21. O Sorteio

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Max. Quando conheci o Max eu não fazia ideia de quem ele poderia ser. Só achei ridículo aquele monte de tatuagens praticamente iguais, mas ele não me explicou o motivo que ele as escolheu logo no início da nossa a amizade.

Max era divertido, de um jeito bobo, mas divertido. Saímos juntos diversas vezes. E em uma dessas vezes ele buscou em meu apartamento com sua moto, me levando para sua casa.

Tinha um leve cheiro de mofo. As luzes do andar de cima estavam apagadas, e o rádio estava ligado em uma estação antiga.

— É o meu pai. — Max tinha dito. — Ele meio que gosta do escuro. Eu meio que prefiro a luz. Então, posso pedir uma pizza? — Perguntou ele, com aquele seu olhar brincalhão rotineiro.

Depois de ligar para a pizzaria Max subiu a escada apressado. Escutei vozes um pouco alteradas. Max tentava convencer o pai a descer, dizia algo como: Você tem que superar.

Olhei para a estante vazia, estava empoeirada, e em cima dela tinha uma TV antiga, que eu acredito estar fora de uso. Nenhuma fotografia. As paredes da casa estavam descascadas, precisando urgentemente de uma pintura, mas parecia que os moradores da casa não se importavam muito com a situação decadente do seu lar. Era quase que triste. Sombrio.

Então Max apontou na escada, dava apoio para que o senhor de idade a descesse. Lentamente ele dava cada passo, e murmurava durante o processo. Max era paciente. Parecia estar acostumado com o jeito resmungão do pai. Então o senhor levantou seu olhar cansado, o reconheci de imediato. Ele é o viúvo da agente Paula, e Max, bem Max só poderia ser o filho deles. O filho foragido deles.

Não pode ser, pensei. Mas era. Me lembrei da foto dele ainda adolescente que estava junto com os arquivos que tratavam do caso do orfanato. É claro, que na foto seu rosto estava cheio de espinhas, e o seu cabelo estava na cor natural, preto. Mas sem dúvida era ele.

Senti um aperto no peito. Eu gostava dele. Eu gostava do Max. Ele era uma boa companhia e parecia ser um ótimo amigo. Como eu poderia entregá-lo assim, dessa maneira para as Forças Especiais sem nenhum dos dois sairmos machucado?

Mas eles não estão procurando por ele, eles nem sabe que ele voltou para a cidade, pensei. Eu posso guardar esse segredo comigo, não estaria prejudicando ninguém, e muito menos o processo de investigação do caso Brian Cobb.

Então na cozinha de sua casa, enquanto lavávamos os pratos, ele sussurrou seu segredo para mim:

— Sei que meu pai parece fora de si, mas ele já foi um homem bem ativo. — Não o encarei, já sabendo quem era o pai de Max. — Se eu te contar um segredo, você promete não contar para ninguém? — Assenti, minhas mãos estavam trêmulas. Eu não fazia ideia quanto tempo eu conseguiria guardar essa promessa. Meu pai estava me pressionando por eu estar no café há tanto tempo e não ter feito nenhum progresso. — Você tem que prometer, Diana. Em alto e bom som.

— Tudo bem, Max. Eu prometo.

— Meu pai é um ex-policial. O nome dele é Daniel, e ele foi marido da agente Paula. Você já ouviu falar da história do orfanato Três Corações? — Assenti. Então ele me contou toda a sua história, mesmo não confiando totalmente em mim, e foi naquele dia que eu contei do segredo dos meus poderes para ele. Nada além disso.

Agatha. John. Max. Todos reunidos em um só lugar. Coincidência? Sempre desconfiei que não, mas naquela época eu nem fazia ideia da existência de André.

Eu não respondia mais com tanta frequência as chamadas do meu pai. Ele me fazia ameaças, dizia que iria me afastar do caso, eu sempre lhe fazia promessas, dizendo que em breve eu lhe entregaria novidades. Eu tinha duas. Agatha e Max. Mas não estava preparada para entregá-los, não ainda.

(Completa) Sopro Congelante (Todos os passados)Onde histórias criam vida. Descubra agora