QUANDO VOCÊ ME TOCA (EM PAUSA)

ATRAÇÃO FATAL

Olivia prendeu o cabelo num coque alto, displicente, algumas mechas caíam nas laterais do rosto sem maquiagem. Era um penteado prático aquele que ela fazia, usado exclusivamente para não ter o cabelo atrapalhando enquanto lia e decorava o texto para teste.

Por vezes, distraía-se. O vestido de noiva ainda pendurado na porta do armário tirava a sua concentração. Nem ela mesma entendia por que não se livrava logo daquilo.

Era incrível, quase uma piada de mau gosto.

Riu de si mesma. Era no mínimo irônico que sua vida imitasse um roteiro clichê de novela das 9h. O noivo que é flagrado na cama com outra mulher às vésperas do casamento. A mulher que Olivia tinha escolhido para ser sua dama de honra.

E agora estava ali, decorando o texto, ensaiando as falas da própria vida. A personagem era traída pela melhor amiga.

Pelo menos não precisaria se esforçar para chorar, já que era isso que vinha fazendo nos últimos meses.

Estava cansada, era bem verdade. Cansada de ser vítima de uma situação que, na realidade, havia tirado um peso de suas costas e a livrado de cometer o erro mais estúpido de sua vida: casar-se com um homem que não amava.

Não amava Nathan. O que sentia não chegava nem perto disso. Como podia, então, sentir ciúme de um homem pelo qual não era apaixonada?

Talvez fosse apenas sua personalidade. Era intensa demais. Sentia demais, mesmo que não sentisse nada. Contraditória dentro da própria natureza.

Se tivesse prestado atenção, quem sabe notaria algo no comportamento dos dois que os denunciassem. Olhares furtivos, sorrisos que entregassem a intenção.

Mas Olivia vivia no mundo da lua. No mundo dos sonhos. E queria ser atriz.

Estava tão focada na carreira que deixou o relacionamento em segundo plano.

Agora era tarde demais para pensar nisso. Nathan não prestava. Essa era a verdade. Um homem capaz de trai-la daquela maneira jamais seria digno de ser seu marido.

Olivia era romântica. Ou pelo menos costumava ser. Sonhava acordada com um homem que a arrebatasse, virasse o seu mundo de ponta cabeça e a convidasse para viver no dele.

Acontece que o mundo em que ela vivia tinha acabado de ruir. E agora não sabia mais o que queria. 

Olhou para o relógio que marcava quase 19 horas. Estava anoitecendo e ela nem havia começado a se arrumar para a festa que iniciaria em breve. A mãe fazia questão da presença das duas filhas nos incontáveis eventos que realizava. Olivia não os suportava, enquanto a irmã fazia questão de estar ao lado da mãe em cada um deles.

Kathryn era três anos mais nova que Olivia, e se não fosse pelo laço de sangue, ninguém desconfiaria que eram irmãs.

A caçula era teimosa e mandona. Tudo saía como ela determinava, isso desde quando eram crianças. Olivia era calma e sonhadora, cedia às vontades da irmã para manter o bom relacionamento entre elas. Mas, com o passar dos anos, a personalidade de Kate acabou por afastá-las.

Ainda mais quando Olivia decidiu cancelar o casamento com um dos homens mais ricos do país. Aparentemente, a posição social da família era mais importante que a sua própria felicidade.  

A reação dos pais e da irmã caçula foi crucial para a decisão de quebrar o elo com a família Scott. Depois de passar no teste, Olivia finalmente sairia da casa dos pais. Para ela, a felicidade contava muito mais do que os cifrões na conta bancária.

Mas, por enquanto, precisava manter as aparências. Não queria que ninguém desconfiasse dos seus planos. Por isso, respirou fundo e decidiu fazer a vontade da mãe.