Que seja eterno enquanto dure

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— Tantos séculos Victor, tan-tantos séculos… _ e mais uma onda de soluços interrompeu o vampiro _ E-eu pensei que nunca mais ele fosse me chamar assim _ e novamente soluços.

Victor ainda tentava digerir aquele informação.

Como assim pai? Ele é filho de Yuuri? Filho tipo FILHO? Do tipo feito pelo vampiro? Feito do jeito que se faz bebês? Mas é claro Victor, só a um jeito de fazer bebês! _ ralhou, respondendo a própria pergunta em pensamento.

Depois de muitos soluços e lágrimas o vampiro finalmente se acalmou, levantou o rosto choroso e vermelho ainda molhado pelas lágrimas e encarou Victor nos olhos.

— Bem antes da minha ida a Rússia, eu andava viajando o mundo conhecendo tudo quanto me era possível, eu vivia como um nômade solitário vagando por todos os lugares sem me estabelecer em nenhum, eu tinha acabado de recusar uma oferta do conselho para fazer parte do congresso, eu não queria perder minha liberdade _ vira e mexe o vampiro fungava aqui limpava algumas lágrimas que ainda escorriam ali mas sem interromper o relato _ Então eu aproveitei para viajar para um lugar bem longe do conselho afirmando de uma vez por todas minha negativa e ignorando seus apelos, foi quando eu fui parar no Cazaquistão, a cultura era bem diferente do que eu tinha visto, era um país de sol e desertos mas rico em tantas outras áreas, as cidades maiores eram os centros dos enormes comércios onde a riqueza da nobreza era ostentada, mas em outros pontos era deveras diferente, eu por acidente acabei descobrindo as favelas tão diferentes dos centros ricos em fartura, era um lugar tão pobre e precário. Na minha exploração eu acabei conhecendo um garoto, uma criança ainda,o jovenzinho tentou roubar meu saco com moedas de ouro acredita?

— Esse era Otabek?

— Exatamente _ Victor sorriu imaginando o vampiro alto e tão bem controlado e educado como um pirralho batedor de carteira tentando roubar um vampiro com séculos como Yuuri.

— Mas se Otabek é um vampiro como ele estava andando durante o dia? Supondo que isso ocorreu durante o dia.

— Era dia sim, eu me lembro muito bem, o sol de lá foi o pior que eu já encontrei _ ele olhou para nenhum ponto específico perdido na nostalgia das lembranças _ Mas quando somos crianças somos muito parecidos com humanos sabia, não temos a necessidade mortífera pelo sangue, ainda, nem todo o poder e o sol não nos afeta, é como se fosse um prévia, dando um pequeno gosto do sol e do dia antes de nos trancafiar por séculos na escuridão, mostrando o que poderemos ter de volta se sobrevivermos tempo o suficiente para ter a dádiva de caminhar sobre o sol novamente _ Yuuri falava com certo amargor na voz, dessa vez olhando para o azul dos olhos de Victor _ Quando um vampiro chega na idade madura que ocorre entre os vinte aos trinta anos ele passa pelo despertar e se torna um verdadeiro vampiro com todos os poderes a sede e as restrições, Otabek ainda era uma criança e podia sair no sol livremente, esse não era o caso da sua mãe.

Yuuri levantou dessa vez mirando o sol da manhã lá fora, os braços cruzados e a postura rígida o olhar perdido em lembranças que não parecia serem boas.

— O pai de Otabek era humano companheiro de alma da mãe, ele havia feito o laço mas nem isso tinha sido o suficiente para impedir que ele perdesse a vida no campo de batalha, aquele reino estava em guerra, lutando com um reino vizinho que queria invadir e conquistar suas terras, o pai de Otabek tinha sido convocado poucos anos atrás e nunca retornou. A mãe dele era um filhote de morcego praticamente, só tinha um pouco mais de cem anos de vida, por isso não podia sair no sol, seu marido trabalhava de dia e cuidava da criança enquanto ela dormia no porão abaixo da casa protegida do sol, depois que o pai foi convocado as coisas mudaram, Otabek passou a roubar para sobreviver de dia enquanto a mãe permanecia impotente escondida debaixo da terra, eu me comovi com a situação deles, passei a frequentar a pequena casa e ajudar na parte financeira, assim como ficar com Otabek durante o dia, assim a mãe dele pode ficar tranquila. Eu pensei realmente que as coisas poderiam dar certo daquele jeito, eu estava pensando em levar os dois comigo para o Japão mas eu precisava fazer os preparativos necessários para protegê-la do sol _ o vampiro tirou sua atenção do sol lá fora e mirou Victor por alguns instantes _ Sabe o que é mais engraçado? Mesmo eu sendo séculos mais velho que ela, ela ainda me tratava como se fosse minha mãe ou irmã mais velha, sempre pensando no próximo e sendo gentil _ seu olhar novamente se perdeu lá fora melancólico e triste _ Às vezes a vida é tão cruel com pessoas tão boas.

O vermelho dos teus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora