos, como na primeira vez em que a vi. Ela ainda gosta de meias altas e de futebol e ainda parece bem confusa em relação às outras garotas.

Ela é um pouco mais rápida que eu em tudo, e ainda sabe os nomes dos jogadores de times desconhecidos.

Já não sei mais o que é o amor, se é sorvete ou pão na chapa, se é chá ou café, se são grampos ou fios de cabelo... Ele pode ser qualquer coisa.

Mas não é nada comparado ao que sinto por ela. Ela sempre diz que me ama, quando vamos deitar ou quando eu acordo depois dela. Eu nunca digo que a amo, pois não há como amá-la.

Eu amo meu pai e amo minha mãe, que descansam em paz em algum lugar, e amo o Charlie, que se mandou com uma jovem senhorita. Amo a vovó (que talvez já nem descanse), e amo o Bacon, nosso gato, amo minha irmã mais nova e ainda amo fritas com milk-shake.

Não há como ela entrar numa lista dessas, o que sinto por ela é diferente de amor e diferente de paixão e diferente de dividir um sorvete.

O que sinto por ela é forte, como seu cheiro de lasanha aos sábados. É como amar a tudo, unir todo esse amor, embalar e dar à ela. Se amor for desse jeito, grande e imenso, então talvez eu a ame muito mais do que já amei, ou amarei, qualquer coisa em toda essa minha curta e confusa vida, marcado por seu velho e ainda desconfortável cheiro de inseticida.

-'××°• fim •°××'-

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